A baixeza da falsa acusação
Imagem ilustrativa.
Infelizmente, na maioria dos casos, os assassinos de reputação conseguem o que querem, que é semear a dúvida tendenciosa, influenciando o público a acreditar em suas mentiras e confabulações
INALDO BRITO | Uma das coisas mais bizarras e absurdas advindas do mau-caratismo e do mimimi atual é o assassinato de reputação. Explico. Se há, por ventura, uma pessoa conhecida publicamente que não faz parte do grupo dos “oprimidos” e “vitimados”, cujos holofotes estão posicionados nela em determinado momento, eis que entra em cena os assassinos de reputação, chafurdando o passado de tal figura a fim de encontrar qualquer coisa que ao menos faça menção de seu nome a possíveis casos de violência doméstica, assédio ou até mesmo estupro. Se ainda assim não encontrarem, eles criam. Algo parecido aconteceu no ano passado (2018) com o recém indicado à Suprema Corte dos Estados Unidos, o juiz Brett Kavanaugh.
Tal como aqui no Brasil, lá os membros da Corte são indicados pelo Presidente. A partir do momento que Donald Trump sugeriu indicá-lo para o Supremo Tribunal, começou-se uma campanha encabeçada pelo partido Democrata para manchar e denegrir a imagem do referido juiz. Depois de tanto pesquisar, eis que veio a notícia que os assassinos de reputação ansiosamente aguardavam. Uma das deputadas do partido Democrata afirmou que havia recebido um depoimento de uma mulher, com idade próxima a do juiz, dizendo que quando era mais jovem, na época de escola, participou de uma festa na casa de um conhecido do juiz Kavanaugh, em que (ela afirmava e acusava) foi abusada pelos garotos que estavam ali presentes, e, para fechar de vez o caixão do assassinato de reputação, sugeriu que o juiz também era um dos abusadores.
A partir daí, começou-se uma queda de braço entre acusadores e defensores. Para os acusadores, não era necessário a confirmação se o relato era verídico ou não. O simples fato de o juiz ser mencionado no ocorrido já era suficiente para se duvidar da sua integridade e sentenciá-lo à pena específica. Tudo feito sem levar em conta o princípio de inocência que engloba qualquer pessoa. Um dos questionamentos dos defensores era de por que a mulher esperou tanto tempo para expor o fato, coincidindo com o momento específico da indicação do juiz à Corte.
Em suma, depois de várias semanas de imbróglio, e não se provar nada que atestasse que o juiz estava presente no suposto abuso, a mulher que o havia acusado veio a público dizer que não se lembrava 100% se o juiz realmente estava presente naquele dia, contrariando assim sua tese inicial. Entretanto, não houve nenhum pedido de desculpas ou retratação tanto por parte dela como dos veículos de comunicação que expuseram o caso, bem como do Partido Democrata.
Geralmente, casos que envolvem acusação de estupro são tidos como verídicos antes mesmo de se provar os fatos. Dependendo de quem afirmar, não é necessário realizar acareações. Para os assassinos de reputação basta apenas dizer quem é a pessoa acusada e isso já é suficiente para denegrir imagens e sentenciar o nome do acusado à pena de morte (se assim pudessem).
Esses tipos de julgamentos eram bem comuns nos regimes totalitários, com ênfase na União Soviética e na Cuba castrista. Bastava a simples suposição de que o colega do lado simpatizasse com o Ocidente ou com o capitalismo que já era suficiente para tachá-lo de traidor e sentenciá-lo aos gulags ou à morte. Não havia julgamentos justos, não havia levantamento de provas suficientes, não havia nenhuma pretensão em se chegar à verdade. O que os assassinos de reputação mais temem é que suas mentiras não sejam aceitas como verídicas. Por isso, vale tudo para confirmar as suas teorias, até mesmo forjar fatos, dados ou qualquer coisa que seja útil para arruinar o alvo preterido.
No âmbito das celebridades é notório como volta e meia surgem assassinos de reputação. Basta um escorregão em determinada fala do ícone venerado que já é motivo suficiente para se duvidar do seu passado, das suas intenções, bem como de sua fama. Se o cantor diz que não apoiará o candidato A, conquanto também não tenha se pronunciado de que apoiaria o candidato B, assassinos de reputação surgem dos dois lados para emitir seus achismos sobre as razões de o cantor não ser favorável ao candidato que eles defendem. Entram em cena as fakes news.
Theodore Dalrymple, em seu livro Podres de mimados, relata como o sentimentalismo tóxico trouxe consequências drásticas para a sociedade. Ele cita o caso de um casal britânico, cuja filha havia desaparecido, que com o passar dos tempos foram aos poucos se tornando suspeitos de eles mesmos terem assassinado a menina. O motivo dessa suspeita era algo simples e ao mesmo tempo totalmente leviano: os pais da menina, quando davam entrevistas, não demonstravam nenhuma emoção, e já que nenhuma lágrima caía de seus olhos, então isso deveria ser o atestado de culpa pelo crime.
Essa dedução inverídica foi suficiente para a população, que antes os apoiavam, passar a duvidar de suas falas e começar uma campanha de difamação. A polícia os investigou, porém, mais uma vez, nada foi provado de que eles, os pais da menina, tinham algum tipo de envolvimento com o sumiço dela. Novamente, nenhum pedido de desculpas, nem de retratação, de quem os acusou foi realizado.
Infelizmente, na maioria dos casos, os assassinos de reputação conseguem o que querem, que é semear a dúvida tendenciosa, influenciando o público a acreditar em suas mentiras e confabulações. Eles não se preocupam com o dano que fica; somente em que o estrago se consume. São geradores do caos. O melhor antídoto contra eles é uma arma que os mesmos criam: a dúvida. Duvidar de qualquer notícia sensacionalista e polêmica é o primeiro passo para não ser enganado por eles e até mesmo desmascará-los. É fazer que o feitiço vire contra o feiticeiro.
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