Amor ao dinheiro e mentalidade anticapitalista: nem oito nem oitenta

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INALDO BRITO | Um dos ensinos mais antigos para se ter relações sadias no aspecto socioeconômico é o que orienta sobre os perigos da idolatria às riquezas, ou, mais especificamente, do amor ao dinheiro (cf. 1 Timóteo 1.10). É importante salientar que o dinheiro em si não é ruim. Pelo contrário, no decorrer do desenvolvimento da civilização, o dinheiro foi ganhando um papel cada vez mais determinante para as trocas comerciais, propiciando poupança e patrimônio para qualquer um que dele saiba utilizar.

O que o texto bíblico citado diz é que é o amor desenfreado pelo dinheiro o que produz tantos males, já que muitas pessoas, por possuírem uma cobiça desenfreada, acabam não medindo esforços para conquistar tais riquezas. Não é a toa que vemos nos noticiários tantos crimes de corrupção, desvio de verbas, peculato, apropriação indevida do erário, além dos mais comuns como furto, roubo à mão armada, às vezes latrocínio etc., e que demonstram empiricamente que o amor destemperado por ter mais e mais dinheiro a qualquer custo acaba deixando as pessoas cegas para os limites da realidade que fazem parte.

Esse amor ao dinheiro também faz com que, por exemplo, trabalhadores ou empregados não se contentem com o que já recebem de salário, tornando-os assim insatisfeitos e insípidos face ao cenário do próprio país e da própria empresa em que trabalham. Vez por outra vemos funcionários públicos que já recebem gordos salários lutando por aumentos, assim como magistrados não querendo perder benefícios que já poderiam ser custeados pelo próprio salário que recebem.

A verdadeira razão pela qual muitas pessoas, que já ganham bem em seus empregos, continuarem exigindo mais e mais aumentos salariais não é por causa do seu tempo de serviço, ou dos seus méritos, ou dos direitos garantidos, não, antes a razão deve-se justamente a uma cobiça desvairada e de um amor idólatra ao dinheiro. A fim de dispor da quantia a mais de dinheiro, não se preocupam sequer em onerar a máquina pública, e sempre justificando que faz parte dos seus direitos, mas que, todos sabem, são puro privilégio.

Dito isso, é preciso esclarecer que não se deve praticar também o inverso do amor ao dinheiro, que seria o ódio, ou – como diria Ludwig von Mises – o cultivo de uma mentalidade anticapitalista. Esse tipo de atitude se tornou bastante comum por conta das ideias marxistas acerca das lutas de classe, e do lançamento do Manifesto Comunista que era um ataque claro ao acúmulo de riqueza e à propriedade privada. Hoje, com seus mais variados níveis, essa mentalidade se entranhou em vários círculos, desde o educacional e acadêmico até mesmo a órgãos de fiscalização e controle.

Quando universidades públicas se posicionam contra a entrada de entes privados para melhorar a gestão da instituição simplesmente porque querem manter a disponibilidade pública e “gratuita” da entidade à sociedade, sem “contaminá-la” com os desejos e objetivos de empresas privadas, elas estão querendo dizer que não são movidas por dinheiro, porém a situação é totalmente distinta, já que todas necessitam de repasse de verbas da União para se manterem administrativamente. A mentalidade anticapitalista de seus professores, funcionários, conselheiros e sindicalistas só se sustenta pois o processo de doutrinação em massa ainda continua nos corredores e salas universitárias. Aqueles alunos que não possuem tal visão anticapitalista acabam sendo os mais prejudicados, já que possuem sonhos e aspirações que não se reduzem ao campus estudantil.

Quando se ama cegamente o dinheiro, deixa-se de perceber as dificuldades que outros passam para manter suas empresas, assim como não se tem pena de desviar recursos públicos da saúde, educação ou infraestrutura para contas bancárias pessoais ou algum empreendimento “laranja” de lavagem de dinheiro. De forma análoga, quando o dinheiro é odiado perde-se a chance de melhorar a situação de pessoas em situações precárias, ou dar a elas a oportunidade de receberem o que lhes é devido pelo trabalho que desempenham.

Quem ama cegamente o dinheiro não quer abrir a mão sequer para doar. Quem o odeia, faz de tudo para taxar ainda mais os ricos. Quem ama cegamente não empresta, e quando toma emprestado finge se esquecer de devolver. Quem odeia, não tolera que empresários possuam mais e mais lucros. Tanto o amor ao dinheiro como a mentalidade anticapitalista são duas posturas que trazem consequências drásticas para qualquer sociedade, além de ser execrável observá-las em qualquer indivíduo.