"Saco de Pão na Cara" e o desrespeito às mulheres

Imagem ilustrativa.

EDILSON ROCHA | Vejam, meus caros leitores, o texto imediatamente abaixo, que faço questão de reproduzi-lo entre aspas para que não pensem que é de minha autoria:

“Só porque tu é feinha pensa que eu não meto vara Mulher tu tá enganada, mulher tu tá enganada, bebê Vem com o poeta que comigo é sem cutcharra Saco de pão na cara, saco de pão na cara Saco de pão na cara, aí droga”.

Este texto não é nada mais do que a letra de uma música intitulada “Saco de Pão na Cara”, lançada no carnaval baiano deste ano por uma banda chamada “O Poeta” e que, meses depois, foi tocada por uma banda de cima do trio elétrico utilizado no último dia da Festa da Cidade de Xique-Xique, mais precisamente em 16 de junho de 2019.

Deparar-me com homens e mulheres se requebrando diante desse frenético ritmo chamado Pagode da Bahia, que conquistou grande parte do povo baiano, não foi uma visão, ainda que feia aos meus olhos, capaz de me surpreender, até porque já vi até crianças descerem a “bundinha” ao chão, imitando suas próprias mães, sem saberem, entretanto, em face de suas mais puras inocências, dos riscos que podem correr diante dos olhos extremamente maliciosos de determinados adultos.

O ponto bastante negativo que vi em tal música, se é que posso chamar isso de música, é que a letra de “Saco de Pão na Cara” é um desrespeito acima do absurdo às mulheres em geral, incluindo às de Xique-Xique que, talvez por estarem mais concentradas no balanço quase que sexual do excremento pagode, não se ativeram às palavras da música, inquestionavelmente machistas e preconceituosas em relação à parcela das mulheres tidas como feias.

Numa época em que são realizadas centenas e centenas de campanhas governamentais e não-governamentais de proteção aos direitos das mulheres, surge “Saco de Pão na Cara” para dizer, em outras palavras, justamente o contrário, ou seja: "as mulheres feias não merecem respeito e para que homens se relacionem sexualmente com elas, só mesmo com vendas nos rostos delas, de tal forma que eles não se torturem ao vê-las durante o ato.

Embora eu não tenha me preocupado em saber o nome da banda que cantou essa música criminosa, de cima de um trio elétrico, no último dia da Festa da Cidade, sugiro aos responsáveis pela escolha das atrações musicais, para eventos como a Festa da Cidade e o Carnaval, alertarem-nas a não tocar músicas de tão baixo nível, pois as mulheres merecem respeito, ainda que algumas delas não estejam nem aí para recebê-lo.