A ditadura do país vizinho sempre parece ser mais verde, mas não é

Imagem  ilustrativa.

INALDO BRITO | Nesse último final de semana, relembrou-se o golpe/revolução de 1964 no Brasil, que culminou no regime militar, e que durou 20 anos. A despeito do que os defensores e antagonistas perpetram sobre o que foi tal período na história brasileira, é preciso asseverar que ditaduras podem ser relembradas apenas como eventos vergonhosos a fim de se aprender com tais erros do passado e evitá-los no presente, mas nunca devem ser comemoradas, tendo em vista que sempre deixaram um rastro de morte, perseguição e autoritarismo.  

Desde a Segunda Guerra Mundial, o mundo sofreu com a escalada de personagens megalomaníacos que seduziam o povo com promessas de fartura, superioridade racial e controle global. Hitler, com sua defesa do nazismo, é o mais conhecido. Entretanto, muitos se esquecem que o comunismo de Stálin era irmão gêmeo do nazismo hitlerista. Dois regimes, pertencentes a uma mesma raiz, que mataram mais do que em qualquer época daquele século. Ditadores que deixaram um rastro de destruição e caos, e que ainda possuem os seus admiradores e devotos.  

No Brasil, a primeira ditadura não foi a dos militares, mas sim a de Getúlio Vargas. É preciso ter em mente que tanto Vargas quanto os militares diziam lutar para o “desenvolvimento nacional” e, de fato, os dois regimes tomaram decisões burocráticas e administrativas que, mais tarde, tachou-se como benefício para a população. No entanto, ainda assim isso não ofuscou os malefícios que ambos os regimes realizaram, tendo a censura, o controle de informações e a perseguição a opositores como pontos principais.  

É importante dizer que nenhuma ditadura nasce ditadura. Na verdade, governos se transformam em ditadura. Hitler só começou a perseguir os judeus de fato após chegar ao poder. O Holodomor ucraniano só aconteceu pois Stálin já estava estabelecido no governo. Cuba, antes de ser o inferno para o próprio povo, era um paraíso caribenho procurado por pessoas até para passar férias. A Venezuela, antes da ascensão de Chávez, possuía direitos de propriedade inalienáveis. Assim como as heresias nasciam dentro das igrejas, ideias totalitárias acabam se transformando em ditadura, mais cedo ou mais tarde. 

Fascismo, nazismo, comunismo e socialismo, se não forem expurgados da mentalidade delirante dos “salvadores da pátria”, findam em despotismo e cerceamento da liberdade. Hoje as pessoas não simpatizam com alguém que se identifica como nazista, pois trazem à memória os horrores dos campos de concentração, holocausto e superioridade racial. Entretanto, a mesma indignação não é vista quando alguém se identifica como comunista ou socialista (no Brasil, então, há siglas partidárias com ambas as identificações nos nomes), conquanto o comunismo soviético de Stálin, o regime de Pol Pot no Camboja e de Mao Tsé-tung na China tenham ceifado a vida de milhões de pessoas mais do que o próprio nazismo. Parece que o armistício entre Stálin e os Aliados na Segunda Guerra Mundial contra Hitler foi suficiente para se varrer da história e da memória os horrores causados pelo regime stalinista e de seus replicadores. 

Alguns grupos e partidos brasileiros ainda veneram o regime socialista de Cuba e Venezuela, tachando aqueles que se opõem como os “verdadeiros golpistas”, fazendo vistas grossas à miséria e violência miliciana que ocorre no país, chegando ao ponto de um de nossos ex-presidentes dizer que “na Venezuela, há democracia em excesso”, enquanto opositores políticos são impedidos de se candidatar, eleições são fraudadas e o partido no poder controla a população com assistencialismo e favorecimentos escusos. De fato, como diria Ludwig von Mises: “Todo socialista é um ditador disfarçado.”  

Interessantemente, muitos dos partidos de esquerda e extrema-esquerda no Brasil tiveram figuras que “lutaram” contra o regime militar de 64, apesar de hoje serem os mais ferrenhos críticos dos rebeldes na Venezuela – que lutam contra o regime de Maduro – e endeusarem qualquer país ou comando que se enquadre na ideologia totalitária que idolatram. Não é à toa que eventos universitários comemorando a Revolução Russa são relembrados com ares de glória suprema, ou professores cantando o hino da União Soviética, apesar de tão vergonhoso, são tolerados e defendidos. 

Nenhuma ditadura deve ser almejada. Todas acontecem como distorções de governos totalitários, cuja própria palavra totalitarismo já deveria causar ainda mais vigilância por parte da população acerca de quem chega ao poder. “Salvadores da pátria”, “pai dos pobres”, comunistas ou socialistas, ativistas e militantes podem até ter um discurso de convencimento favorável aos seus intentos, no entanto, a história demonstra que sempre desembocaram em supressão da liberdade civil e dos direitos de propriedade e perseguição aos seus opositores ou aos que não concordam com seus meios de governança. A ditadura do país vizinho pode até parecer ser mais verde, mas, na verdade, é vermelho-sangue.