"Tive que correr antes de acabar como Marielle", diz ativista que atuava na Bahia

Sandra Muñoz é representante da Marcha das Vadias na Bahia (Foto: Reprodução).

Conhecida mundialmente pelo seu ativismo feminista e LGBT, a representante da Marcha das Vadias, Sandra Muñoz, 47 anos, fugiu do país após constantes ameaças contra sua vida. Após 34 anos de ajuda a mulheres e população LGBT em situação de carência, a ativista teve que parar - e não por sua vontade.

A Casa Cristal Lilás, onde ela e sua mãe vivia, abrigou milhares de mulheres em mais de uma década de existência. Quem necessitava, era acolhido imediatamente por elas, que não recebiam apoio de órgãos oficiais e custeavam os auxílios do próprio bolso.

"Os maridos das mulheres que ficavam na minha casa que me ameaçavam. Eu já cheguei a ser espancada com uma mulher que ajudei e era vítima de violência de seu marido. Eram diversas ameaças", disse.

Ela ainda ressaltou enfrentamento com o produtor da banda New Hit, após ela realizar ações para que integrantes do grupo, acusado de estupro, não tocasse em casas de shows da cidade.

O estopim para fugir do país foi a morte da vereadora do Psol do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada no dia 14 de março do ano passado por milicianos no estado fluminense. Sandra se mudou para o Paraguai em outubro de 2018.

"A gente na verdade não é besta, não é binha? Então Marielle foi o ponto de gatilho para que eu saísse correndo, sacou? A morte de Marielle para mim foi o estopim, como se diz. E a gente é mulher preta, né mona? A gente faz as coisas sozinhas, você não tem proteção de ninguém, né?", disse a ativista.

A promotora Márcia Teixeira, coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos (Caodh) do Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA), afirmou ao CORREIO que Sandra estava "sempre ajudando, movimentando".

"Ela se expôs mesmo ao defender mulheres e ao defender as causas LGBT mas não sabia da gravidade do que ela relata", explica Márcia.

Em dezembro do ano passado, a mãe de Sandra também morreu. Ela quem bancava a Casa Cristal Lilás, que ficava no Campo Grande.

"Quem mantinha aquela casa era a minha mãe. Aquele monte de gente comendo, bebendo, dormindo. Eu tinha que dar um jeito de ajudar as mulheres e a minha mãe que fazia tudo aquilo. Não era financiada por ninguém", destacou.

Sandra Muñoz não chegou a pedir proteções de delegacias ou casas especializadas na Bahia. "Mana, que pedir proteção o quê? Melhore, viado. Eu não pedi proteção nenhuma não. Imagina se eu vou pedir proteção. O buraco é mais embaixo, mulher. Larguei tudo e também entreguei a casa. Tive que colocar as mulheres todas para fora e até eu, né mona", disse rindo.

Agora, Sandra afirma passar necessidades no Paraguai. Ela está estudando Direito em uma faculdade do país. Ela chegou a fazer uma vaquinha com o objetivo de arrecadar R$ 2 mil, mas só conseguiu R$ 300.

"Eu estou passando muitas necessidades e fiz uma vaquinha para conseguir me manter aqui. São cinco anos de curso estudando", disse.

Sobre voltar para o Brasil, Sandra afirmou que só retornará quando for "juíza". "E de férias, viu?", acrescentou.

Apesar da vaquinha ter finalizado nesta quinta-feira (21), Sandra ainda pede ajuda para se manter no país através de sua conta (Banco Itaú, Sandra Conceicao Munhoz, Ag: 7476, C.c.15757-8).