Paciente diagnosticado com Covid-19 em Irecê desabafa sobre linchamento virtual: “Nunca desdenhei ou fiz piada com essa doença”

Emerson Leão conhecido como “Cavalinho” - Foto: Ilustração.

Emerson Leão conhecido como “Cavalinho”, 33 anos, foi diagnosticado como positivo para o novo coronavírus (Covid-19) identificado pelo exame de teste rápido fornecido pelo Ministério da Saúde, depois de ter ser sido infectado em Manaus-AM.

Depois do resultado divulgado nesta terça-feira (14), ele tornou-se alvo de um linchamento virtual por conta de postagens em seu perfil nas redes sociais e grupos de WhatsApp.

Imagens e áudios mostram o rapaz supostamente minimizando os efeitos da doença, criticando o isolamento social e convocando amigos para festas. No entanto, ele contesta a versão amplamente divulgada e diz que as postagens foram tiradas de contexto.

“Registro que não tive em farra nenhuma, nem live, contato com pessoas, e nem com aglomeração. Os vídeos que estão postando são antigos e maldosos, sou pai de família e reconheço que não cumpri a norma completa dos órgãos de saúde. Sou uma pessoa do bem e não mereço os massacres e exposições que estou passando com minha família”, disse.

LINCHAMENTO VIRTUAL

Com a integração das tecnologias na sociedade, é cada vez mais comum ver atitudes de linchamento virtual nas redes sociais. São situações em que as pessoas são julgadas e já condenadas por outras pessoas no ambiente virtual, destruindo histórias e reputações.

Como exemplos recentes, já tivemos casos de linchamento envolvendo figuras políticas, como a vereadora Marielle Franco, que após ser assassinada foi associada, sem provas, ao tráfico de drogas. Também o caso do garoto Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, baleado na barriga por uma bala perdida, durante uma operação da Polícia do Rio de Janeiro, que também, depois de morto, foi associado ao tráfico, mais uma vez sem provas. Além disso, o aumento recente de ataques virtuais a figuras políticas e jornalistas.

De acordo com o palestrante e especialista em marketing digital, Rafael Angeli, que já foi professor da área, esse tipo de ação ganha ainda mais força quando se envolve questões políticas.

“Nos últimos tempos, nós temos acompanhado muitas campanhas de disseminação de ódio, vindos da direita e da esquerda. São materiais compartilhados com conteúdos que, quando chegam até uma pessoa com pensamento negativo por questões de militância, independente do lado, ela acaba falando mal de alguém ou comprando uma briga virtual sem sequer saber o que está acontecendo. E essa pessoa sequer tem a preocupação em checar a veracidade das coisas. Ela guarda isso para ela e ataca. É o que chamamos de internet B, quando o meio é usado para coisas negativas”, explica.

Ainda segundo o especialista, o anonimato no ambiente digital propicia esse tipo de comportamento. “Quem começa a disseminação de ataques é um anônimo, depois disso ele atinge pessoas reais que compram essa briga, e isso vai passando para frente. Na maioria das vezes, a disseminação começa de robôs, pois se for de pessoas reais, elas podem responder jucidialmente. E, mesmo com a segurança adotada por algumas redes sociais, esse tipo de ataque acontece quase todos os dias”, afirma.

Por Gilberto Neiva/074 News