A comodidade de Servidores Públicos apoiarem fechamento de comércios em tempos de Lockdown

Imagem ilustrativa.

EDILSON ROCHA | Tão logo foi divulgado pelas redes sociais um decreto municipal de enfrentamento da Covid-19, referente ao segundo lockdown no Município, observei em grupos de whatsapp vários servidores públicos municipais apontarem os comerciantes como responsáveis pelo aumento do número de casos e de óbitos por coronavírus em Xique-Xique e, como tenho costume apenas de acessar e tomar ciência dos conteúdos daquele aplicativo e, muito raramente, tecer meus comentários, preferi manter o meu costumeiro silêncio, porquanto minha ligação maior e quase exclusiva  é pelos debates no facebook.

A meu ver, a postura desses meus colegas da categoria – felizmente, uma minoria –, que não se constrangeram em nenhum momento em defender o fechamento do comércio, é insensata, egoísta e insensível, haja vista ser-lhes muito cômodo exporem este tipo de posição, quando, na condição de trabalhadores pagos com dinheiro público, mesmo em períodos de toques de recolher e lockdowns, têm os seus salários religiosamente depositados todos os meses em suas contas bancárias, um privilégio que os comerciantes não possuem.

Os comerciantes de Xique-Xique não são vilões para serem considerados responsáveis pelo aumento de casos da Covid-19 no Município, senão as pessoas, independentemente de seus ofícios, que não estão cumprindo as medidas sanitárias altamente conhecidas, ao permitir que quantidades enormes de pessoas dos mais diversos hábitos e costumes, pouco íntimas de seus convívios sociais, façam presença em suas roças e fazendas com aconchegantes piscinas e, claro, em meio a muita música e vários engradados de cerveja e litros de outras bebidas.

Fico extremamente indignado com pessoas que gostam de apontar culpados específicos pela situação terrível pela qual vem passando Xique-Xique nas últimas semanas, com aumento do número de intubações e óbitos de pacientes devido ao coronavírus. Entretanto, não sabem, por exemplo, qual procedimento a maioria dos hospitais brasileiros adota como orientação ao paciente no momento em que recebe como positivo o resultado de teste para Covid-19.

As contas de aluguel, de água, de energia e, também, as faturas para pagamentos de outras despesas não têm as datas dos seus vencimentos adiadas em períodos de toques de recolher e lockdowns, devendo os comerciantes, os ambulantes, os donos de academias, de clínicas médicas e odontológicas, entre outros setores, se virarem para pagá-las, inclusive com acréscimos de juros em casos de atrasos, não havendo qualquer consideração em face da subtração de vários dias sem poderem abrir seus estabelecimentos, em cumprimento a decretos de governadores e prefeitos, o que, evidentemente, os impedem vender seus produtos e, por consequência, ganhar dinheiro para as suas subsistências.

É importante lembrar que os comerciantes do setor alimentício, a depender de suas estruturas e capacidades de logística, têm a alternativa de trabalhar com deliverys, mas os dos demais setores, em sua grande maioria, não. Enfim, neste momento de pandemia, todos nós, independentemente das nossas diferenças em suas mais diversas formas, devemos entender que qualquer trabalho que provê o pão de cada dia é essencial, não sendo justo categoria “a” ou “b”, por terem certos privilégios, desfazer de outras que não os têm.