A ruína moral e os danos políticos da política brasileira

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“A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez” - George Orwell

INALDO BRITO | A democracia brasileira passa por mais uma ameaça ao seu rule of law. É uma ameaça que se torna escancarada a cada dia à medida que vemos os noticiários ou lemos os jornais. Ela vai ganhando corpo a cada nova declaração emitida por chefes dos Poderes, caciques políticos e anões eleitorais. Os pronunciamentos e opiniões dos agentes do poder são simplesmente para atiçar militâncias e redarguir opositores. Não há palavras brandas, vontade de querer minimizar polêmicas ou mesmo de apagar focos de incêndio surgindo. O interesse é unicamente de fazer valer sua própria autoridade sobre o outro. Cada um quer mandar mais que o outro, quer exibir mais poder que o outro, quer ser visto como herói enquanto atribui posturas vilanescas ao outro.

Nossa economia também já começa a respirar por aparelhos. Inflação em alta, combustível caro e agentes públicos exigindo readequação salarial sem nenhum tipo de pudor. O mesmo pudor que faltou aos políticos que aprovaram o fundo bilionário eleitoral também falta à elite do funcionalismo público atualmente. Privatizações ainda são demonizadas por populistas e comensais do poder, deturpadas em palanques por candidatos oportunistas, oposição oportunista e até mesmo por membros do governo, isso sem falar na adoção de um tipo de missão a ser cumprida a qualquer custo, por parte de membros do Judiciário, em dificultar tudo aquilo que cheira a venda de estatais.

Nossa educação continua sendo o depósito da ignorância e do analfabetismo. Os currículos educacionais possuem quantidades de assuntos (até demais da conta), mas falta expertise para quem os aplica, e interesse ou aptidão para quem os recebe. O ensino público continua sucateado, professores continuam mal pagos e/ou cooptados por sindicatos que os utilizam como revolucionários quando não recebem as remunerações que mereciam. Alunos são punidos com mais déficit de aprendizagem, o sistema escolar aumenta sua defasagem de discentes e no fim o que importa é expandir, com uma canetada, as cotas em universidades, possibilitando a elas receber toda essa carga de mediocridade estudantil causada pelo emburrecimento programado no nosso país.

A impressão que se tem é que a Caixa de Pandora foi aberta nesta última década e que não há nenhum esforço em se superar as mazelas e desgraças que nos acomete, pelo contrário, se os poderosos puderem contribuir com mais, assim farão. Se for possível sacrificar um país inteiro, ou toda uma sociedade, a fim de se manter as engrenagens podres desse sistema funcionando, assim eles farão. Se for necessário espremer até a última gota de suor dos mais pobres ou de quem trabalha, a fim de que seus fundos bilionários e seus aumentos salariais sejam conquistados, assim eles farão.

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Até quando incentivaremos esses comportamentos facínoras, por parte de nossos representantes? Até quando continuaremos tendo que decidir as eleições entre o Ruim cor-de-rosa e o Ruim cor rosé, sendo que tanto um como o outro nos conduzirá ao matadouro? Pelo andar da carruagem, por ainda muito tempo. Temos uma democracia capenga que nos envergonha por conta de nossas lideranças políticas, uma economia troteira que merecemos por conta do nosso amor pelo populismo, patrimonialismo e protecionismo, e uma educação naufragada que nos deixaram como sobra a fim de sermos uma nação que quase deu certo.

Nossa elite política é permeada por indivíduos, em sua maioria, que tiveram educação escolar e universitária de ponta, mas que agem de forma mal educada nos bastidores e à luz do dia, crendo piamente que as regras ou postulados econômicos são só uma simples curva que pode ser superada com atalhos (as suas canetadas ou decretos insensatos), e que, se possível, dilapidarão a própria democracia para ter as suas vontades satisfeitas, seus cargos mantidos e seus privilégios dilatados, quer a população aceite ou não.

Democracia é corrupção. Economia é injustiça. Educação é desinformação. Eis o lema que parece conduzir o pensamento da maioria dos nossos políticos, juristas, agentes públicos e, infelizmente, que faz parte até de nós mesmos. Eis a ruína moral de qualquer sociedade.