A arte de dizer não
Imagem ilustrativa.
MÔNICA BASTOS | Recentemente, um incidente conhecido como o "episódio do avião", no qual uma mulher foi constrangida por se recusar a ceder seu lugar na janela para uma criança, gerou grande repercussão nas redes sociais. A situação dividiu opiniões: enquanto muitos a apoiaram, outros questionaram sua postura.
Este episódio não se resume a um simples conflito de assentos, mas expõe uma tensão entre o direito à autonomia e a pressão para ser solidário e gentil. A grande questão é: até onde devemos sacrificar nosso conforto para atender aos desejos de outras pessoas, especialmente quando não somos responsáveis pelo bem-estar delas?
No caso em questão, a mulher tinha o direito de manter seu assento. No entanto, o dilema que se coloca é sobre o equilíbrio entre o seu direito e a "boa educação" — um conceito que nos pede para abrir mão em nome da empatia e gentileza.
A empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, mas essa capacidade tem limites. E um desses limites é o respeito pelos direitos e desejos do próprio indivíduo. A mulher, ao recusar a dar o seu assento, exerceu o direito de escolher o seu espaço. Não foi uma atitude insensível ou cruel; ela não ignorou o desejo da criança, apenas estabeleceu um limite para o seu próprio bem-estar.
Quando nos sacrificamos em prol do bem-estar do outro, corremos o risco de anular as nossas necessidades. Escolher a nós mesmos não é egoísmo, mas uma forma de respeitar nossos limites. Muitas vezes, o conceito de “boa educação” é interpretado de maneira unilateral, como se a gentileza devesse pender sempre em direção ao outro, sem que tenhamos o direito de dizer "não", criando a falsa ideia de que ser educado é sinônimo de ceder, mesmo quando isso implica renunciar a nossa própria vontade.
A convivência em sociedade exige a negociação de limites. Isso não se aplica apenas aos adultos, mas também às crianças. Ensinar uma criança a respeitar o espaço do outro é essencial na formação de um ser humano capaz de viver harmoniosamente em sociedade.
O incidente revela uma questão mais profunda do que a simples etiqueta social. Ele nos obriga a pensar sobre o valor da autonomia e da empatia, não como antônimos, mas como valores complementares. A mulher, ao recusar ceder seu lugar, não foi insensível, como muitos a acusaram. Ela fez uma escolha baseada no respeito a si mesma e ao seu direito de dizer não.
A verdadeira empatia também é saber dizer não quando necessário, ao invés de renunciar ao que é justo para nós. A gentileza verdadeira é aquela que respeita tanto o outro quanto a nós mesmos.
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