Obedecer a lei econômica é melhor que sacralizar a falsa política

Imagem: ilustrativa.

“A primeira lição da economia é a escassez: nunca há o bastante de algo para satisfazer todas as necessidades daqueles que o querem. A primeira lição da política é ignorar a primeira lição da economia.” (Thomas Sowell).

Muitos daqueles que aspiram por uma vida melhor acabam encontrando na ajuda governamental a única saída para os seus problemas financeiros, de moradia e de trabalho. O que eles não percebem é que geralmente o próprio Governo é o causador daquela condição de miséria ou pobreza em que eles se encontram inicialmente, antes de quererem obter aquela ajuda estatal. Como bem resumiu Harry Browne: “O Governo é bom em uma coisa. Ele sabe como quebrar as suas pernas apenas para depois lhe dar uma muleta e dizer: ‘veja, se não fosse pelo governo, você não seria capaz de andar!’.” 

O Estado e o Governo são duas faces de uma mesma moeda, tendo em vista que ambos trazem para si o controle de um território por meio da manutenção da ordem e segurança (polícia e militares) e o cumprimento das leis e da justiça (tribunais e juízes). Alguns podem discordar de tais conceitos, mas especificamente essas são as funções do Estado. O problema surge quando esse agente da ordem começa a adentrar em assuntos até então incomuns à sua jurisdição e que são desempenhados normalmente pelo mercado (e aqui me refiro ao setor privado). O campo econômico é um dos mais habituais. 

No caso do Brasil, ao ser detentor de bancos públicos, o Estado compete diretamente com os bancos privados. Não satisfeito com tal concorrência, ele ainda faz uso de mecanismos protecionistas para, se não barrar, dificultar a entrada de novos concorrentes. Não admira o fato de um país do nosso tamanho ter tão poucos bancos e uma falsa concorrência, onde predomina muito mais conluios do que competição isonômica.  

Longe de querer expor o Estado como um ser autônomo, é preciso lembrar que o Estado só move seus tentáculos devido à condução dos agentes políticos que detêm a máquina pública. Cada vez que um cidadão de pensamentos e hábitos assistencialistas e estatizantes assume uma cadeira em alguma Casa Legislativa (federal, estadual ou municipal), a balança do crescimento econômico fica descalibrada negativamente, e a tendência é que mais ideias estapafúrdias de tolhimento da liberdade de escolha e de gigantismo estatal surjam em algum momento. Não é de surpreender quando políticos do estatismo criam leis que oneram ainda mais o país com a justificativa de atender demandas dos mais pobres, enquanto não levam em consideração os conhecimentos mais básicos de economia. 

Infelizmente, uma população criada nessa cultura paternalista e imediatista, onde a esmola estatal é superestimada como um maná divino, tem sido o combustível de figuras públicas que veneram o planejamento central do Estado. A ignorância do populacho o faz entrar em uma espiral de duplipensar orwelliano, onde ao se odiar os políticos, acaba se amando o Estado que é guiado justamente pelos políticos que tanto odeiam. É como um cão que corre atrás do próprio rabo.  

Se por um lado, o conhecimento da ciência política não é valorizado pelos votantes e cidadãos como um todo (o que é o divisor de águas entre a racionalidade e o sentimentalismo), por outro lado, do mesmo modo, o conhecimento da economia é descartado não só por esses mesmos votantes e cidadãos, mas principalmente por aqueles que eles elegem. O resultado é uma confiança cega no establishment como provedor e financiador de qualquer demanda apresentada disfarçada de direito ou assistencialismo. 

O bolsa-família, por exemplo - que deveria apenas ser uma medida de curto prazo para sanar as carências e deficiências da camada mais miserável da população, e que capacitaria essas pessoas a procurarem emprego, se livrarem do benefício e se manterem por conta própria - fez o caminho oposto do que é a sua ideia original. Na teoria, se contabilizaria o número de pessoas que deveriam sair do programa por já se manterem por conta própria, após um período no benefício. Mas na prática, o Governo vangloriava-se pelo número de pessoas que adentravam no programa, sem possuir nenhuma perspectiva de um dia “andarem com as próprias pernas”. Muitos dos beneficiários se fazem do famoso e vergonhoso “jeitinho brasileiro” para manter o benefício do programa, conquanto já estejam trabalhando e tenham ascendido na camada social.  

Em muitos casos, esse assistencialismo do Estado é utilizado pelos políticos como moeda de troca para se manterem no cargo, trazendo para si a alcunha de salvador da pátria, pai dos pobres ou herói nacional, sempre se valendo da ignorância ou idolatria dos votantes como principal arma para sua reeleição. Da mesma forma que os governantes não levam em consideração os rombos financeiros e econômicos originados na gestão, os votantes também não estão interessados em conhecer esses danos. Para eles, os fins sempre justificam os meios. Por isso, não é de admirar quando, mesmo vindo à tona crimes cometidos por esses políticos enquanto estavam no poder, não causa muita indignação naqueles beneficiados pelos programas implementados na administração prévia. 

A ignorância e idolatria dos votantes os faz relativizar corrupção, improbidade administrativa, tráfico de influência, superfaturamento de obras, lavagem de dinheiro e afins, mesmo que se mostre que cada benefício concedido esteja enlameado por crimes cometidos contra o Erário Público. No fundo, para cada político populista há um votante que, se possível, venderia a própria alma ao diabo só para ter suas necessidades satisfeitas.  

Vencer as mentiras e falsas promessas de políticos ardilosos só será possível quando cada votante e cidadão compreender que nem todos podem ter aquilo que desejam e nem todos podem conquistar aquilo que disputam. Não que sejam proibidos de obter, mas que não devem usurpar de outros para se beneficiarem. É por não obedecer à primeira lição da economia que políticos populistas e demagogos gastam mais do que arrecadam (e gastam mal), são irresponsáveis com as contas públicas e prometem o impossível para um público cada vez mais dependente e narcisista.