Ser ou não ser produtivo, eis a questão

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Uma das coisas que caracterizam empresas de sucesso é a produtividade. Produtividade é o fator que diz se estamos fazendo o que nos foi pedido, da melhor forma no menor tempo possível, a fim de que haja benefícios para o executante da atividade e, consequentemente, para a organização na qual ele trabalha. Quando lembramos de que estamos num país preponderantemente relaxado para o que é trabalho e que procura garantir mais direitos (ou melhor, privilégios) trabalhistas no emprego do que valorização da mão de obra, seja por mérito ou desempenho, só podemos atestar que não somos produtivos como deveríamos. E isso mina as expectativas de qualquer crescimento e desenvolvimento profissional. 

O ser humano foi criado não apenas para trabalhar, mas para ser produtivo. Quando sair de casa para o labor se torna um fardo e não uma alegria, a nossa produtividade tende a diminuir e, consequentemente, nossa vida tende a ficar mais frustrante por saber que não atingiremos todas as metas. O ambiente pode ser o mais aconchegante do mundo para as atividades, mas não será suficiente para nos confortar e nos estimular. E essa tem sido a jornada de muitos. Não é à toa que nos muitos ambientes em que adentramos, vemos pessoas de “cara amarrada”, cabisbaixas, desanimadas ou pouco se lixando para o serviço. 

Numa empresa onde não há a definição de metas concretas para a equipe ou o mau gerenciamento dessa equipe, a tendência é que haja um descompasso na produtividade dos membros, onde alguns serão mais produtivos do que outros, embora continuem ganhando o mesmo salário ou até menos do que aqueles que são improdutivos. Isso também pode ser desanimador. Se houvesse um contrato de trabalho em que os pagamentos fossem feitos por hora trabalhada, cuja produtividade fosse atestada pelos resultados, dificilmente haveria tantos preguiçosos. A produtividade, quando bem utilizada como ferramenta de análise laboral, é o que separa os verdadeiros trabalhadores daqueles que são ociosos. 

Nosso país possui uma cultura que não valoriza a mão de obra – aquele que é o encarregado pelo serviço. Se queremos reformar nossa casa, preferimos nos envolver em uma atividade que não dominamos do que pagar o valor devido ao sujeito que possui anos de experiência na função de pedreiro. Se queremos um vestido de boa qualidade, preferimos permanecer sonhando em tê-lo do que pagar para que alguma costureira o produza para nós. Se queremos que nossos filhos sejam bons em matemática ou falem inglês, preferimos comprar livros para que aprendam por conta própria do que pagarmos um professor particular para ensiná-los. Por não valorizar a mão de obra, a produtividade é colocada como uma categoria pífia de desempenho e não como o caráter de cada indivíduo.  

A quantidade de horas que nos é imposta como carga semanal nem sempre reflete que somos tão produtivos naquela função. Das 8 horas de trabalho no dia, haverá momentos em que não necessitaremos de todo esse tempo para desempenharmos nossas atividades e haverá momentos em que esse tempo não será suficiente (acontece mais a primeira situação do que a segunda). Ficamos a jogar conversa fora, enquanto outros utilizam o tempo para estudar ou fazer qualquer outra atividade que não se enquadra no cargo exercido. Se o trabalho fosse feito de forma remota, de onde as pessoas moram, haveria um aproveitamento muito maior do tempo e, consequentemente, uma melhor produtividade. Isso já é possível em diversos países.  

Na França, a carga horária de trabalho semanal é de 35 horas e eles já pensam em reduzir mais ainda a fim de que o empregado exerça suas funções de sua própria casa. Segundo pesquisas, há uma contenção de gastos por parte da empresa quando o trabalho é feito de forma remota. A empresa chega a economizar milhares de dólares por ano apenas por não necessitar de que o empregado esteja no sítio da organização, gastando água, luz e transporte. Ele pode fazer suas atividades do conforto de sua casa e ainda ser mais produtivo, sobrando tempo para realizar outras funções ou até atuar em um segundo emprego, o que gera para ele mais renda. A máxima “tempo é dinheiro” nunca esteve tão certa. Nos Estados Unidos, alguns trabalhos, como operador de telemarketing ou secretária, podem ser exercidos da própria casa do empregado, o que também gera menos despesas e custos para a empresa. Quando a produtividade se torna o foco do trabalho, gera receita e contentamento para todos que o integram, direta ou indiretamente. 

O versículo bíblico diz que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co 15.33). Em algumas bíblias, traduz-se também por “as más companhias (grifo meu)[...]”, e não deixa de ser notório que num ambiente em que há tantas pessoas tóxicas, se não houver uma disciplina e uma atenção maior com quem se convive e o que se ouve, há uma grande chance de o empregado se tornar mais um no grupo das péssimas companhias. Em um grupo assim, conversa-se sobre aumento de salário, critica-se o chefe, fofoca-se sobre os colegas, fala-se mal do emprego, mas são poucos os que se preocupam ou conversam sobre estarem sendo ou não produtivos e o que fazer para tornarem-se assim. Fazer parte de um ambiente como esse mina as expectativas de alguém que quer mostrar trabalho e produção de verdade. Nesse caso, o trabalho remoto para esse funcionário seria extremamente benéfico, bem como para a empresa. 

Claro que nem todos estão prontos para trabalhos fora do ambiente da empresa, por isso é necessário que a empresa saiba distinguir tais funcionários e melhor aproveitá-los de forma que cada um desempenhe suas funções como melhor lhe agrade e seja vantajoso para a organização.  

Em empresas públicas, fala-se muito na estabilidade - é quase um mantra. Alguns dos que fazem parte delas vangloriam-se por estarem em uma condição melhor do que aqueles que compõem o setor privado. Dizem que não podem ser demitidos tão fácil assim, mas se aproveitam dessa condição para tornarem-se ociosos em seus cargos, não respeitam hierarquia e fazem o que podem para detratar e maldizer colegas. É com esse pensamento que muitos desses não desejam que a estatal seja privatizada, pois se assim acontecer, a tendência é de que a estabilidade no cargo só se mantenha se o empregado for produtivo. Caso contrário, que procure outro lugar para “desempenhar” sua morosidade. Empregados com esse tipo de perfil causam um desfavor no desenvolvimento de qualquer organização.  

Se podemos tirar uma lição da importância que tem a produtividade para uma empresa, está no fato de que quando somos produtivos, nós somos os maiores beneficiados, tendo em vista que ninguém está mais interessado no nosso crescimento e desenvolvimento profissional do que nós mesmos. O produtivo arruma maneiras de chegar ao objetivo; o improdutivo arruma desculpas de se manter longe do objetivo. Ser ocioso é estar mais perto da ruína e do fracasso pessoal.