Todo revolucionário, se não tiver uma imprensa pra chamar de sua, desejará silenciá-la

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Se tem uma coisa que tira o sono de políticos é uma imprensa independente. Talvez por isso desejem tanto ou se apropriar de veículos de comunicação ou propor medidas de regulamentar o setor (um eufemismo para se promover censuras e perseguições a quem estiver tecendo críticas ao governo).

Em todos os governos brasileiros houve aqueles que ameaçaram tolher o direito da liberdade de expressão por parte da imprensa. Alguns tiveram sucesso, outros tiveram seus planos frustrados.

Uma imprensa cativa a determinado governo torna-se uma imprensa amputada e muda. Seria como trabalhar com uma arma apontada para a cabeça, onde o gatilho pode ser puxado a qualquer momento, principalmente se o motivo for por se ter tecido críticas aos líderes de estado.

No Brasil, por exemplo, há uma estatal, conhecida como EBC (Empresa Brasil de Comunicação), que era alvo frequente de Jair Bolsonaro antes da eleição presidencial sobre a necessidade de se privatizá-la por só dar prejuízo aos cofres públicos. Após ser eleito, e passados três anos de mandato, em que situação se encontra a EBC? Privatizada? Não! Sem verba pública? Não! 

O atual governo se apossou da empresa de comunicação com fins puramente de promoção política. Essa postura não é nova nem estranha. Governos fazem isso para marcar territórios, servir como moeda de troca, manutenção de cargos políticos e, acima de tudo, tentar contar a sua própria versão dos assuntos que vem à tona nos principais noticiários da imprensa local. 

Tanto no governo de Dilma Rousseff como no atual governo Bolsonaro, houve financiamento de sites e veículos de comunicação para promover, defender e propagandear os supostos benefícios realizados por cada gestão. Infelizmente, tais financiamentos são os grandes causadores da disseminação de fake news e desinformação, tudo regado a dinheiro público do contribuinte.

Nos mais variados lugares, políticos estabelecem veículos de comunicação com a finalidade de tentar influenciar a população de um modo que seja conveniente para sua própria carreira. No Maranhão, por exemplo, a família Sarney possui inúmeras emissoras de rádios espalhadas pelo estado, além de fatias em grupos televisivos, possibilitando a sua longínqua manutenção no poder. 

Cenário semelhante se dá em inúmeras cidades interioranas, onde famílias oligárquicas detêm o controle da mídia mainstream nas suas localidades e fazem a população refém de verdadeiros parasitas e sanguessugas políticos. Em Sobral-CE, por exemplo, isso tem se tornado bem comum por parte da família dos Ferreira Gomes, que têm como representantes principais os irmãos Cid e Ciro Gomes, onde rádios de oposição são perseguidas por denunciar as estripulias da gestão do prefeito da cidade, um outro irmão de Ciro Gomes chamado Ivo Gomes.

Recentemente, o ex-presidiário Lula, uma das peças-chaves para aquele que foi considerado pelo Departamento de Justiça americano como o maior esquema de corrupção da história, e que está sendo beneficiado por malabarismos jurídicos causados pela Suprema Corte brasileira, veio a público, em uma de suas entrevistas a correligionários, dizer que sua principal meta assim que assumir a cadeira presidencial novamente será propor um marco regulatório das mídias e da imprensa como um todo, a fim de que, palavras do próprio Lula, "não aconteça com ele novamente o que aconteceu com Chávez na Venezuela": ser perseguido injustamente.

Citar a Venezuela como se fosse um paraíso democrático é coisa que Lula já fez muitas vezes e sem sentir nenhuma vergonha. O problema é que Venezuela, Cuba, Coreia do Norte e China são países onde não há liberdade alguma de imprensa, pelo contrário, o que mais se tem são perseguições, cerceamentos, ameaças e até mesmo "sumiços" daqueles que têm a audácia de tecer qualquer crítica ao governo.

Apropriar-se de veículos de comunicação com fins de autopropaganda ou propor regulamentação da mídia são atitudes que ocultam um espírito revolucionário, autoritário e tirânico. A história mostra que onde isso ocorreu (ou ocorre), a democracia morreu e deu lugar ao totalitarismo.

Quem propõe regulamentar a imprensa como algo nobre e justo é um lobo em pele de cordeiro. Jornalistas e demais grupos de comunicação deveriam ser mais céticos e críticos a qualquer postulante a cargo público com ideia semelhante. Se a imprensa se aliançar com a política, perde sua independência e seu senso crítico (já não basta ter acontecido isso com o judiciário). 

Se os veículos de comunicação se dobrarem ao partidarismo político, terá perdido o seu dever informativo dos fatos para com a população e ajudado a assassinar a própria democracia. Como diria George Orwell: "Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade!"