Venerar políticos é suicídio mental

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INALDO BRITO | A disposição que algumas pessoas têm em adorar políticos beira o ridículo muitas vezes. Desde o adorador mais modesto, que finge não tomar lado nenhum entre candidatos e partidos, mas que no fundo suas colocações e opiniões retratam um inveterado torcedor, até àqueles mais espalhafatosos, que expõem toda a sua veneração ao utilizar camisas, broches, adesivos e todas aquelas parafernalhas que idiotizam um cidadão.

O adorador de políticos, por não agir com a racionalidade devida, acaba se tornando cético em relação a qualquer notícia sobre corrupção do poste-ídolo político que ele venera. Sua inépcia face ao conjunto de provas do crime o conduz a uma situação inusitada: ao mesmo que ele nega que o seu poste-ídolo seja corrupto, refere-se a qualquer um que esteja fazendo parte da ação penal contra o totem político como perseguidor, vingador e inquiridor. Na cabeça do adorador de políticos, o seu ícone será sempre a vítima, conquanto as evidências o apontem como verdadeiro algoz e corrupto profissional.

Esse comportamento idolátrico está tão entranhado na cultura brasileira que basta alguém se colocar como o solucionador dos problemas e mazelas do país que já é suficiente para ser alçado à figura de salvador-da-pátria ou messias político. Muito disso deve-se ao fato de que a população, entra ano e sai ano, deposita suas esperanças de melhora da qualidade de vida em estadistas decrépitos – enquanto que deveriam vê-los apenas como os verdadeiros causadores dos problemas econômico, social e político do país.

À medida que as pessoas se tornam benevolentes com a corrupção e demais crimes eleitorais praticados pelos representantes do povo, elas demonstram endossar os feitos indecorosos desses representantes. E não há nada pior para uma sociedade do que ela ser complacente com criminosos, ainda mais quando estes são criminosos do colarinho-branco.

O mais interessante no comportamento do adorador de políticos é que ele pratica algo parecido com o pensamento positivo: ao colocar na cabeça a ideia de que o seu político corrupto está sofrendo perseguição ou o impensável judicialmente, ele focaliza todas as suas energias em propagar mantras, cânticos e palavras de ordem com o intuito de que todos aqueles indivíduos opositores ao político possam ser impedidos de ter voz, desacreditados ou (quem sabe dê certo) caiam mortos ao chão, da mesma forma que uma muralha ao ser atingida por um aríete.

O adorador de políticos não medirá esforços para tentar cooptar para a sua seita quem ainda não possui concepção formada. Para isso, criará os “demônios” necessários para se contraporem ao caráter divino do seu poste-ídolo. Esses demônios podem ser qualquer coisa que se refiram negativamente ao seu totem político – a situação econômica do país é talvez um dos mais citados. Com isso, além de o adorador de políticos comprovar a sua ininteligibilidade acerca do funcionamento dos processos de uma economia, também evidencia como a devoção a algum político pode transformar uma pessoa em um ser completamente desajustado socialmente.

Todas as vezes em que alçamos figuras políticas à posição de semi-deuses abrimos uma brecha para que sejamos manietados e facilmente influenciados por qualquer coisa que essas figuras digam. A linha entre a razão e a emoção se torna ainda mais tênue quando deixamos que os nossos sentimentos e empatia pelo homem público se transformem em critério para analisar as decisões e propostas que ele delibera no poder. Ao perder o senso crítico, para darmos lugar a todas as justificativas possíveis por que adoramos tanto aquele político, damos mostras de que caminhamos para uma idiotização política em massa.

Essa postura inepta faz com que a democracia dê lugar à “cleptocracia”, ou seja, o roubo generalizado e a corrupção desenfreada passam a ser não apenas tolerada pelo adorador de políticos, mas até mesmo incentivada. E quando cleptopolíticos e adoradores de políticos corruptos se juntam, é a combinação perfeita para a deterioração de qualquer perspectiva de justiça e de sociedade honesta.