Dibinha e os estrangeiros

Câmara de Vereadores de Xique-Xique.

GUILHERME LAPA | Era dia de sessão especial. A Câmara de Vereadores de Xique-Xique estava lotada para a inauguração da reforma final do seu prédio. A todo momento chegavam convidados vindos de Lauro de Freitas, cidade onde o então deputado federal João Leão possuía forte base eleitoral, e que, para prestigiar o amigo Rubison Bruno Lobo, presidente da Câmara à época, aqui conhecido popularmente por “Dibinha”, resolveu trazer com ele um séquito de secretários municipais, assessores, empresários e amigos vindos daquele importante município baiano.

Foram longos dias de organização, onde ainda utilizávamos o velho e obsoleto aparelho de fax para enviar os convites a deputados, senadores, prefeitos, vereadores, lideranças políticas, e autoridades. Uma grande parte confirmava a presença, o que elevou a nossa agonia em realizar uma sessão especial com tantas presenças ilustres.

Dibinha então me colocou na tarefa de receber alguns dos convidados na entrada do plenário, especialmente daqueles vindos de Lauro de Freitas, para que registrasse o nome de cada um, ou para compor a mesa dos trabalhos ou simplesmente registrar a sua presença.

E assim eu fiz. Mas existia uma dificuldade, pois a maioria deles era de origem alemã, cuja escrita era complexa e a pronúncia muito mais ainda. Eu fiz o que pude. Anotava da forma que ouvia a pronúncia do nome e passava para Dibinha, discretamente, em um bilhetinho.

A sessão transcorria normalmente, até o momento em que percebi a chegada de um senhor, alto, vistoso, branco, usando um chapéu tipo panamá, que logo vi que era de outra gerendência que não a brasileira. Era alemão e logo foi me falando seu nome, mas que hoje sei se tratar de “Willahelm Schneider”, mas que na hora não entendi direito e escrevi do jeito que tinha ouvido, passando então pra Dibinha, que logo em seguida anunciou a sua presença, com seu jeito peculiar.

“Quero registrar a presença de...de...de... Vilha..lha..rein Xi..Xineider...secretário de Turismo de Lauro de Freitas, que honra a nossa Câmara com a sua presença.” Ufa! Passamos no teste, eu pensei. Mesmo com dificuldades para pronunciar corretamente o nome, Dibinha se saiu bem, mas as pessoas presentes perceberam a situação e uns até exibiram um sorrisinho meio sarcástico de canto de boca.

Aí que meu nervoso aumentou ainda mais e passei a rezar para que não aparecesse mais ninguém vindo de Lauro de Freitas. Lego engano. Como se não bastasse chegaram logo dois de uma vez só, o então prefeito Roberto Muniz e um secretário municipal de nome ainda mais complicado que o primeiro, que somente hoje sei que era Adalwolf Reichenbach.

Dibinha, muito sabido, percebendo que os presentes à sessão ficaram na expectativa da chegada de outras pessoas vindas de Lauro de Freitas, e que estavam na expectativa dele anunciar os seus nomes, da forma dele, devido à dificuldade na pronúncia, inteligentemente reverteu a situação, e ao receber o bilhete de minhas mãos com o nome daqueles chegantes, parou, virou o bilhete, franziu a testa, olhou pra mim com ar de revolta, e, de oitiva, interrompeu o orador, em tom de sarcasmo: “atenção, chegou mais uma ‘miséra’ do estrangeiro...Adal...rol...rolfo Rei...rei..chen...chebaque...”

A Câmara veio abaixo. Ninguém aguentou. Foi uma risadaria geral. Nem Dibinha segurou o riso, certamente aliviado por ter contornado com sabedoria aquela situação.