Quem tem políticos de estimação é mais fácil se tornar revolucionário

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INALDO BRITO | Aqueles que se enveredam em lutas revolucionárias normalmente se tornam semelhantes aos tiranos, líderes populistas ou fascistas que eles tentaram derrubar ou se opor. Assim acontece com quem acaba se juntando “religiosamente” a qualquer projeto de poder, seja ele partido ou grupo político, bem como pretensos messias políticos, que dizem guiá-los a uma nova nação, a um novo estado, a uma nova comunidade, bastando apenas que os seguidores jurem ser totalmente submissos ao(s) líder(es), independentemente das ordens que este(s) lhe(s) der(em).

O processo de convencimento e hipnose ideológica é o mesmo e independe do espectro político ao qual se simpatiza. Em nações com históricos de pobreza e subdesenvolvimento, os líderes continuam sua sangria aos cofres do estado e aos bolsos dos cidadãos. Eis que desse caos socioeconômico surgem figuras com a receita mágica para os problemas abissais e pré-históricos que a região enfrenta. Aos poucos, a sedução das palavras emitidas misturada com a frustração dos corações individuais inicia o processo revolucionário.

Para os incautos que acabam caindo na lábia dos populistas, não demora muito até que eles se tornem bloquinhos em meio ao muro cinzento que está sendo construído pelo líder do povo, pelo organizador das massas, pelo progressista do amanhã, pelo revolucionário da Disneylândia. Uma coisa que torna difícil de os conduzidos se aperceberem como massa de manobra, ou peões de um jogo político de soma zero, é a certeza cega e fideísta de que a fantasia que lhes foi vendida se torna quase palpável, muitos sentem até o pré-gostinho dos espólios que se obterá após a alçada ao poder. Eles não se veem como integrantes da base de uma pirâmide de cartas que logo, logo irá soçobrar.

Lembro-me de ter um professor que sempre ia para as aulas vestindo uma camisa e nela afixado um broche do partido o qual ele venerava. Nós naquela época não levávamos muito em consideração isso, até era motivo de gozação, ríamos da situação, mas isso não afetava o professor. Era como se ele nos visse como pobres cordeirinhos infantis que desdenhavam do que não conheciam, mas ainda assim não dávamos muita bola. Pelo que me recordo daquela turma, poucos ou quase nenhum dos alunos seguiram, se aliaram ou reverenciaram o partido (e/ou seus políticos) que o professor venerava, mas fico me perguntando se houve (ou há) um efeito semelhante em tantas outras turmas que ele adentrou (e adentra) com aquele broche na camisa.

A luta revolucionária é vendida como um produto inerente ao jovem. Quando se está insatisfeito com governos (e, acredite, não ser amigo de um político já lhe coloca automaticamente na turma dos insatisfeitos), em vez de procurar se vacinar contra eles e suas promessas megalomaníacas, por meio do estudo histórico e crítico do que é a política em si, infelizmente a maioria acaba se rendendo a outra figura política que diz ter a solução para os nossos problemas e a cura das nossas mazelas, bastando apenas entregar não só o seu voto, mas a sua alma e, assim, eles poderão utilizá-la ao bel prazer dos seus projetos de poder. Dessa forma, o ciclo movediço se perpetua: insatisfação gera frustração, que gera fideísmo, que gera decepção e que depois gera insatisfação, e assim começa tudo de novo.

Todos somos susceptíveis a ser enganados por elogios, palavras de poder sedutoras ou mesmo mantras revolucionários. Quando ligamos a TV no horário eleitoral gratuito, vemos o mercado fétido e escorregadio das conclamações a projetos de mudança, projetos de renovação política, projetos revolucionários de poder, enfim, vemos línguas de serpentes, de lambe-botas, ou de cobiça, martelando nas nossas mentes e corações de que nosso papel na política é fundamental. Entretanto, o que eles não mostram, expõem ou explicam é que o fundamental a que eles se referem é o que atenda ao projeto de poder que eles ou os seus partidos definiram para aquela jurisdição.

Se isso já não fosse o bastante, mesmo quando acessamos nossas redes sociais, deparamo-nos com os veneradores de políticos e partidos que opinam sobre qualquer assunto, mas principalmente aqueles que estiverem relacionados ao totem político que eles seguem cegamente. Por exemplo, se, por um lado, o campo de demonstração partidária afetuosa do meu professor, naquela época, era restrito às classes em que ele dava aula ou aos locais públicos em que ele frequentava, hoje, por outro lado, a área de divulgação, defesa e veneração ao partido que ele reverencia tem um alcance muito maior pelas redes sociais, afinal, até uma foto pública fala mais do que mil palavras ocultadas.

A internet deu voz não apenas aos ineptos, mas amplificou a algazarra daqueles que passam pano para seus candidatos ou partidos de estimação, independentemente dos crimes cometidos, da falta de integridade ou da quebra de decoro que eles praticam às escondidas e às claras. Em épocas de eleições, na verdade estamos apenas trocando seis por meia dúzia (a diferença entre eles está apenas no exterior), e é por isso que não deveríamos depositar nossa esperança naquele político que se promove como o único que pode salvar-nos do apocalipse socioeconômico em que estamos.

Ainda haverá lambe-botas que continuarão dizendo aos quatro cantos do país que sua luta é virtuosa, mesmo que um pouquinho de revolução, mentiras, desinformação e tirania necessitem ser utilizadas para chegar ao ou se manter no poder. Não ser massa de manobra, gado eleitoral ou fanático de político e partidos já é um bom começo pra quem quer de fato fazer a diferença.