O adoecimento econômico do Nordeste

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Uma das dificuldades do crescimento econômico de alguns estados da região Nordeste é a acomodação ao fato de se verem apenas como locais de atração turística. Não que seja ruim, haja vista que o setor de turismo é um dos mais rentáveis (principalmente, quando as regiões sabem como explorar sabiamente tais locais), mas depositar unicamente a esperança de arrecadação tributária e desenvolvimento econômico neste setor é não agir com a visão correta de mercado.

O baixo crescimento do PIB no Nordeste é reflexo do não desenvolvimento empresarial, o que acarreta o aumento no número de desempregados e, consequentemente, o aumento no número de beneficiários dos programas assistenciais do governo, como o Bolsa Família, por exemplo. Essa é uma lição que poucos governantes aprendem: o desestímulo ao crescimento da iniciativa privada prejudica o próprio crescimento da região.

Estimular o crescimento econômico numa região não é muito difícil. Pode ser trabalhoso por ter que convencer políticos e burocratas de que trade-offs fazem parte de qualquer decisão econômica, mas com o empenho certo, e pequenas iniciativas que sirvam como laboratório para demonstrar a viabilidade de projetos e negócios, conseguir-se-á induzir o público a assimilar ideias inovadoras. 

Em Recife, por exemplo, há o Porto Digital, onde empresas e startups encarregam-se de desenvolver tecnologias e serviços que sejam úteis para o próprio estado, e recebem diversos reconhecimentos pelos produtos criados. A capital pernambucana é referência na área de computação e tecnologia da informação, a ponto de multinacionais, como Google, Nubank e Microsoft prospectarem novos talentos enquanto ainda estão na universidade.

Se há todo esse desenvolvimento na capital pernambucana, então por que ela ainda cresce pouco? Provavelmente isso advém da mentalidade política e econômica da região. A região Nordeste como um todo sofreu (e ainda sofre) bastante com o coronelismo e o voto de cabresto, além de ser conduzida pelo paternalismo estatal. Esse dirigismo político é contrário a qualquer desenvolvimento econômico sadio, tendo em vista que qualquer governante que possuir aquela mentalidade não conseguirá se adaptar com as virtudes do altruísmo empresarial e da inovação.

Em qualquer estado nordestino, há os resquícios de políticas assistencialistas figurando como medidas para conter as misérias e mazelas dos mais pobres. Tais políticas são, num primeiro momento, úteis para mitigar as dificuldades enfrentadas por famílias carentes, entretanto, o objetivo deveria ser tornar tais famílias autossuficientes, sem mais necessitar de depender do programa assistencial. Infelizmente, o que vemos é o uso perverso do assistencialismo como moeda de troca entre políticos mal-intencionados e o populacho acomodado.

Com isso, o que sobra de “esperança de progresso” para os nordestinos é apenas o aspecto turístico da região, embora pouco se faça para melhorar o setor. Volta e meia vê-se políticos estaduais sugerindo a criação de leis de fomento à cultura (dias comemorativos, datas festivas e patrimônios regionais), mas pouco se vê o interesse dos mesmos em melhorar a vida dos moradores por meio de boas leis que flexibilizem vínculos empregatícios ou que facilitem o empreendedorismo. O que mais se observa na política estadual, e mesmo municipal, é uma sanha dos representantes em aprovar leis que os façam ser vistos como “pais dos pobres” em vez de “motivadores da autossuficiência”. Talvez esteja aí a raiz dos problemas das regiões (estados e municípios) que sofrem de inanição no desenvolvimento econômico.

Nem sempre regiões que possuem riquezas naturais são prósperas e crescem economicamente. Muito disso é devido aos péssimos gestores públicos que insistem em manter políticas extrativistas em vez de incentivo econômico. Essas políticas extrativistas (como já mostrado em outro artigo) se destinam unicamente à arrecadação de tributos e desestímulo à liberdade econômica. Países como Índia, Brasil e outros latino-americanos possuem rios e reservas energéticas que seriam úteis para desenvolver-se economicamente, entretanto o que se vê, na verdade, é um mau aproveitamento desses recursos.

No aspecto microrregional, Xique-Xique, por exemplo, tem potencial para se desenvolver economicamente em áreas do agronegócio, setor de energia, turismo e comércio, entretanto sempre fica aquém de outras cidades da região, como Irecê, que não possui rio (uma riqueza natural), mas que não a impede de possuir uma economia cada vez mais fortalecida devido à abertura de negócios que fornecem serviços essenciais e diferenciados à população, além de mini-fábricas.

A comparação não é feita para desmerecer Xique-Xique, pelo contrário, é para causar um choque de realidade a fim de mobilizar os habitantes para que possam se empenhar em sair desse letárgico estado de acomodação econômica. Criar algo inovador que não tenha na cidade, mas que há demanda para tal, é um bom começo, entretanto a análise da viabilidade econômica é fundamental para se implementar boas ideias. Ter hotéis é bom, mas será que há atrações turísticas suficientes (e bem preservadas) para justificar tal negócio?

Aos burocratas e representantes políticos, fica a dica: o segredo para fomentar o desenvolvimento de uma região é estudar o mercado local, vendo suas necessidades e potenciais, e, acima de tudo, não atrapalhar (seja por meio de leis estúpidas, regulações obsoletas ou revanchismo político-partidário) as ideias e inovações da iniciativa privada.