O ano passa, mas a mentalidade esquerdista continua

Ilustração.

INALDO BRITO | Aqueles que simpatizam com a liberdade econômica tiveram boas notícias no ano 2019, principalmente no que diz respeito à desburocratização na abertura e manutenção de novas empresas, bem como na promulgação de medidas que visaram a limitação nas exigências documentais (licenças, alvarás, certidões etc.) do Estado para com os empresários e empreendedores. Muito mais ainda precisa ser feito para garantir ao país um ambiente propício ao desenvolvimento da iniciativa privada, assim como à sua segurança no ambiente legislativo, mas, se depender da turma de mentalidade intervencionista e paternalista, isso jamais acontecerá.

É notório que esse tipo de mentalidade é característico da ala política mais à esquerda, com seus variados níveis de estatismo, desde os moderados aos mais extremos. O fato é que nenhum dos grupos de Esquerda procura esconder sua sanha tresloucada em demonizar a iniciativa privada, a liberdade de escolha do cidadão e, consequentemente, o empreendedorismo inovador das pessoas. Enquanto que boa parte das pessoas querem mais liberdade, e nenhuma intromissão ou coerção do Estado em suas atividades, políticos estatistas tentam convencer essas pessoas de que elas não precisam de liberdade, mas sim, de mais cuidado e proteção assistencial por parte dos seus representantes.

Perceba que dizer que "a tônica de partidos de Esquerda é ser contra a liberdade dos indivíduos" causa confusão em muita gente, já que muitos de nós crescemos e fomos ensinados de que a preocupação da Esquerda sempre foi com os indivíduos, em garantir igualdade para todos e em ajudar os mais pobres. A balela que sempre foi contada é de que todos os pobres deveriam ser gratos a políticos e partidos de Esquerda, já que eles são os únicos que fazem algo em prol dos pobres. No entanto, os escândalos de corrupção, lavagem de dinheiro, locupletação e "capitalismo de estado" que vieram à tona nos últimos anos tiveram como principal protagonista um partido de Esquerda.

O monopólio da Esquerda no cuidado para com os pobres é apenas uma cortina de fumaça para esconder a sua sanha em querer transformar democracias em regimes fascistas (tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado), nem que para isso seja preciso dar migalhas para a classe que jura defender.

Um ambiente favorável ao livre mercado e à liberdade econômica nunca é o desejado por políticos de Esquerda, pois um ambiente assim torna difícil controlar a vontade das pessoas. Se o ambiente é protegido e assistencial, as pessoas tornam-se meras peças do toma-lá-dá-cá do jogo político. Quando o ambiente é livre e voluntarista, as pessoas possuem mais "poder" para decidir e, consequentemente, suas escolhas causarão mais temor aos seus representantes. Olhe para a história e veja que nos países onde as pessoas são vigiadas e têm a sua liberdade reprimida, os governos são corruptos e autoritários (Coreia do Norte, China, Venezuela, Cuba e alguns países africanos são exemplos disso). Em contrapartida, países que possuem um mercado livre e seus cidadãos possuem segurança juridica nas relações comerciais, a corrupção e o autoritarismo são praticamente inexistentes (Hong Kong, Cingapura, Nova Zelândia, países nórdicos, por exemplo).

Acerca dessa postura da Esquerda em querer tolher a qualquer custo a liberdade das pessoas, mantendo-as debaixo de políticas assistencialistas e paternalistas, o psiquiatra Lyle Rossiter descreve em seu livro de mais de quinhentas páginas como se dá esse processo de dependência socioeconômica que acomete os indivíduos com visões mais progressistas, de Esquerda. Sugestivamente, o nome do livro é A mente esquerdista, e Rossiter faz todo um apanhado desde a infância do indivíduo até chegar à fase adulta de como as situações em que o cidadão é submetido enquanto criança (com mimos e agrados), se não for corrigido e ressignificado, podem transformá-lo em um adulto que crê piamente que outras pessoas devem ser obrigadas a custear e bancar as vontades e os desejos dele. Sendo assim, não será estranho quando ele entrar na vida pública e passar a formular leis ou campanhas assistencialistas, como subsídios ou redistribuição de renda, a fim de perpetuar a mentalidade na qual ele foi criado, ensinado e cresceu achando ser totalmente justa, altruísta e solidária.

Não advogo uma guinada cega à Direita, a fim de não cometer erros parecidos quando se é adepto da Esquerda. O mais sensato é defender princípios e valores que dão mais liberdade ao indivíduo, sem ferir o próximo, em vez de meramente se denominar de um espectro político ou de outro. Mas isso só será possível quando as pessoas acordarem do coma induzido do paternalismo dogmático em que a ala política preponderantemente mais à esquerda as submete há muito tempo. Até lá, a mentalidade esquerdista continuará entranhada nos recônditos da maior parte da população e causando estragos socioeconômicos ao desenvolvimento do país.