Debate eleitoral: espetáculo dos inaptos para os ineptos

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INALDO BRITO | “O amor pela verdade, embora exista, é geralmente mais fraco do que o amor pelo poder.” Theodore Dalrymple

À medida que o dia da votação se aproxima, é comum acontecer os famosos debates eleitorais entre candidatos, sendo o debate presidencial o mais aguardado entre os eleitores e os veículos de mídia. Para algumas pessoas, o debate é um meio de decidirem em quem votarão, já que não têm tempo para pesquisar mais sobre os candidatos. Para outras, é só uma forma de cultuar seu político de estimação e debochar dos adversários.

Os atuais debates entre políticos se resumem a meras atuações cartunescas e circenses, cujo objetivo não é apresentar ideias à população indecisa, mas sim lacrar e mitar por meio de expressões e falas para seus apoiadores e militantes. As ideias não são discutidas com o rigor de importância que carecem. Temas como educação, saúde, segurança pública, saneamento básico, criminalidade etc. são utilizados apenas como uma escada para autopromoção ou execração dos oponentes.

Quando há um ou outro candidato que tenta colocar esses temas na mesa para discuti-los de forma mais profunda, é rapidamente escanteado ou escamoteado pelos que estão ali apenas para receber gritinhos da plateia. Os debates políticos contemporâneos são mera cortina de fumaça e espetáculo do tipo pão e circo para uma população cada vez mais leiga, desinformada e mal informada. Debates não possuem poder para mudar uma eleição, a não ser que o que acontecer ali seja algo realmente ultrajante, imoral e conspícuo, tendo em vista que o número de indecisos que assiste-o é ínfimo comparado com os que já sabem em quem irão votar.

No cenário brasileiro atual, onde impera a corrupção e os corruptos possuem o benefício da lei e o apaziguamento do Judiciário, assim como seus apadrinhados, seguidores e militantes mais próximos, o que decide uma eleição é o quanto de voto pode ser comprado até o último minuto da votação – é por isso que o fundo eleitoral é denominador comum entre partidos aparentemente adversários. Possuir a chave dos cofres públicos é outro elemento que influencia uma eleição – é por isso que emendas são tão cobiçadas por parlamentares.

Na verdade, os debates cumprem bem o seu papel que é de entreter o público numa noite de domingo e dar aos políticos maior visibilidade para suas mentiras cínicas e promessas fantasiosas, já que o único que possui o poder de cassar sua fala é o apresentador do debate, que chega a ser até bem tolerante com muitos, à medida que exerce mão de ferro com alguns, não obstante tudo faça parte do teatro de tesouras nacional.

Toda a pompa que é realizada em torno dos debates também é algo que podemos facilmente observar. Quanto maior o cargo pleiteado, maior a opulência e maior a hipocrisia dos participantes. Os cenários precisam fazer jus às figuras que estarão presentes. É um escarcéu de personalidades narcisistas, adultos que agem como adolescentes malcriados, figuras públicas que destoam totalmente da importância representativa do cargo que anseiam ocupar. É o dia nacional do fingimento: os candidatos fingem ser pessoas imponentes e respeitáveis (até que abram a boca) e os telespectadores fingem que o debate foi crucial para votarem no que acham ser o mais “capacitado” (ou melhor seria dizer menos incompetente) para representá-los.

Em toda corrida eleitoral, os debatedores se propõem a dessa vez fazer a diferença, ou executar mais e melhor em relação ao que foi feito em gestões anteriores. Todavia, não há como obter bons resultados, econômico e social, se os fatores envolvidos (e defendidos pela maioria dos candidatos, além de endossados por boa parte da população) são errados, duvidosos, dúbios e capciosos. É difícil levar a sério um debate eleitoral quando a maioria dos (senão todos) participantes são figuras pastelões, dissimulados e vendedores de sonhos impossíveis. Só o fato de a audiência ainda ser grande nessas transmissões também aponta que nós, o povo, não somos tão diferentes deles assim.