Educação domiciliar: o antídoto para a medíocre escolarização em massa

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Os métodos de ensino são fundamentais para o aprendizado do indivíduo. Cada pessoa aprende de jeitos diferentes, formas diferentes, didáticas diferentes e em ambientes diferentes. Cada método pode ser readaptado à medida que os anos passam, tornando-o mais eficiente, mais produtivo e mais eficaz para a intenção que se deseja. Entretanto, quando modelos de ensino se estagnam, não deixando nenhuma perspectiva de alteração ou inovações, esse é o princípio da derrocada intelectual e acadêmica de uma sociedade. É justamente nessa última condição onde o sistema educacional brasileiro se encontra. 

Os cursos de Pedagogia têm se limitado a ensinar aos futuros educadores métodos de ensino totalmente enviesados para a escolarização, e não para a educação como um todo. O curso e a formação não fazem jus à etimologia da própria palavra, que significa “conduzir a criança ao ensino”, levando em consideração a necessidade, inteligência e capacidade de aprendizado do infante. O que é mais notório hoje na pedagogia é uma valorização (em excesso) da escola, e não do ensino, cuja crença no método de escolarização em massa supõe ser o único possível para o desenvolvimento cognitivo e intelectual do aluno. Métodos alternativos de educação acabam sendo desconhecidos pela maioria dos pedagogos e docentes. 

Tomemos o exemplo do homeschooling, ou educação domiciliar. Esse tipo de educação é tolerado e aceito em diversos países, tendo apresentado níveis de desempenho por parte dos alunos iguais ou melhores do que aqueles que são “educados” na escola (escolarizados). Em tais países, há associações de pais educadores que se juntam para apresentar as didáticas de ensino utilizadas, bem como estudam estratégias cada vez mais eficientes para o melhor aprendizado de seus filhos. Em outros países, professores se beneficiam do método educacional dando aulas particulares e obtendo uma resposta muito mais positiva do aluno particular do que quando ensinava para toda uma classe. 

O fato é que, diferentemente da escolarização - onde tudo possui regras para se aprender, forçando a criança a se amoldar a métodos engessados e que, em sua maior parte, não produzem o efeito desejado no desenvolvimento intelectual da criança -, o homeschooling mostra-se mais eficaz pois adapta as necessidades da criança ao que realmente é essencial para o seu crescimento e aperfeiçoamento sapiencial.  

Mesmo com todos os fatos benéficos de desempenho e avaliação dos alunos, registrados por institutos de pesquisa em educação domiciliar – que demonstram médias superiores em testes e admissões em faculdades em relação aos alunos escolarizados –, ainda assim isso não é levado em consideração pela elite política e judiciária brasileira. O mito mais comum é o de que a educação domiciliar impede a criança de se socializar com outras crianças, coisa que só o ambiente escolar pode proporcionar.  

Esse mito é perpassado como sendo quase um dogma, entretanto não leva em consideração fatos básicos dos relacionamentos sociais do indivíduo. Nenhum relacionamento social pode ser forçado a contragosto da própria pessoa, mas é exatamente isso que acontece na escolarização da criança. Ao atingir os 4 anos de idade, os pais devem obrigatoriamente matricular seus filhos em alguma instituição educacional, com perigo de até mesmo ter a guarda deles retirada. Ou seja, a criança que estava acostumada com o ambiente familiar, agora passa a ser forçada a interagir com pessoas que ela não conhece, estar num ambiente que para ela é estranho, e com a justificativa de que isso a fará ser mais sociável. Isso é uma falácia. 

O interessante é que a ressocialização de presos não é feita dentro dos presídios, mas sim fora deles, não se restringindo a um único ambiente social. Enquanto que, para os defensores da escolarização obrigatória, o único meio de socialização é no ambiente escolar. Só mais uma prova de que uma mesma palavra pode ser utilizada conforme a luta que se trava no momento – o famoso duplipensar orwelliano. 

Pais que praticam o homeschooling fornecem ambientes muito melhores de socialização para seus filhos do que o defendido pelos pedagogos. Esses pais levam seus filhos a reuniões familiares, os deixam interagir com filhos de vizinhos, frequentam a igreja, matriculam seus filhos em atividades esportivas que os faz também interagir com outras crianças e demais pessoas, frequentam parques e áreas de lazer, viajam etc. Todas essas atividades são meios de se socializar um indivíduo. Mas para os oponentes do homeschooling, somente a escola faz esse papel. Na verdade, o que acontece na escola é justamente o contrário da socialização. 

Por haver um ensino mediano, onde todos devem ser abarcados, há uma sonegação do desenvolvimento intelectual daquele aluno mais avançado, a fim de que ele se adeque às limitações dos alunos menos avançados. Para pedagogos e docentes, esse aluno mais avançado está agindo bem em “esvaziar” o seu conhecimento em prol dos colegas, pois assim a turma fica padronizada no ensino. A socialização, para pedagogos e professores, é perder o que se tem para “beneficiar” quem não tem.  

Devido ao avanço da tecnologia, ficou mais fácil acompanhar a vida das pessoas. No Instagram, pais que praticam homeschooling exibem as atividades que praticam com seus filhos e, como prova, exibem os próprios filhos executando essas atividades. Não raro, vê-se crianças de 3 anos dominando formas geométricas, ditando cores e animais nas figuras que observa e já aprendendo a escrever. Da mesma forma, vê-se crianças de 4 anos aprendendo a tocar Mozart no piano, lendo um livro por dia, aprendendo as capitais de países e, algumas, até fazendo apresentações em grupos com outras famílias de homeschooling.  

O que acontece ao se colocar uma criança com esse nível de desenvolvimento intelectual na escola? É fácil saber o que ocorre: 1)A criança que antes respondia tudo em casa, agora fica inibida porque a própria professora pede para que ela dê chance também a outras crianças; 2)O que ela aprendeu de útil, enquanto estava na educação domiciliar, acaba se descartando nas aulas da escola, já que a professora tem de obedecer as orientações curriculares do Conselho Nacional de Educação; 3)Aquela criança acaba sendo forçada a se adequar à média da turma, e quase sempre seus talentos serão freados para que os colegas não se sintam inferiores; e 4)A criança, por ter sido forçada a se socializar e ainda por cima perder suas capacidades e dotes, não terá a mesma satisfação no aprendizado e na educação. 

O que tem acontecido no Brasil é um fenômeno que podemos tachar como “prazer pela mediocridade”. O cidadão foi criado por toda a vida naquele padrão medíocre de ensino, e, ao ver alguém que se destaca mais intelectualmente do que ele, inicia um processo de desqualificação daquele alguém, seja no nível pessoal ou intelectual. Se ainda assim não tiver êxito, ele apela para uma legislação que obrigue aquele alguém, e indivíduos semelhantes, a fazer a mesma coisa que ele fez por toda a sua vida. O padrão de mediocridade, nesse caso, acaba não sendo superado, mas sim, estimulado e mantido. Esse fenômeno acontece com qualquer inovação que se apresente no mercado: Uber, Yellow, iFood, automatização de processos etc. Com o homeschooling não é diferente. O método pode ser eficaz, pode demonstrar bons resultados, pode ser saudável para o desenvolvimento da criança; mas se vai propiciar uma liberdade de escolha aos cidadãos e, consequentemente, uma exibição comparativa dos níveis de aprendizado e crescimento intelectual entre indivíduos, aí é melhor não mexer, é melhor se manter o padrão medíocre e improdutivo. 

Coincidentemente, os países que possuem economias livres, com foco na liberdade de escolha dos indivíduos, capitalistas, e com maiores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano), possuem o homeschooling como método de ensino totalmente liberado e bem regulamentado, sem obstruir a liberdade de ensino e sem prejudicar o desenvolvimento cognitivo das crianças. O Brasil sempre opta por seguir costumes diametralmente opostos, achando que agindo assim conseguirá atingir todos esses índices de crescimento e desenvolvimento econômico mantendo padrões de economias fechadas, e que proíbem a liberdade de ensino.  

A flexibilização do ensino, liberando a educação domiciliar como modalidade de educação viável para o país, é um dos lances necessários para que se confirme o passo dado em direção à liberdade econômica. Haverá sempre os antagonistas, defensores da escolarização em massa, que farão todo tipo de malabarismo falacioso para impor um modelo estagnado de ensino como sendo a única forma de socialização da criança - desde doutores, pedagogos, professores, e até ministros.  

A conclusão que se chega é que a celeuma que se estabelece por conta do homeschooling é oriundo justamente de pessoas escolarizadas, mas que não demonstram sequer o interesse de pesquisar sobre o assunto antes de falar bobagens. É esse o tipo de indivíduo ensinado e formado nos métodos de ensino padrão, ou em massa. Não que todos sejam assim – pois alguns acordam desse sono do canto da sereia. Mas é o que evidencia a mediocridade do atual ensino brasileiro. Parafraseando Alexandre Magno, em seu livro O direito à educação domiciliar, “Se você quiser um ensino como qualquer outro, matricule seu filho na escola. Mas se você quiser um ensino diferenciado, que estimula a criança na satisfação do ensino, então faça educação domiciliar.”