O falso messianismo das lutas sociais

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Curiosamente, boa parte das lutas sociais de nosso tempo, que dizem pleitear tratamentos iguais ou combater desigualdades, acabam realizando justamente o contrário daquilo que pleiteiam ou agindo de forma semelhante àquilo que combatem.

Tomemos a causa feminista, por exemplo, que leva o famigerado nome de empoderamento. A ocupação desproporcional de homens em relação a mulheres nas empresas fez com que grupos feministas lançassem uma campanha para alavancar a presença feminina em cargos de liderança em players globais, além da exigência irrestrita de equiparação salarial no mercado.

Companhias mundiais aderiram à campanha, possibilitando a ocupação de cargos que antes só se reservavam a homens. À medida que o movimento foi crescendo e se expandindo, não demorou muito para que a campanha mostrasse a sua verdadeira face e interesse: escantear paulatinamente a figura masculina não apenas de determinados cargos, funções e hierarquias em níveis de superioridade às mulheres, mas, se possível, colocá-la debaixo do comando amazonense irrestrito de suas colegas de trabalho.

Com isso, não surpreende o fato de que o empoderamento feminino tenha se tornado um mero eufemismo para se referir à opressão feminina sobre os homens, independentemente do ambiente em que convivem. No afã de querer igualdade a qualquer custo, houve uma metamorfose nas relações entre os gêneros: mulheres assimilaram tanto certas condutas masculinas nesse processo de empoderamento que chegaram ao ponto de começarem a agir por meio de um tipo de "machismo feminino", cuja consequência foi a efeminação gradual das posturas e condutas de alguns homens – posturas e condutas estas que eram o que antes definiam sua virilidade.

O engajamento nessa luta por empoderar as mulheres é hoje um tema tratado por todo tipo de instituição, até mesmo nas escolas os alunos são bombardeados com essa pauta igualitária que, por incrível que pareça, tem sido blindada pelos mais variados grupos, principalmente de cunho político. Aqueles que ousarem tecer críticas ao caráter ideológico de tal empoderamento ou simplesmente se posicionar contra a demanda radical, ainda mais se forem ocupantes de cargos de liderança ou figuras públicas, serão automaticamente tachados como preconceituosos, sexistas, machistas, misóginos etc., restando-lhes sofrer o achincalhamento de toda uma turba que vocifera aos quatro cantos o seu empoderamento totalitário.

Dá-se de forma semelhante com aqueles que dizem representar os negros. Tais grupos se arvoram no que aconteceu no passado escravocrata de muitas nações para justificar seus atos antirracistas ou suas exigências de igualitarismo racial. No entanto, curiosamente, só levam em consideração o que brancos fizeram com negros, mas nunca o que negros fizeram com negros. Fazem vistas grossas ao que indivíduos de sua própria cor fizeram com seus semelhantes no passado, preferindo se ater apenas ao que brancos fizeram com negros (se esquecendo, ou fingindo não saber, que situações análogas aconteceram entre e com índios, brancos e orientais).

Querem combater o racismo acirrando ainda mais a querela. Exigem, por exemplo, cotas raciais em universidades e empregos diversos, até na política, achando que agir assim minará o preconceito racial, no entanto, ao agir assim, não percebem que cometem também segregação racial, que descambará em ainda mais racismo e preconceitos afins - perpetuando a eterna confusão sobre o que é liberdade, direitos e igualdade. Combater o racismo querendo tornar a cor dos membros que se diz representar possuidora de mais privilégios socioeconômicos em relação aos que possuem cor ou ascendência diferente talvez seja uma das atitudes mais estúpidas que um militante de pautas raciais pode cometer. Tais líderes acusam seus opressores de preconceitos e segregações cometidos no passado, mas querem repetir os mesmos atos, dessa vez no sentido contrário. É como querer apagar o incêndio utilizando gasolina em vez de água.

Movimentos radicais conclamam suas massas a derrubar estátuas de vultos famosos só porque possuíam posturas ou condutas aparentemente racistas, sem levar em consideração contextos ou o que tais vultos fizeram para a história. Para as lideranças radicais antirracistas atuais, o simples fato de alguém ter tido escravos numa época em que a escravidão era "comum", e todos conviviam com isso, conquanto já houvesse sinais de sua tendência à abolição, já é suficiente para expurgar o indivíduo dos anais históricos e removendo-o das mentes das pessoas, mesmo que tal figura famosa tenha sido crucial para a mudança de cenário político e cultural de todo um século.

Para tais grupos radicais, se soubessem que o inventor da roda possuía escravos negros em sua tutela, não surpreenderia se começassem a exigir a demolição de qualquer veículo ou equipamento que possua em sua composição algum item giratório em seu próprio eixo. Desde um velocípede a uma retroescavadeira, tudo viraria pó nas mãos dos ineptos revolucionários que querem que toda uma sociedade pague por aquilo que indivíduos isolados cometeram num passado de contexto específico.

O interessante é que ambos os movimentos relacionados possuem um aspecto deturpadamente messiânico, no qual prometem aos seus seguidores o livramento de opressões atuais com o devido derramamento de sangue, mas não o deles próprios, e sim o daqueles que eles acusam. E isso é o que caracteriza grande parte das lutas sociais: livrar os supostos oprimidos de seus algozes e fazê-los entrar na terra prometida sob regime do seu próprio apartheid onde não haverá nenhum controle e governo, a não ser por parte dos seus libertadores.

No fundo, qualquer movimento que tem como foco lutas sociais está pautado num paradigma religioso, muitos até desvirtuando conceitos e doutrinas oriundos do próprio cristianismo como, por exemplo, a figura de um Messias como sendo o único caminho para o paraíso. A diferença é que o cristianismo raiz e bíblico não precisa ridicularizar os seus inimigos ou matá-los, e tampouco deflagrar revoltas para impor suas ideias ao coração e mente das pessoas. A única arma do cristianismo é o amor, arma essa que dificilmente veremos em sua inteireza e fidedignidade nos movimentos de lutas sociais. Antes, estarão encharcados muito mais por narcisismo e egocentrismo, além de ódio, principalmente por aqueles que se colocam contrários às suas exigências usurpadoras.