Ideais marxistas iludem, pervertem e atravancam o progresso econômico

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INALDO BRITO | Quando o passo dado em sequência ao czarismo culminou na instalação do primeiro regime comunista da história, poucos imaginavam que a Rússia - e, logo depois, União Soviética - se transformaria naquilo que muitos sobreviventes e dissidentes poderiam chamar de "O inferno na Terra". Pelo menos duas gerações nasceram, cresceram e muitas das pessoas, que faziam parte dessas gerações, morreram numa nação que tinha sob sua estrutura de governo as ideias marxistas.

Ainda hoje, países que seguem tais ideologias continuam mantendo seu povo como refém, mais parecidos com indivíduos que possuem síndrome de Estocolmo. Por nascerem e serem ensinados com base naquilo que o regime totalitário apregoa, dificilmente esses indivíduos conseguem se ver livres das garras da ideologia. E, por isso, torna-se tão difícil convencê-los dos perigos e erros a que estão submetidos, já que bloqueia-se a todo custo a entrada das ideias que poderiam iluminá-los e trazê-los das trevas para a luz.

Algo semelhante acontece no nosso país, só que num outro espectro, mais especificamente no que diz respeito à difamação das ideias liberais de política e economia. Nossa nação não foi ensinada sobre o que é o liberalismo como se deveria, pelo contrário, o que houve foi uma desinformação e subversão ao longo dos anos, em que qualquer princípio que se remetesse às ideias de pró-mercado fossem automaticamente tachadas como negativas e contrárias aos "interesses" da população (leia-se: das elites pensantes e governantes).

Nas escolas, pouco ou nada se fala sobre Adam Smith, Carl Menger, Mises, F.A.Hayek ou até mesmo Joseph Schumpeter. A "importância" dada a estas figuras nem se compara ao que é dado a Karl Marx, Lênin e Engels no que diz respeito a ideias que mudaram uma sociedade. Apesar das ideias daqueles terem influenciado nações como Estados Unidos, Japão e até mesmo alguns países europeus após o bloco soviético, Marx e seus "amigos" parecem ser o narcótico preferido dos nossos professores, educadores e políticos. Com isso, não é surpresa o fato de que as ideias liberais, de economia principalmente, serem mais difíceis de cair nas graças dos países latinoamericanos.

Pense por um instante. Imagine que dois indivíduos nasceram num país onde só se consome carne de rato. Nenhuma outra carne é vendida ali. Apenas a de rato. Os indivíduos crescem se alimentando apenas de carne de rato. Na escola eles são ensinados sobre os benefícios da carne de rato. Não lhes é ensinado sobre nenhum outro tipo de carne, ou se é, então deturpa-se o ensino para que apenas a carne de rato seja a preferida entre as pessoas. Esses indivíduos então se conhecem, se casam e passam a morar juntos. Qual carne eles consomem em casa? De rato. Num belo dia, um estrangeiro os convida a irem a sua casa. Os indivíduos, então, na hora do jantar percebem que o estrangeiro não lhes servirá carne de rato, e sim salmão, que ele trouxe de seu país. Eles nunca viram aquela carne, apesar de já ter-lhes sido ensinado deturpadamente sobre ela. Eles acabam sequer provando a iguaria servida, justificando-se que a única carne verdadeiramente boa e excelente é a de rato. O estrangeiro tenta dissuadi-los, mas eles ficam irritados pela insistência e acabam indo embora sem provar o salmão.

É parecido com o que aconteceu em nossa sociedade brasileira. Boa parte dos professores que tivemos (ou que nossos filhos irão ter) foram ensinados por professores que possuíam como base de ensino apenas ideias marxistas, e sob essa égide fomos orientados durante boa parte do ensino fundamental, médio e até mesmo universitário. Enquanto na escola tivemos professores que eram críticos moderados de qualquer coisa que se remetesse a lucro ou ganhos de capital, na universidade alguns professores não apenas se mostravam anticapitalistas como também severos defensores de um ou outro partido de ideologia totalitária, muitas vezes fazendo malabarismos dos mais absurdos para justificarem sua devoção. Ideias contrárias às deles, se não eram apresentadas a nós com a imparcialidade que se deveria, eram deturpadas e conceitualizadas com base em pura retórica falaciosa e sentimentalismo tóxico, mas nunca (ou quase nunca) com a seriedade que o pluralismo de pensamento requer.

Com raras exceções, no século passado nosso país viu uma sucessão de figuras com caráter puramente totalitário se alternando no poder. Figuras que possuiam a máxima de que "tudo deve ser para o Estado, e nada fora do Estado". Figuras que viram no individualismo o mal, enquanto que no coletivismo o supremo bem. Figuras que perseguiram aqueles que, de fato, produziam riqueza (como o foi Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá) para a nação. Figuras que preferiam transformar as pessoas em dependentes de programas sociais do que dar-lhes a liberdade adequada para "pescarem o próprio peixe".

Tais figuras agiam assim por conta do próprio "espírito da época". O espírito do vitimismo, de ver tudo como um jogo de soma zero, de se acomodarem em receber o prêmio fácil e sem esforço. Esse espírito tinha (ou melhor, tem) sua base justamente no ensino de ideias erradas: ideias contrárias à individualidade e ao desenvolvimento; ideias opostas ao que torna uma nação próspera; ideias que são vendidas como solução, mas que, no fim, se mostram tão danosas quanto o próprio problema que se intenta resolver; ideias que em vez de iluminar a escuridão, traziam ainda mais trevas. Essas ideias são justamente a base do que vemos hoje no que são o intervencionismo, assistencialismo e dirigismo estatal.

Na escola somos ensinados a visualizar o político (ou partido) assistencialista como o nosso salvador miraculoso, enquanto que o empresário e o empreendedor como os vilões, pessoas más que querem unicamente nos usar, nos sugar e nos roubar. Alguns dos professores que tivemos (por possuírem aquela mente deturpada e adestrada para achar estranho as ideias que se contrapõem àquelas em que eles cresceram e foram ensinados) nos faziam ver no Estado e nos seus burocratas a maior das virtudes, que é o altruísmo, enquanto que ao dono de um comércio ou presidente de uma empresa restava-lhes a pior, que era a ganância e ambição.

Cada vez que éramos (ou somos) bombardeados com esse tipo de desinformação acerca dos ideais de pró-mercado, torna-se difícil alterar a nossa própria realidade. A Constituição de 1988 foi formada peremptoriamente num molde coletivista, tornando a vida do indivíduo mais difícil de ser desenvolvida ou modificada por ele mesmo. Enquanto que os ideais liberais são tolhidos e abafados por uma casta de privilegiados políticos e "capitalistas de estado", aqueles que desejam ter mais liberdade de escolha naquilo que consomem e pretendem empreender (ainda que não saibam que estão desejando o liberalismo) acabam tendo que se submeter a esse dirigismo estatal, sucumbindo muitas vezes à tentação do funcionalismo público, onerando ainda mais a máquina estatal e dando ainda mais motivo para a retroalimentação dos burocratas dirigistas. 

O liberalismo econômico é o meio que tem se mostrado mais eficaz no combate à pobreza e na propagação do desenvolvimento social. Não observar honestamente o que aconteceu em nações que o aderiram mostra quão parecidos somos com aqueles indivíduos do exemplo da carne de rato: preferimos continuar acreditando no lixo que nos ensinaram (e que ainda é propagado aos quatro ventos como se fosse uma benesse) do que abrir os olhos e assimilarmos a chance de mudarmos para melhor.

No livro Marxismo desmascarado, título que dá nome a uma série de palestras sobre as incongruências filosóficas, políticas e econômicas das ideias marxistas, Ludwig von Mises encerra uma de suas palestras fazendo um contraponto entre os benefícios do capitalismo e o equívoco que era (e é) o socialismo presente na economia soviética. Mises diz o seguinte:

"Eu não sou favorável à economia de mercado e contra o socialismo porque os capitalistas são pessoas muito legais. Alguns são; outros não. Nesse sentido, eles não são diferentes das outras pessoas. Eu apoio o capitalismo porque ele beneficia a humanidade. Eu não sou contra o socialismo porque os socialistas são pessoas más, mas porque ele gera um declínio completo no padrão de vida de todos e destrói a liberdade."

O que Mises fala acerca do socialismo acontece parecido com o dirigismo estatal, assistencialismo e intervencionismo. As decisões tomadas não são baseadas no desenvolvimento econômico a longo prazo, mas sim em puro populismo, demagogia e imediatismo. E agir assim é o ingrediente perfeito para se perpetuar miséria, acomodação, currais eleitorais, subdesenvolvimento e, principalmente, corrupção. Pena que ainda seja a tônica do ensino, cultura e pensamento social de nosso povo. 

Desconfie de quem lhe trata como "camarada" ou "companheiro" mas que só está interessado em fazer de você uma marionete ou se sentir representado. Na verdade, fazer você se sentir representado é o princípio para transformá-lo num coitadinho, numa "vítima" da sociedade ou do patrão. E é assim que se retroalimenta uma sociedade pautada em ideais errados (como dito anteriormente, marxistas) e que são totalmente contrários à liberdade e ao progresso econômico.