Se os gêneros cedem ao politicamente correto, os pilares da sociedade são arruinados

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Com toda essa introdução do politicamente correto nas searas das comunidades, um conceito que tem se diluído bastante é referente aos gêneros. Masculino e feminino, hoje, não são mais vistos como definições absolutas. Pelo contrário, a absorção de pensamentos politicamente corretos em escolas, empresas, repartições públicas e até mesmo igrejas faz com que não se admita descrever os papéis do homem e da mulher como sempre os conhecemos.

Há vinte anos, era comum referirmo-nos às nossas mães e avós como donas de casa, apesar de uma ou outra trabalhar fora, enquanto que nossos pais e avôs eram vistos como os provedores e responsáveis da família. Com a adoção de pensamentos ideológicos oriundos do feminismo, deflagrou-se uma guerra contra todo tipo de pensamento tradicional sobre os gêneros.

Atualmente, há dois polos no politicamente correto que se complementam. Um é o igualitarismo, que busca colocar homem e mulher como indivíduos que possuem as mesmas capacidades e vigores, independentemente das atividades a se executar. Se normalmente há mais homens do que mulheres que trabalham com carregamento de botijões de gás em caminhões para distribuição, segundo o igualitarismo, qualquer mulher também possui a mesma força e vigor para esse trabalho, apesar de não vermos sequer as próprias defensoras do pensamento movendo um músculo para tentar provar sua tese.

O outro polo é o tal do empoderamento feminino, que busca colocar a mulher como mais capaz e mais adequada a qualquer trabalho, e que procura, de certo modo, menosprezar as capacidades masculinas em detrimento tanto da promoção feminina a cargos mais e mais altos como no quantitativo em relação aos homens.

O fato interessante nesses dois polos é que ambos visam única e exclusivamente realçar a figura da  mulher, enquanto suprimem qualquer indício de presença ou dominação masculina. O resultado disso é que o próprio igualitarismo conseguiu impor aos homens que abdicassem de suas posturas viris em determinados postos de trabalhos com o intuito de darem mais e mais espaço às mulheres a fim de empoderá-las na carreira.

Por meio de políticas de convívio, grupos feministas e de luta igualitária começaram a tachar a masculinidade dominante como tóxica, sem levar em consideração que a maior parte das conquistas obtidas até então no Ocidente foi justamente derivada dessa dominância varonil. Desde os primórdios dos tempos, eram os homens quem iam para guerra, quem caçavam, quem protegiam suas cidades e suas famílias. Os adeptos do politicamente correto acabam por desprezar qualquer evidência histórica que comprove tais feitos, preferindo resumi-los simplesmente como machismo.

Conheço uma empresa, por exemplo, em que todos os integrantes da Comissão de Ética são mulheres. Não se vê nenhum homem fazendo estardalhaço por não se sentir ali representado, ainda mais sabendo que o meio para se tornar parte da comissão é por seleção. Pelo contrário, até se compreende o fato de haver só mulheres, tendo em vista que elas já são dotadas inerentemente de um senso de probidade e moralidade muito maior que os homens, além de saber como tratar situações desonestas e corruptas melhor do que os seus pares masculinos.

Agora imagine se em vez de apenas mulheres, houvesse unicamente homens. Provavelmente já teria surgido alguma defensora do igualitarismo e do empoderamento feminino reivindicando a presença de mulheres na comissão, se possível até exigindo cotas para elas, conquanto nenhuma mulher demonstrasse interesse pelo cargo.

Nos últimos anos, temos presenciado uma efeminação masculina em contraste com uma masculinização feminina, onde homens se sentem envergonhados de mostrar sua varonilidade ao emitir opiniões, enquanto mulheres possuídas de vanglória não medem esforços para demonstrar que são tão mais fortes e “viris” quanto os próprios homens com quem trabalham. O resultado é um desvirtuamento dos padrões de referência para crianças e adolescentes.

Na verdade, em várias escolas não se ensina mais que menino brinca de carrinho e menina de boneca (definições essas que sempre foram utilizadas para que a criança se conscientizasse do sexo no qual nasceu). Com isso, não é de admirar que outra consequência dessa anulação dos gêneros é o surgimento de indivíduos que se autodenominam como transgêneros (homens biológicos que se veem como mulheres e vice-versa).

A transgeneriedade aos poucos vem tentando controlar a forma como as pessoas comuns se referem a indivíduos que assim se denominam transgêneros. Você já deve ter visto alguma escrita onde em vez de se utilizar “prezados”, o adepto do politicamente correto utiliza “prezadxs, prezad@s” a fim de poder abarcar aqueles que não se identificam com o sexo de nascença. Palavras em textos, e-mails e até mesmo artigos (que todos utilizam e sabem ser comuns para ambos os sexos) acabam sendo substituídas por novos caracteres com a intenção de que quem é transgênero também se sinta acolhido.

Certa vez, em um material do curso de pós-graduação em neuroeducação da Universidade Maurício de Nassau, a professora mudou quase todos os caracteres de palavras que denotavam algum gênero específico. Palavras como “todos, todas, procurá-los” etc., se transformaram em hieróglifos (todxs, tod@s, procurá-lxs) que deixavam o conteúdo da apostila maçante de ser lido. O absurdo maior não é nem o uso de tais caracteres, mas sim o fato de ser utilizado (e incentivado) por alguém da área de educação.

Anthony Esolen, em seu livro Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho, reserva um capítulo para falar que esvaziar os conceitos sobre o que é ser homem e ser mulher é um dos métodos de tornar nossos filhos presas fáceis para qualquer mau-caráter com ideias revolucionárias, pois quando você não sabe mais definir o que é o masculino e o que é o feminino, então tudo é permissível, desde um homem bater em uma mulher que pensa diferente dele, como uma mulher não se subordinar ao seu chefe, não levando em consideração as qualidades profissionais dele (apenas olhando para o fato de ele ser homem).

Temos testemunhado tempos em que os adeptos do politicamente correto optam por coagir a sociedade a um padrão de convívio entre homem e mulher totalmente destoante do que é tradicional, conservador e (diria até) judaico-cristão, já que tais valores foram a base do desenvolvimento ocidental. Eles precisam impor suas ideias, pois sabem que na base do convencimento não conseguem ter sucesso com ninguém – ainda mais quando agem com puro sentimentalismo tóxico.

O problema, como até é o título do livro de Richard M. Weaver, é que ideias têm consequências, e o que é preciso saber é se todos esses adeptos estarão dispostos a enfrentar os infortúnios que uma reengenharia social como essa pode acarretar a todos, ou se preferirão agir como Nero após incendiar Roma, colocando a culpa em quem não tem nada a ver. Até lá veremos quem de fato tinha razão: se os conservadores, preocupados em manter as bases da sociedade e dos papeis respectivos de cada gênero; ou se tais adeptos revolucionários, que apenas querem ver o circo pegar fogo, a fim de demolir qualquer sombra do que faça referência ao Logos Divino.