Uma mentalidade política que perpetua populistas

Imagem ilustrativa.

"Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta” - John Galbraith

INALDO BRITO | A mentalidade do brasileiro médio pouco mudará para melhor após as eleições. Na verdade, é provável que suas convicções e ideias acerca do que é a política, o cenário econômico e o desenvolvimento social se enrijeçam ainda mais, enclausurando-se numa rede cada vez maior de assistencialismo e coletivismo. A falta de incentivo para desenvolver senso crítico, em vez da aceitação cega a qualquer postulado, combinada com a verborragia de figuras públicas conclamando-o a aceitar (ou votar em) determinados candidatos como se eles fossem os únicos com capacidade de redimir o país, são o que fundamentam a manutenção daquela mentalidade tupiniquim.

A propósito, a política deveria ser um assunto que interviesse o mínimo possível na vida do cidadão. Ele até pode (e deve) compreender como funcionam os mecanismos da política, seus conceitos, sua história e suas figuras, no entanto nada disso precisaria ser visto como o tudo ou nada da sociedade. Num mundo ideal, as eleições de representantes públicos deveriam ser um mero acontecimento do ano, sem nenhuma pompa, sem nenhuma ostentação, sem nenhuma glória. Esses representantes deveriam ser discretos em suas proposituras legislativas ou atuações executivas, não obstante agissem com a responsabilidade que se requer do cargo.

No entanto, o protagonismo fala mais alto. Ser coadjuvante sequer é considerado. Nossos representantes, em sua maioria, almejam não apenas o cargo, mas sim os holofotes, a autopromoção e, se possível, serem vistos como heróis. Nossa cultura parece dar mais crédito e valor aos agentes políticos do que é necessário, superestimam os candidatos da mesma forma que superestimam seu próprio voto.

O brasileiro passa meses reclamando de inflação, falta de emprego, estradas em péssimo estado etc. Quando lhe é informado que a maioria dessas coisas é causada por corrupção, ingerência administrativa e medidas populistas, e que o remédio para a cura desses males é mais liberdade ao indivíduo, além de processos de accountability (prestação de contas) por parte dos governantes, ele até se simpatiza com o diagnóstico, uma luz se acende na sua mente e uma chama no seu coração, mas só até surgir um postulante a herói e convencê-lo de que o melhor remédio é gastar mais, conceder mais benefícios e enrijecer as leis para proteger os cidadãos.

No ambiente corporativo, por exemplo, há pessoas frustradas e descontentes com o que ganham. Reclamam que seu poder de compra diminuiu vertiginosamente nos últimos anos. Qual seria o remédio para controlar a inflação? Diminuição dos gastos públicos, principalmente no que diz respeito ao aumento de salário dos servidores e, consequentemente, a realização de reformas tributárias que incidam diretamente na carga de impostos que possuímos, além da desburocratização da participação de novos players (vindos de fora) no mercado nacional. Essa é a receita mais eficaz para se combater o fantasma da inflação e da diminuição do poder de compra.

Mas, infelizmente, qual a resposta que as pessoas se contentam em ouvir e passam a desejar constantemente? Alguém que lhes diga que o salário mínimo irá aumentar, receberão mais subsídios ou, no caso de servidores públicos, que irão receber aumento nas suas remunerações. Em suma, o brasileiro está mais interessado em mudanças instantâneas e rápidas do que as que levam tempo – sacrificam o duradouro pelo momentâneo e não nos surpreende que votem em candidatos que agem como gênios da lâmpada para eles.

Os representantes que elegemos, assim como a maioria dos candidatos, são o reflexo da mentalidade anticapitalista e subdesenvolvimentista que possuímos. Eles só ganham notoriedade por conta de um sistema eleitoral viciado que possibilita os ruins chegarem ao topo, à medida que os medíocres ficam como suplentes. Mas não só isso: o brasileiro ainda continua sua saga de “não dar voto perdido”, e por isso se contenta em escolher entre duas opções que lhe dará o mesmo fatídico destino.

Quando a política se torna um fim e não mais o meio pelo qual um país é regido, abre-se um precedente perigoso para que populistas se vejam como essenciais e, por conta disso, não possuam nenhum escrúpulo em enganar a população com medidas artificiais de governo, além de elevar o coletivo acima do indivíduo e, em decorrência disso, conduzir a população como uma massa amorfa acéfala e facilmente manipulável.

Todos os sinais deveriam estar em alerta quando ouvíssemos candidatos se promovendo como salvadores, messias, mitos ou heróis. No entanto, quão difícil é estar em alerta quando o que é falado e prometido pelos candidatos que simpatizamos é justamente o que tanto queremos ouvir! A voz do diabo nem sempre é estridente, antes, na maioria das vezes, vem como sussurro, causando cócegas em nossos ouvidos. É assim que muitas pessoas são cooptadas por movimentos e ideologias políticos, e é assim que muitos eleitores conseguem manter seus totens políticos no poder ou alçá-los aos cargos pleiteados.