Natural de Xique-Xique Doutor em Ciências trabalha como pesquisador em universidades do Canadá

Fotos: arquivo pessoal. Valdeir Lima - Austrália.

Durante pesquisa para conclusão de curso, Lima identificou uma espécie nova de ‘insetos galhadores’ (Lopesia humilis) para a ciência

Valdeir Pereira Lima, 30 anos, casado, natural de Xique-Xique (BA), é Doutor em Ciências. Como a maioria, teve uma vida simples, comum, mas sonhava alto. Em 2011 ingressou no curso de Ciências Biológicas, pela UFOB - Universidade Federal do Oeste da Bahia. Durante suas andanças, Valdeir Lima visitou países como Singapura, Malásia, Filipinas, Vietnã, Camboja, Indonésia, Bélgica e Inglaterra. Morou na Austrália, e Holanda.

Atualmente, Lima mora em Fredericton, New Brunswick, Canadá, onde trabalha como pesquisador para a Universidade de New Brunswick, e Universidade de Laval (Quebec). Veja a seguir, entrevista exclusiva ao Pagina Revista.

Imagem 01 Valdeir Lima - Londres / Imagem 02 Fapesc - Santa Catarina.

Pagina Revista | Valdeir Pereira Lima, recentemente você defendeu sua tese de doutorado em Ciências – área de concentração: Recursos Genéticos Vegetais. Fala-nos um pouco sobre sua vida, sua trajetória até aqui.

Valdeir Lima | Minha vida teve início como a de qualquer garoto nascido em uma cidade pequena do interior da Bahia, por nome de Xique-Xique. Eu tive uma vida comum, uma família comum e amigos comuns. Cresci em uma igreja comum, sempre ouvindo como Deus criou todas as coisas e as mantém, junto com amigos e irmãos da Primeira Igreja Batista. Essas experiências, ainda enquanto criança, despertaram em mim uma curiosidade insaciável em compreender melhor o funcionamento dos sistemas biológicos como um todo.

Pagina Revista | Por diversas vezes você fez uso da palavra ‘comum’. O que seria uma ‘Igreja comum’, para você?

Valdeir Lima | Usei esse termo simplesmente para denotar algo usual na vida de diversos jovens da nossa cidade. Eu entendo que é estranho usar a palavra ‘comum’ para descrever atividades e instituições, especialmente quando vivemos em uma sociedade que busca desenfreadamente os holofotes e a autopromoção. Na minha percepção, uma ‘Igreja comum’ é uma instituição formada por indivíduos comuns que exercem os seus chamados em todas as esferas da sociedade e, consequentemente, glorificam a Deus por buscarem fazer da melhor maneira possível.

Pagina Revista | Todo o seu conhecimento parece ter tido como base a escola pública, é isso? Você se via, sonhava um Doutor? Quem foram, e são seus maiores incentivadores?

Valdeir Lima | Durante o Ensino Fundamental, eu estudei no Colégio Reinaldo Teixeira Braga, e durante o Ensino Médio, no Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães. Meus pais, Evandro Lima (Pedreiro), e Graça Lima (Agente Comunitária de Saúde), sempre foram os meus maiores incentivadores e proveram os meios necessários para que eu me tornasse o profissional que sempre idealizei. Sem dúvidas, eles são inteiramente responsáveis por todas as minhas conquistas. Ademais, Jéssica Lima - minha esposa, e Vitor Lima - meu irmão, tiveram um papel muito importante nesse processo. Eu tive excelentes professores em Xique-Xique, dos quais vale destacar: Adoniran Leite (Matemática), Afonso (Geografia), Eunice (Português), Récia Dantas (Português), Sandra Barreto - In memoriam (Biologia), e Vinícius Souza (História). Esses professores foram fundamentais para a minha formação, especialmente no que diz respeito a minha vida acadêmica a posteriori.

Pagina Revista | Ainda enquanto aluno, você teve experiências com pesquisas, e pode aprimorar, na UWA – universidade australiana) a sua formação ao lado de diferentes pesquisadores. Fala-nos, sobre isso.

Valdeir Lima | Em 2011 ingressei-me no curso de Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). Desde o segundo semestre, eu comecei a fazer pesquisa enquanto aluno de iniciação científica e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A professora, Dra. Daniela Calado, foi como uma mãe na UFOB para mim, abrindo as portas dos seu laboratório e me capacitando a fazer pesquisas.

Ainda nesse período dos estudos de graduação, eu tive a oportunidade de fazer três semestres na Universidade da Austrália Ocidental (UWA), a sétima melhor universidade da Austrália, em Perth, através do programa de mobilidade internacional Ciências Sem Fronteiras. Na UWA, eu pude aprimorar a minha formação e me envolver um pouco mais com diferentes pesquisadores.

Ao retornar ao Brasil, eu iniciei a minha pesquisa de conclusão de curso estudando a biologia de ‘insetos galhadores’ no bioma Cerrado, e nessa pesquisa eu identifiquei uma espécie nova (Lopesia humilis) para a ciência. Em seguida, em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), nós oficializamos a descrição da nova espécie e publicamos o artigo científico. Em 2015, eu fui premiado através desse estudo com o melhor trabalho de Iniciação Científica da Universidade Federal do Oeste da Bahia.

Pagina Revista | E as conquistas não param por aí, não é mesmo? O que aconteceu de lá para cá?

Valdeir Lima | Sim (risos). Em 2016, eu fui aprovado no mestrado junto ao programa de Pós-Graduação em Ecossistemas Agrícolas e Naturais da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGEAN/UFSC), supervisionado pelo professor Dr. Cesar Augusto Marchioro. Nesse período, eu aprendi as principais metodologias de modelagem ecológica, o que me permitiu gerar publicações científicas em revistas de alto fator de impacto e visibilidade global. Em 2018, antes mesmo de defender o mestrado, eu fui aprovado no doutorado junto ao programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais na UFSC e fui supervisionado pelo professor Dr. Ilyas Siddique. A maior parte da minha tese foi realizada no Museu Nacional de História Natural da Holanda (Naturalis Biodiversity Center), onde permaneci por um ano com o intuito de aprimorar as minhas habilidades de pesquisa. Nesse período, eu fui treinado pelo professor renomado Dr. Hans ter Steege, um dos maiores especialistas na área de ecologia e conservação de florestas tropicais do mundo. Ao retornar ao Brasil em 2019, eu fiz parte de uma competição científica estadual e fui contemplado com o Prêmio de Valorização da Biodiversidade de Santa Catarina, entregue pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC). Eu fui o vencedor na classe aluno de pós-graduação da categoria Roberto Miguel Klein, por meio do artigo publicado na revista Austral Ecology em 2020, com o título “Ameaça de extinção para Plinia edulis exacerbada pelas mudanças climáticas, mas provavelmente mitigada pela conservação através do uso sustentável” (Título original em inglês “Extinction threat to neglected Plinia edulis exacerbated by climate change, yet likely mitigated by conservation through sustainable use”). Posteriormente, eu fui agraciado com uma bolsa destinada a futuros líderes de pesquisa nas Américas pelo governo do Canadá para realizar uma pesquisa na Universidade de New Brunswick (Canadá), e ser treinado pelo professor Dr. Loïc D’orangeville.

Em abril de 2022 eu defendi a minha tese de doutorado com sucesso, tornando-me, assim, um Doutor em Ciências. Atualmente trabalho como pesquisador em um grande projeto que envolve duas universidades canadenses: Universidade de New Brunswick, e Universidade de Laval.

Pagina Revista | Hoje, você é Doutor em Ciências; viajou o mundo, conheceu novas culturas. Isso significa que estudar, buscar conhecimentos vale a pena?

Valdeir Lima | Sim! Apesar da minha trajetória não ter sido linear, ela demonstra que apesar dos obstáculos que precisamos enfrentar rotineiramente, a educação proporciona oportunidades não imagináveis e gratificantes, tais como: conhecer diferentes culturas e visitar diferentes lugares ao redor do mundo.

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