Quando ser oposição vira profissão, quem sofre é a população

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Um dos tipos de pessoas mais intrigantes que há em uma sociedade é o opositor profissional. Tal indivíduo não nasce com essa condição, mas acaba se tornando assim conforme o tempo passa e ele é submetido a determinadas situações em que suas ideias, sonhos e empreitadas não são satisfeitas ou não se realizam. Para entender melhor como age essa pessoa, um simples exemplo pode ser esclarecedor.

Suponha que você tenha um vizinho, o José, que não cuida da própria casa. A fachada está deteriorada, a calçada cheia de sujeira, o telhado caindo aos pedaços e o quintal com infestação de ratos. Enquanto isso, você procura sempre melhorar o seu imóvel e cuidar dele como se fosse seu próprio filho. Num belo dia, você decide contratar uma empresa para repintar a fachada da sua casa, e o dono da empresa lhe diz que se você indicar um amigo, vocês receberão de brinde uma limpeza do teto e a troca de telhas danificadas. Então, eis que você se lembra do José, aquele vizinho negligente. Além de ser uma ótima oportunidade de contratação, ainda poderá amenizar a situação bagunçada em que aquela casa próxima à sua se encontra. Ao apresentar a ideia para o José, e ainda se dispor a pagar a metade da parte dele, ele recusa. Mas não apenas recusa como também começa a colocar vários empecilhos para que você não contrate o serviço. E não satisfeito, ele ainda convoca uma assembleia de moradores, e inventa diversos motivos para que todos possam também apoiá-lo e fazer com que você não realize a reforma. Depois de tantas reuniões, gritarias e imposturas, eis que você desiste de contratar a empresa e acaba realizando o serviço por conta própria.

O que o José fez foi agir como um opositor profissional. Ele, além de recusar algo que seria benéfico para si, já que ele não possuía condições financeiras para tal empreitada, ainda dissuade você dos seus planos. Com a desculpa de não querer mudar o status quo da sua residência, conquanto ele mesmo não perceba os perigos que causa não só a ele, mas a quem adentra ao seu domicílio, José acaba utilizando inclusive mentiras e invencionices para obstruir uma boa ideia que daria ótimos resultados para todos. Esse tipo de personalidade é mais comum do que se imagina, principalmente na política.

Após a disputa de uma eleição entre dois partidos, é natural, quando se começa o mandato, tacharem os políticos do partido ganhador como da situação, enquanto que os do partido perdedor leva o codinome de oposição. Tal relação deveria ser harmônica no sentido de que quando os da situação propusessem leis, os da oposição deveriam se comportar racionalmente, analisando a viabilidade econômico-financeira daquele projeto. Mas o que acontece, na verdade, é um antagonismo absoluto em face de tudo que os colegas da situação propõem, mesmo projetos que seriam benéficos para a população.

Esse comportamento é feito majoritariamente de caso pensado. Na verdade, muitos políticos de oposição, antes mesmo de começar o novo governo, já definem a sua postura na Casa Legislativa como peremptoriamente contrários a qualquer proposta que for apresentada pelos parlamentares da situação. Um indivíduo assim é claramente um opositor insensato, irracional, inepto e que, mais cedo ou mais tarde, se revelará como alguém inútil do ponto de vista da democracia representativa, já que ele demonstrará estar agindo não em busca do bem maior para a população, mas sim do que ele pode conquistar no seu próprio círculo partidário e ideológico.

Quando há partidos que procuram atuar sem se associar cegamente a nenhum dos lados (situação ou oposição), pode ser que esses mesmos partidos (os seus parlamentares) acabem se tornando um inconveniente para os partidos com mais tradição e manipulação política. No Brasil, isso ficou bem claro quando veio à tona novamente as votações para a aprovação do Fundo Eleitoral de Campanha. Mais de 90% dos partidos ali representados se posicionaram a favor do repasse de dinheiro público para os partidos realizarem suas campanhas. Somente um partido foi contrário. Esse partido foi o Partido Novo. Nos demais partidos, um ou outro parlamentar que possui uma visão mais consciente da utilização do Erário se posicionou contrário.

Em suma, partidos e parlamentares da situação e oposição, que se antagonizam, dessa vez se uniram por um “bem comum”: o uso de verba pública para campanha e outras regalias, a fim de agigantar ainda mais suas agremiações. Contrário a tudo isso estava o Partido Novo que, por mais que demonstrasse o tamanho do ultraje e cinismo para com a sociedade na aprovação desse Fundo, acabaram não sendo ouvidos. Os parlamentares da situação e oposição conseguiram impor ao Partido Novo situações constrangedoras, que acabaram indo de encontro aos princípios do partido, já que pela nova lei do Fundão, os partidos que não quiserem utilizar o dinheiro público, terão a sua parte redistribuída entre os demais partidos – algo que o próprio Partido Novo ainda tentou reverter a fim de que fosse destinado à educação ou à saúde, mas sem sucesso.

Opositores profissionais são também bastante atuantes nos círculos acadêmicos. Se determinado artigo foge da linha de pensamento adotada pelo corpo docente de um curso, seja graduação ou pós, ele logo se torna o mais cotado para acabar longe dos periódicos e quaisquer revistas de renome. Basta sair um pouco à tangente do viés professado pela elite acadêmica que já é motivo suficiente para se pedir a cabeça do rebelde.

Recentemente, nas universidades federais, foram realizadas votações para saber se aderiam ou não a proposta do governo denominada Future-se – em que é buscado a implementação de modelos de gestão privada na educação pública, com objetivo de fomentar a inovação e as políticas pró-mercado a fim de se melhorar os índices de produtividade e eficiência das pesquisas públicas universitárias –. Com exceção de algumas poucas universidades, a maioria se colocou totalmente contrária a qualquer tipo de “privatização” da universidade, embora tenham sido poucos os que de fato leram o projeto ou ao menos observaram o que já é adotado semelhantemente em outros países e que dá certo. Pelo contrário, uma aparente unanimidade burra por parte de gestores públicos, docentes e técnicos, revelou-se um exemplo claro do que é ser um opositor profissional.

Em suma, o que podemos deduzir daquele que é um opositor profissional é que ele sempre colocará seus interesses particulares acima do interesse público e, pior, ainda propagará a quem for que o questione de que aquilo que ele defende possui uma aura de justo, probo e comunitário. Pura balela! Prega estar agindo com consciência social, embora sua consciência já tenha se transformado em um depósito de ressentimento, inveja e cobiça desenfreada. No fim, os únicos interesses que o opositor profissional respeita são os seus próprios – que, por sinal, não englobam altruísmo, senso ético e moral.