Quem quer lacrar, dificilmente lucrará

Imagem ilustrativa.

Entender o funcionamento do mercado consumidor não se limita a ser de um sexo ou de outro, mas sim de quanto se estuda para compreendê-lo

INALDO BRITO | Recentemente, por conta da Copa do Mundo de Futebol Feminino, veio à tona novamente a questão da disparidade salarial entre homens e mulheres. Como se não fosse mais do mesmo, as pessoas que levantam essa “polêmica” oportunista não conseguem levar em consideração os fatores econômicos e sociais que faz com que haja tal diferença remuneratória entre os sexos.

O fator básico que o leitor precisa saber quando se discute níveis salariais entre as pessoas é o quanto de retorno financeiro aquela pessoa pode trazer para a empresa. Ou seja, não é a cor da sua pele ou o seu gênero que define quanto é a sua renda salarial, mas sim quais benefícios monetários você desloca para o seu empregador, com base na sua produtividade e no alcance que aquilo terá mercado afora.

Marta pode ser a melhor jogadora do mundo (como já foi), mas isso nada adiantará se o público estiver mais interessado em assistir Neymar ou Messi. Eis outra lição: conquanto você possa ser bastante produtivo, isso só terá significância se houver algum valor dado ao que foi produzido. E isso passa, dependendo da empresa, por maiores campanhas de marketing e de convencer grandes corporações a aceitarem e bancarem a ideia.

A discussão que beirava em algumas emissoras de TV é que dever-se-ia dar mais projeção ao futebol feminino, entretanto nenhum dos jornalistas ou comentaristas dessas emissoras reconheciam que não  transmitem o campeonato estadual ou nacional feminino em sua grade de horários. Sem isso, como querer que as pessoas simpatizem com a causa? Nota-se a pura hipocrisia e demagogia de tais figuras.

Ronda Rousey, famosa atleta de MMA, ao ser questionada por um repórter sobre o que ela achava do fato de ganhar menos que os homens no mesmo esporte, respondeu de forma sóbria e certeira. Disse que se ela ganhava menos seria justamente pelo quanto de lucro financeiro retornava a quem estava investindo nela. Se as pessoas querem assistir mais a lutas masculinas do que femininas, nada mais justo do que aquele lutador (caso vença) receber mais gratificações do que uma lutadora que não atrai tanto público (mesmo que ela seja bastante conhecida).

É uma situação parecida, mas inversa, o que ocorre no mundo da moda. Gisele Bündchen é muito bem paga por tudo aquilo que pode retornar de investimento a quem a contrata. O modelo mais bem pago do mundo ganha 90% a menos do que Gisele, e nem por isso se vê uma repercussão como a que aconteceu com o futebol feminino. Nota-se também o viés puramente partidário e militante na situação.

Em suma, resumir os ganhos salariais meramente a fatores fenotípicos é fruto de mau-caratismo e desonestidade. Se a engenheira que acabou de entrar na empresa exige ganhar o mesmo salário do engenheiro que já está ali há dez anos, e que foi fundamental para o lançamento de diversos produtos, apenas por achar que ela não merece ser tratada diferente por ser mulher, ela está apenas demonstrando sua inépcia face às relações mercadológicas e financeiras. O mesmo serve se fosse o contrário – um homem novato na empresa exigindo a mesma remuneração de uma mulher que foi crucial para o lançamento de novas marcas. Entender o funcionamento do mercado consumidor não se limita a ser de um sexo ou de outro, mas sim de quanto se estuda para compreendê-lo.