Terminal Pesqueiro de Xique-Xique: um Elefante Branco às margens do São Francisco

Foto: Extraída do Gogle/Terminal Pesqueiro de Xique-Xique (BA).

Ao Pagina Revista, a Bahia Pesca disse estar analisando e dialogando com diversas entidades a fim de dar a melhor utilização ao órgão

Instalado em 1984 durante o governo João Durval, o Terminal Pesqueiro de Xique-Xique, gerido pela Bahia Pesca, foi um dos três Terminais - outros dois foram inaugurados em Sobradinho e Remanso - mais bem estruturado da Bahia. Infelizmente, de toda a sua imponência hoje resta somente um amontoado de ferro velho, um verdadeiro Elefante Branco.

Foto: Pagina Revista.

Antes de seu declínio, em 2005, que se acentuou nos governos Jaques Wagner e Rui Costa, o Terminal Pesqueiro de Xique-Xique contribuiu com a melhoria de vida do pescador que tinha seu produto comprado a preços justos, sem a figura do atravessador; todo o pescado era acondicionado e estocado em câmaras frias, além do trabalho de evisceração, como exige o S.I.F. Nos anos que antecederam sua decadência (devido a interferências política partidária no órgão), o consumidor podia comprar pescados de boa qualidade a preços módicos.

Sem investimento há quase 15 anos, e com todos os maquinários e câmaras frias quebradas, comidas pela ferrugem, aquilo que um dia foi o Terminal Pesqueiro de Xique-Xique encontra-se ocioso. “Infelizmente, com a política de trabalho do atual governador da Bahia, Rui Costa, muitos órgãos estaduais de apoio ao desenvolvimento rural sustentável foram extintos, ou desaparelhados”, pontua Jorge Pinheiro Meira, ex-gerente do Terminal Pesqueiro de Xique-Xique.

Promessa de revitalização fracassada

Em março de 2013, a Bahia Pesca prometeu revitalizar os terminais Pesqueiros de Xique-Xique, Sobradinho e Remanso. Infelizmente, nada do que foi noticiado aconteceu. A medida estabelecida visava requalificar os equipamentos e colocá-los em pleno funcionamento 30 dias depois. “Queremos devolver à sociedade e aos pescadores unidades que contribuam para o desenvolvimento regional, gerando emprego e renda às milhares de famílias que vivem da pesca”, prometeu na época, o presidente da Bahia Pesca.

Procurado pela reportagem do Pagina Revista, Antônio Laborda - gerente de operações da Bahia Pesca - disse que o órgão solicitou naquele ano, recursos ao então Ministério da Pesca para revitalização dos terminais, no entanto, “o País enfrentou nesse mesmo ano o início de uma crise econômica, que inviabilizou a liberação dos recursos”, justificou o gerente.

O Terminal Pesqueiro de Xique-Xique encontra-se desativado. Porém, mantém na mesma área um escritório de suporte com serviços de assistência técnica e emissão de Declaração de Aptidão ao Pronaf, atendendo a aproximadamente quatro mil famílias de pescadores e piscicultores das cidades de Xique-Xique, Pilão Arcado, Barra, e Irecê, como informou Laborda.

Foto: Pagina Revista.

Ainda de acordo com informações repassadas por Antônio Laborda, cinco pessoas integram o atual quadro de funcionários do Escritório Suporte. Das cinco pessoas, quatro são estatutárias (contratadas antes da Constituição de 1988): duas realizam serviços gerais, e outras duas atuam no setor administrativo. A 5ª pessoa (cargo comissionado) é a gerente Marília Teixeira, com formação em Engenharia de Pesca.

Ao ser questionado pelo Pagina Revista sobre o estado de total abandono do Terminal, a Bahia Pesca disse estar analisando e dialogando com diversas entidades a fim de dar a melhor utilização ao órgão, bem como as melhores formas de atendimento à demanda da região.

Entrevista com Jorge Pinheiro Meira, ex-gerente do Terminal Pesqueiro de Xique-Xique

Para ilustrar esta reportagem, nada mais justo do que entrevistar um dos nomes que esteve à frente do Terminal Pesqueiro de Xique-Xique por mais de duas décadas. Jorge Pinheiro Meira, 62, é o entrevistado do Pagina Revista.

“Estive gerente do Terminal Pesqueiro de Xique-Xique por 22 anos (1992/2004), tempo em que o Terminal correspondia com a sua política de trabalho e seus propósitos”, relembra Jorge Meira.

Fotomontagem: Pagina Revista. Jorge Pinheiro Meira, ex-gerente do Terminal Pesqueiro de Xique-Xique (1992/2004).

PAGINA REVISTA | Jorge Meira, em que ano, e com quais propósitos foi criado o Terminal Pesqueiro, em Xique-Xique?

JORGE MEIRA | Com o advento da Barragem de Sobradinho, o governo do estado da Bahia, sob o comando de João Durval Carneiro, no ano de 1984, instalou três Terminais Pesqueiros: Sobradinho, Remanso e Xique-Xique, com o propósito de melhorar as condições de vida do pescador, dando assistência, comprando os seus produtos com preços dignos sem a figura do atravessador, acondicionando e estocando os pescados em câmaras frias, com o trabalho de evisceração como exige o S.I.F. e vendendo pescados para o consumidor a preços módicos.

PAGINA REVISTA | Com relação à unidade de Xique-Xique, em seus primeiros anos, como era a estrutura do terminal?

JORGE MEIRA | O Terminal Pesqueiro de Xique-Xique era dotado de toda uma infraestrutura para assistir bem o pescador e o consumidor. Tinha três câmaras frias com capacidade de armazenamento de 80 toneladas de pescados; três compressores de ar potentes, três barcas de coleta de pescados; um caminhão baú térmico, uma fábrica de gelo britado com capacidade de produção de seis toneladas/dia, 28 funcionários, setores de administração, e de expedição, salas do S.I.E., S.I.F., de salga e defumação de pescados.

PAGINA REVISTA | O terminal Pesqueiro só definhou desde sua instalação. Em sua ótica, quais as principais causas?

JORGE MEIRA | A partir de 2005, o governo do estado deixou de investir, devidamente, nos setores de comercialização e pesquisa da pesca artesanal e piscicultura; piorou em 2007, no governo de Jaques Wagner, e acentuou nos governos de Rui Costa devido a interferências política partidária no órgão, más gestões na Bahia Pesca, falta de investimentos na reposição de peças e serviços para os maquinários, caminhões baús, automóveis e barcos, por consequência, sucateamento de todo o sistema, degradação dos bens, móveis e imóveis. Não dá para negar que a perca de identidade funcional e ociosidade dos funcionários só contribuíram com o definhamento do terminal.

PAGINA REVISTA | Você esteve à frente do terminal por um bom tempo. Como foi Jorge Meira gerente?

JORGE MEIRA | Estive gerente do Terminal Pesqueiro de Xique-Xique por 22 anos (1992/2004), tempo em que o Terminal correspondia com a sua política de trabalho e seus propósitos: Comprávamos pescados diretamente do pescador, eliminando a figura do atravessador. Os pescados eram eviscerados e acondicionados conforme as exigências das Leis, vendíamos pescados e gelo britado para o consumidor a preços módicos, servíamos de controlador de preço de gelo britado e pescados no mercado, gerávamos trabalho e renda para os ribeirinhos, incentivamos, criamos e apoiamos alguns Projetos de Piscicultura na região. Hoje, com a devida atenção da Bahia Pesca e do governo, eu faria tudo novamente: restabeleceria a compra e venda de pescados, apoiaria os Projetos de piscicultura na região, dinamizaria e potencializaria a política de trabalho, pois foi para isso que os Terminais Pesqueiros foram criados.

PAGINA REVISTA | Você tem ciência de como se encontra atualmente o Terminal Pesqueiro?

JORGE MEIRA | Infelizmente, todo sucateado. Maquinários e caminhão quebrados, poucos funcionários (antes eram 28 funcionários ativos), e toda a estrutura física deteriorada, degradada.

PAGINA REVISTA | Você sabe se existe algum plano de revitalização do referido Terminal?

JORGE MEIRA | Infelizmente, não. Com a política de trabalho do atual governador da Bahia, Rui Costa, muitos órgãos estaduais de apoio ao desenvolvimento rural sustentável foram extintos, ou desaparelhados. É uma pena.

DA REDAÇÃO | De acordo com informações da Bahia Pesca, Marília Teixeira é a atual gerente do órgão; antes dela, trabalharam no terminal, nos últimos 25 anos e no mesmo cargo, os gerentes Alessandra Sena, Edson Ribeiro dos Santos, e Jorge Pinheiro Meira.