MP pede prisão preventiva de João de Deus, acusado de abuso sexual

MP pede prisão preventiva de João de Deus, acusado de abuso sexual.

O Ministério Público de Goiás pediu nesta quarta-feira (12/12) à Justiça a prisão preventiva do médium João de Deus.

O pedido de prisão preventiva foi protocolado no fórum de Abadiânia no fim da tarde por promotores de justiça da força tarefa de Goiânia que investiga João de Deus por suspeita de abuso sexual.

Na manhã desta quarta-feira (12/12), o médium chegou cercado por funcionários e voluntários à casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, às 9h25. Foi a primeira aparição pública de João de Deus depois das denúncias feitas no programa “Conversa com Bial”.

Teve princípio de tumulto. Centenas de pessoas ficaram juntas ao médium. Assim que entrou no templo religioso, ele foi aplaudido. Repórteres e fotógrafos foram impedidos de acompanhar João de Deus.

Uma corrente de oração começou. Uma pessoa parecia desmaiar e caiu no chão. O médium se dirigiu ao lugar onde costuma fazer os atendimentos espirituais e usou um microfone para falar com os voluntários e frequentadores da casa.

“Meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs, agradeço a Deus por estar aqui. Ainda sou o João de Deus, mas quero cumprir a lei brasileira. Eu estou nas mãos da lei brasileira e o João de Deus ainda está vivo. Que a paz de Deus esteja com todos”, disse.

João de Deus ficou na casa Dom Inácio por apenas oito minutos. Na saída, mais tumulto. Antes de entrar no carro, ele se defendeu das denúncias com uma frase: “Eu sou inocente”.

“Hoje veio para prestar uma satisfação para o pessoal que crê na fé. Essa casa é uma casa que está voltada para a espiritualidade e está aberta a todos. Ele veio hoje para prestar uma satisfação a todos”, afirmou Hélio Braga Júnior, advogado de João de Deus.

Às 5h, a movimentação na casa já era intensa. Quando clareou, a rotina dos voluntários foi retomada. Norberto Kiss ajuda nos trabalhos há 29 anos e defendeu o médium. “Quem sou eu para julgar culpa? Agora que teve um exagero e que tem muita falsidade nisso aí isso é um fato que não dá para refutar”, disse.

Ônibus chegaram trazendo frequentadores de outros estados, gente que não acredita nas denúncias e veio ser atendida pelo médium. “Se ele não vier, a gente entende o porquê da situação de ele de repente não comparecer. Mas fazemos votos de que ele venha e veja que realmente há muito mais pessoas que acreditam nele do que as supostas que não acreditam do que as supostas que não acreditam”, disse Elaine Aparecida Machado, de São José dos Pinhais, no Paraná.

João de Deus não realizou as cirurgias espirituais que deixaram o médium conhecido no mundo todo. A assessoria de João de Deus disse que o médium não deu entrevista porque ele passou mal, com uma crise de hipertensão.

“As denúncias são seríssimas e têm que ser apuradas, mas a verdade tem que vir. A Justiça vai apurar tudo isso. Se for o caso de vir à tona e o que elas ... vir a ser verdade, o seu João vai, com certeza, ter que responder na Justiça. Mas, até então, o seu João é uma pessoa inocente. Fazer pré-julgamentos é muito cedo”, disse a assessora Edna Gomes.

Mais de 200 mulheres já procuraram o Ministério Público para fazer denúncias de abuso sexual contra João de Deus. “Muitos depoimentos consistentes e com detalhes do que aconteceu”, disse Benedito Torres, procurador-geral do Ministério Público de Goiás.

Ana Maria Azevedo de Oliveira tem 53 anos. Aos 16, ela conheceu João de Deus. “Uma amiga minha que me levou para lá para conhecer o João de Deus. E de lá, ele me chamou para a corrente. Aí eu fui trabalhar com ele na corrente dele. Ali, com três meses, ele abusou de mim. Ali eu tinha 16 anos, me abusou, tirou minha roupa, a peça íntima de baixo, aí ele fez o que fez, aí eu peguei uma gravidez dele. Fui embora, morava em Taguatinga, dali eu nunca mais eu voltei. Dali um tempo, quando a barriga cresceu um pouco, eu voltei nele, cheguei, pedi ajuda a ele, ele falou assim: ‘Não, eu vou te dar um remédio’. E eu pensei que era remédio, garrafada para fazer um tratamento, mas ele me remédio para matar a criança, para não complicar a vida dele. Ele falou que ia me matar se eu falasse alguma coisa”, contou ela.

Nove mulheres já prestaram depoimento na Polícia Civil em Goiás. Simone Soares procurou a delegacia; quis deixar registrado o que aconteceu quando tinha 13 anos de idade e visitou a casa Dom Inácio, em Abadiânia, pela primeira vez.

“Ele veio por trás e ele tirou a minha blusa e aí começou a tocar meus seios. Foi durante um ano. Muito tempo. Fui numa delegacia na cidade da Bahia, que eu não vou falar o nome, e aí a delegada me falou que esse caso já não tinha como mais dar andamento por conta de falta de provas”, contou.

Depois de registrar a ocorrência, ficou aliviada. “Eu me sinto muito, assim, realizada, que realmente não foi em vão o tempo de espera da Justiça, para ela chegar”, afirmou Simone.

A defesa de João de Deus tem negado as acusações; declarou que não foi comunicada e desconhece o teor do pedido de prisão e não vê a necessidade dele. Que João de Deus está de volta a Abadiânia e à disposição da Justiça, como sempre esteve.