Um dos principais nomes da ciência na Bahia, Elsimar Coutinho diz que menstruar "é uma burrice"

Foto: Matheus Simoni/Metropress.

Médico explicou seus estudos sobre supressão da menstruação, em entrevista.

Considerado um dos maiores cientistas da sua área, o médico e farmacêutico e baiano Elsimar Coutinho defendeu, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (30), os seus estudos sobre a menstruação, a qual ele classifica como uma "burrice".

A revelação de que a menstruação é desnecessária foi considerada a quinta maior descoberta da medicina do século passado, em lista feita pela revista Times, com base em votos de médicos norte-americanos. Além de se tornar conhecido por isso, ele ainda concebeu o anticoncepcional injetável.

"Eu descobri que a menstruação é uma sangria inútil e escrevi um livro com esse título. Na época que [escrevi], tinha convicção absoluta de [que] não havia crítica científica que pudesse derrubar a argumentação em que eu colocava a menstruação como uma besteira da civilização, uma burrice, para ser um pouco grosseiro. Menstruar é uma burrice", defendeu.

Elsimar ainda compara a menstruação com uma hemorragia e "uma espécie de aborto do ovo que não foi fecundado". 

"A menstruação é quase que uma coisa que foi inventada pelos homens, para as mulheres ficarem mais fracas, anêmicas. Se jogar sangue fora durante quatro dias por mês, não pode deixar de ficar anêmica. Do ponto de vista da composição e da concentração dos elementos do sangue, é anêmica comparada com irmão da mesma idade. Ele não é, mas se sangrar durante dias vai ficar também. Como aceita um negócio desses? Aceitava porque eu não existia (risos), porque quando comecei a existir e achar um absurdo que ninguém tenha procurado  acabar com a menstruação", diz o médico.

Segundo ele, os estudos sobre a menstruação surgiram quando, ao comandar a pesquisa na maternidade na Climério de de Oliveira, percebeu que era frequente as pacientes terem abortos espontâneos. Elsimar então começou a estudar a progesterona e depois buscou um derivado, criado nos EUA, o "Depo provera". Foi assim que chegou ao primeiro anticoncepcional de uso prolongado.

Críticas

Ele relata que enfrentou resistência ao defender a sua descoberta sobre a supressão da menstruação, mesmo que não tenha recebido, em contrapartida, argumentos que considerasse contundentes. 

"Por quê mulher precisa menstruar? Não precisa menstruar, principalmente se tiver sem ovular. Toma anticoncepcional para não ovular e para (de tomar), para quê? O cara não tem resposta para me dar. Fiz inimigo assim, porque botava o cara na parede, e dizia, tem que menstruar para quê, para ficar anêmica? 'Porque, porque Deus...'     Quero uma resposta decente. Ninguém tem resposta para dar", contou.

Autobiografia

O médico também contou a origem do nome da sua autobiografia "Janelas fechadas, portas abertas". Ele relata que, ao estudar medicina no antigo prédio da Faculdade de Medicina da Ufba, costumava ficar perto da janela, no laboratório, mas decidiu mudar depois da recomendação de Bernardo Houssay, vencedor de prêmio Nobel que visitou a instituição. 

Houssay ficou encantado com a visão do mar das janelas do laboratório e recomendou que ele "fechasse as janelas", para que se concentrasse, e assim tivesse as "portas abertas" para oportunidades na carreira. 

"Ele disse: 'Ah, meu filho, se você pretende estudar (...), e você quer ganhar prêmio e fazer pesquisa científica, você tem que fechar as janelas. Essa vista linda não deixa você se concentrar em coisas microscópias'. Quando ele foi embora, eu disse (ao professor) Jorge (Novis) que queria ir para o subsolo. Fechei as janelas, desde então, todos os meus centros de estudo têm janelas fechadas. Isso me abriu as portas da ciência, que me permitiu me aprofundar e ser, certamente, o brasileiro que mais publicou artigos científicos", afirmou.