A Namorada Ideal: Quando a verdade depende de quem olha

Imagem ilustrativa.

MÔNICA BASTOS | A verdade é uma só? Ou será que ela muda de forma dependendo de quem está olhando?

A série A Namorada Ideal, disponível no Prime Vídeo, não apenas entretém, como também nos confronta com essa pergunta.

Embora o enredo traga suspense e drama familiar, o que mais me prendeu não foi a história em si, mas a maneira como ela é contada e, mais ainda, o que ela revela sobre nós mesmos.

A trama gira em torno do relacionamento conturbado entre Daniel, sua nova namorada e sua mãe. Mas o mais interessante está na estrutura narrativa: cada conflito é mostrado duas vezes. Primeiro, sob o olhar da nora. Depois, a mesma cena, do ponto de vista da sogra.

O resultado? Duas versões legítimas e completamente diferentes do mesmo acontecimento. E foi aí que algo me chamou a atenção.

Quantas vezes fazemos o mesmo? Quantas vezes defendemos a nossa versão dos fatos como sendo a única correta, ignorando que o outro também está contando sua própria verdade?

Uma verdade moldada a partir do lugar em que está, pelas histórias que viveu, pelas dores que carrega. E, principalmente, pelo jeito como aprendeu a enxergar o mundo.

A série mostra algo que esquecemos facilmente. Toda história tem mais de um lado, e cada lado está convencido de que está certo.

A repetição dos episódios não é apenas um recurso narrativo criativo. É humano. Porque é assim que funcionam nossos conflitos do dia a dia. Um mesmo acontecimento pode gerar duas histórias diferentes, dependendo de quem conta. Duas memórias. Duas verdades. Dois relatos sinceros e, ainda assim, incompatíveis.

Na série, o verdadeiro protagonista não é Laura, nem Cherry, nem Daniel. É a percepção. E a percepção nunca é neutra. Ela é traiçoeira. Sempre depende do lugar de onde a gente olha, do que nos dizem, do que sentimos, do que lembramos. Não funciona como um espelho da realidade, mas como um espelho de quem nós somos. 

Tudo que percebemos passa primeiro pelas nossas crenças, medos, experiências e expectativas. E isso molda o que chamamos de “verdade”. Ou seja, não vemos o que acontece, vemos o que somos capazes de enxergar.

Por isso, diante de um conflito, talvez a pergunta mais honesta que podemos fazer não seja: “Quem está certo?”, mas sim “De onde estou olhando para isso?”

Somente quando começamos a desconfiar da nossa própria lente é que surge um espaço de transformação, onde o outro não precisa estar errado para que eu esteja certo. Onde posso continuar com a minha verdade e, ainda assim, acolher a do outro.

E talvez esse seja o maior mérito de A Namorada Ideal: nos lembrar que, por trás de cada conflito, existe uma história que ainda não ouvimos inteira. E que no fim das contas, talvez a verdade não more nos fatos, mas nos olhos de quem a interpreta.