Inflação em alta é consequência de populismo

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | A aparição de um fantasma é bem recorrente quando governos administram um país gastando mais do que arrecadam: refiro-me à inflação. Alguns podem pensar que a inflação se deve a um aumento qualquer e despretensioso do dono do supermercado ou do posto de gasolina, diminuindo assim o poder de compra do consumidor. Engana-se. O verdadeiro motivo para a inflação é o aumento do volume de dinheiro em circulação no mercado. Como falsificação de moeda é crime, o único que possui a impressora para tal forma de processo, cuja ação é regulamentada e autorizada por lei, é o próprio governo.

Claro que a injeção de dinheiro no mercado não se dá a todo momento, apenas naqueles “específicos” e “estratégicos”, segundo quem comanda o país. Quando funcionários públicos, que já ganham salários acima do que é pago no mercado, fazem algum tipo de paralisação, greve ou exigência qualquer por aumento dos seus soldos, dependendo do poder de negociação, o pedido é consentido na maior parte das vezes e mais dinheiro é produzido para pagar os beneficiários.

Agora, falar isso pode gerar muitas críticas, do tipo: “Você está querendo dizer que os funcionários públicos são culpados pela inflação?”; “E não é uma demanda justa que os funcionários públicos exijam aumento dos seus salários?”; “A inflação se dá porque o governo imprime dinheiro para beneficiar campanhas políticas.” etc. Qualquer um é livre para discordar ou tecer outras linhas de argumentação, mas também deve ser compreensivo para ouvir réplicas que não gosta, e a minha réplica é: Não importa para quê ou por quê, seja de modo sincero, ingênuo ou de caso pensado, toda vez que o governo injeta mais papel-moeda no mercado, ele distorce a economia, e seu efeito direto é o aumento dos preços de produtos e serviços. A inflação não é a consequência do aumento dos preços, e sim sua causa, que se deve justamente ao fato de o governo “inflar” o volume de papel-moeda no mercado.

A arrecadação tributária que o governo exerce, se administrada de forma correta, com alocação de recursos eficiente, quase não impacta no aumento dos preços, haja vista que com dinheiro a menos no bolso (por causa dos impostos a serem pagos), o cidadão deixa de comprar no mesmo volume e intensidade que antes. A procura diminui em relação à oferta, o que sinaliza para o vendedor que, se ele quiser manter sua margem de lucro, terá que diminuir um pouco o preço para ao menos obter um balanço favorável no final do mês. Com o tempo, se não houver interferência do governo nessas transações econômicas, o próprio mercado se equilibra a ponto de vendedores e compradores entrarem numa nova sintonia.

E por que digo “se não houver interferência do governo”? É por que, devido à condição que tanto trouxe para si como é vista pela população, o governo acha que precisa sanar qualquer gargalo econômico. Se, após a arrecadação tributária, ao ver que o comprador deixou de comprar na intensidade de antes, o governo acha que fornecer algum tipo de auxílio para inteirar o que o cidadão já tem é uma ótima ação, ele assim o faz. Semelhantemente acontece quando a oferta diminui em relação à procura. Alguns governos acham que dando algum tipo de subsídio para produtores, ou até mesmo crédito para empresários, está ajudando a economia, quando, na verdade, é justamente o contrário. A ajuda seletiva de curto prazo se degringolará em prejuízo para todos no longo prazo.

A história econômica evidencia todo tipo de pretensa benfeitoria que logrou em malefício para determinada população assim que os governos resolvem colocar seus dedos nas relações comerciais, principalmente no quesito auxílio financeiro. Uma das piores inflações da história foi justamente na Alemanha pós-Primeira Guerra. O governo alemão saiu derrotado da guerra e, além dos problemas internos, ainda ficou devendo às nações vencedoras. Para sanar esse déficit, resolveu recorrer à impressão de moeda em várias ocasiões. Com o tempo, não demorou até a inflação bater às portas dos cidadãos alemães, ocasionando períodos mensais de mais de vinte mil por cento de inflação. Viu-se, então, que a Alemanha saíra derrotada da Primeira Guerra não apenas uma vez, mas duas.

No Brasil, quando os governos do PT surfavam na marola do crescimento econômico mundial, em vez de continuar enxugando  ainda mais a máquina pública, saldar dívidas e diminuir os gastos públicos, optou-se por criar estatais (aumentando assim o número de funcionários públicos e, consequentemente, mais “consumidores de impostos”), conceder aumento de salários a elites do funcionalismo, beneficiar setores “estratégicos” amigos por meio da expansão de crédito e, finalmente, elevar o gasto público utilizando o que ficou conhecido como as “pedaladas” no governo Dilma. Não controlar suas próprias despesas públicas e utilizar mecanismos artificiais para arrecadação de moeda foram a receita perfeita para a taxa inflacionária atingir os dois dígitos em 2015.

Basicamente, o governo Bolsonaro surfa uma onda de erros parecida com os governos que tanto demonizou em sua campanha presidencial (e ainda demoniza). O acumulado inflacionário já passa também dos dois dígitos, e não há tendência de redução até a virada do ano. Se o governo tivesse se preocupado mais em fomentar laços no Congresso para apoio de medidas liberais de governança (as quais tanto defendeu quando em campanha), em vez de criar cortinas de fumaça (insistência no combate ao comunismo, por exemplo) ao longo do mandato, talvez a situação não estaria tão indigesta atualmente.

Aos poucos o pretenso castelo de cartas liberal do governo vai sendo desconstruído por ingerência do próprio governo que se dizia liberal. Medidas populistas, que ele sempre atacou quando em campanha presidencial, hoje são tomadas a toque de caixa. O ministro da Economia em suas falas mais recentes ainda continua insistindo que o presidente possui veia liberal, conquanto faça tudo aquilo que alguém que possui os princípios do liberalismo econômico rechaçaria.

Encerro aqui com as palavras de Ludwig von Mises (que Bolsonaro talvez nunca tenha lido nada dele – mesmo tendo sido presenteado com diversas de suas obras –, e sabendo que, mesmo aqueles que o leram, ainda assim insistem em cometer os erros que ele sempre denunciou achando que terão um resultado diferente). Em sua palestra n°4 sobre Inflação, e que depois foi confeccionado no livro As Seis Lições, Mises diz o seguinte:

“O mais importante a lembrar é que a inflação não é um ato de Deus, que a inflação não é uma catástrofe da natureza ou uma doença que se alastra como a peste. A inflação é uma política, – uma política premeditada, adotada por pessoas que a ela recorrem por considerá-la um mal menor que o desemprego. Mas o fato é que, a não ser em curtíssimo prazo, a inflação não cura o desemprego. A inflação é uma política. E uma política pode ser alterada. Assim sendo, não há razão para nos deixarmos vencer por ela. Se a temos na conta de um mal, então é preciso estancá-la. É preciso equilibrar o orçamento do governo. Evidentemente, o apoio da opinião pública é necessário para isso. E cabe aos intelectuais ajudar o povo a compreender. Uma vez assegurado o apoio da opinião pública, os representantes eleitos do povo certamente terão condições de abandonar a política da inflação.

Devemos lembrar que, no final das contas, poderemos estar todos mortos. Aliás, não restam dúvidas de que estaremos mesmo mortos. Mas deveríamos cuidar de nossos assuntos terrenos – neste breve intervalo em que nos é dado viver – da melhor maneira possível. E uma das medidas necessárias para esse propósito é abandonar as políticas inflacionárias.”

Para os governos brasileiros, quanto pior a economia do país, melhor pra eles. É lamentável!