Políticos-babás "amam" os pobres, e farão de tudo para que eles permaneçam pobres

Imagem ilustrtiva.

O problema é que em vez de empurrá-lo para cima, puxam-lhe para baixo

INALDO BRITO | Algumas pessoas mais pobres possuem um tipo de postura face ao desemprego que revelam bastante o reducionismo socioeconômico em que elas se enclausuraram. Essa postura é mais ou menos assim: "Se não tenho emprego, então é melhor eu pedir do que roubar.", como se as únicas alternativas para o desemprego fossem mendigar ou roubar. O mais interessante é que essa postura não se restringe à falta de instrução, pelo contrário, muitas vezes ela é motivada pelos que se dizem instruídos.

Quando alguém diz "é melhor pedir do que roubar", ele está perpetuando falaciosamente que as únicas soluções para o desemprego são duas condições que se antagonizam enquanto expressões morais: uma tem a ver com o fato da vergonha e da decência (pedir), enquanto a outra mostra-se infame e petulante (roubar). Fazer uma é negar automaticamente a outra. No entanto, quando se usa aquela frase ("é melhor pedir do que roubar") o que se expõe, na verdade, é um desejo pecaminoso por querer se cometer a segunda alternativa, pois se assim não fosse jamais ela poderia entrar na locução.

Ao reduzir a consequência do desemprego a apenas essas duas alternativas, a mensagem que passa é a de que tanto uma como a outra são lícitas, embora só uma das duas lhe faça um criminoso. Quando o pedinte coloca como condição de pedir o fato que tal atitude é melhor do que roubar, ele expõe o seu real desejo como indivíduo, que, nesse caso, roubar traria uma mudança mais rápida na atual situação econômica do pedinte, porém, como ainda não bateu o desespero, pode-se continuar a pedir, conquanto esse pedir já possua ares de intimidação e coerção.

No Brasil, atrelou-se o fato de que trabalho de verdade só é aquele registrado em carteira. Ou seja, as pesquisas nacionais só consideram como de fato trabalhadores (empregados) aquelas pessoas que possuem a carteira de trabalho assinada. Os que trabalham informalmente, seja como vendedor de rua ou atividades afins, pertencem ao rol do desemprego. Não é à toa que nos últimos anos o número de desempregados no país tenha permanecido ainda alto, com base nos parâmetros das pesquisas sobre emprego.

Jamais passa pela cabeça dos que emitem a frase do primeiro parágrafo que uma outra alternativa ao desemprego seria bater de porta em porta oferecendo serviços domésticos ou atuar informalmente, mesmo por algum tempo, a fim de ter o suficiente para sobreviver, até que as coisas possam se rearranjar financeiramente. É fato que, para muitas dessas pessoas, melhores oportunidades não chegarão tão rápido e nem na forma como sonham, tendo em vista que tais oportunidades demandam um grau de conhecimento técnico, expertise ou conhecimento intelectual que a maioria delas não possui. No entanto, o que deveria ser algo motivador, para que pudessem sair do marasmo profissional, acaba se tornando em mais um fator para acomodação e mendicância.

As camadas mais pobres da população, e que demonstram pouca compreensão sobre os processos socioeconômicos que conduzem à profissionalização e ao empreendedorismo, são alvos fáceis de políticos populistas e grupos sociais que ainda perseguem uma luta de classes utópica. 

No caso dos políticos, vê-se bem isso quando alguns prometem assistencialismo barato, tendo a função primordial de criar (e manter) um curral eleitoral, onde de lá possam colher votos e conclamar massas ignóbeis para defender corruptos, com a desculpa de que eles (os corruptos) foram os únicos personagens que um dia pensaram no "bem" dos mais pobres. No entanto, o fato real é que tais políticos querem (e gostam de) manter esses mais pobres na própria miséria, sem lhes dar nenhuma perspectiva de crescimento econômico pessoal - alguns juram que poder viajar de avião ou o filho ter acesso a uma universidade era o maior sonho que poderiam realizar, e tornam-se contentes com pífias migalhas temporárias, mesmo que lhes digam que seria muito melhor se lhes fosse dado o que de fato promove o desfrutar permanente de tais condições: liberdade econômica, algo que não combina muito com políticos populistas amantes do assistencialismo.

No caso dos grupos sociais, vê-se isso com clareza quando alguns desses grupos, sem lhes ser pedido ou demandado, nomeiam-se defensores daquela minoria específica, e, assim, tornam-se o intermediário de uma relação com políticos e burocratas que já nasce viciada ou enviesada. Isso acontece da seguinte forma: o grupo social só irá se reportar ao burocrata ou político que ele sabe que é um possível simpatizante da causa, e, claro, o burocrata ou político só "mexerá os pauzinhos" se visualizar naquela relação uma possível troca para também se dar bem de forma eleitoreira ou rentabilista, no melhor estilo uma mão lava a outra. O líder comunitário muitas vezes não está naquele cargo porque apenas e simplesmente está pensando no melhor para sua comunidade. Pelo contrário, ali torna-se um trampolim para ele ser melhor visto por políticos e burocratas também interessados em manter seus cargos, nem que para isso tenham que realizar acordos indigestos com a ralé de sua cidade, algo muito bem retratado por um personagem icônico de Chico Anysio: Justo Veríssimo, o deputado que tinha horror a pobre, mas que a única coisa que dele utilizava e requeria era apenas o voto. 

Reclamar que não há trabalho é sempre a melhor atitude do preguiçoso ou do beneficiário de políticas públicas assistencialistas. E, claro, o político ou burocrata que planeja tal paternalismo está interessado em manter a condição de dependência dos mais pobres, pois só assim ele (o pobre) pode ter alguma utilidade para os partidos-babás. Dar liberdade ao pobre no modo como ele empreende, investe, poupa ou gasta seu próprio dinheiro não é muito bem quisto por tais partidos, já que, se assim o fosse, poderiam perder boa parte do curral eleitoral que tanto demoraram para erguer. Portanto, nada melhor que mantê-los sempre na coleira, prontos a serem "gratos" ao padrinho partidário que lhes adotou, mesmo que eles nunca tenham solicitado tal adoção, da mesma forma que o caranguejo que está saindo do balde é "ajudado" por seus semelhantes. O problema é que em vez de empurrá-lo para cima, puxam-lhe para baixo.