Águas passadas não movem moinhos, mas promessas eleitorais movem cabeças-de-vento
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | Programas de governo e promessas de campanha servem a um mesmo propósito na política brasileira: enganar o eleitor. E por mais que haja uma boa proposta em um ou em outro plano, ainda assim dificilmente ela será posta em prática quando se estiver no governo, pois os mecanismos para sufocá-la já começam a ser implementados desde o começo da campanha política, independentemente do partido. Um desses mecanismos diz respeito à nomeação de perfis meramente politiqueiros, em vez de técnicos e específicos.
Tomemos como exemplo a pauta da educação. A maior parte dos programas de governo (municipal, estadual e federal) são idealistas já no seu nascedouro. São propostas permeadas por meros achismos sobre o que eles pensam ser o correto, mas que no final se revelam como engodos que mais prejudicam o desenvolvimento educacional de municípios, estados e o país. Encabeçando tais projetos geralmente está alguém que é ligado à chapa vencedora, conquanto não possua os requisitos básicos para aquela função específica: experiência, expertise e perfil comprovadamente gerencial.
Já que nos aproximamos de eleições municipais, é interessante mencionar como o caráter politiqueiro de muitas nomeações para cargos de secretaria demonstra ser conduzida a toque de caixa, baseando-se mais no que o nomeado pode fazer para beneficiar diretamente a gestão municipal do que pode fazer para atender as necessidades mais caóticas da população na pasta assumida. Perceba que a estratégia de governos é meramente criar uma forma de fingir que estão trabalhando em prol do cidadão, e, não à toa, tem dado certo há mais de um século.
Os programas de governo são elaborados para que o eleitor tenha a sensação de que todos os seus problemas irão ser resolvidos. É como se os pais passassem o ano todo prometendo ao filho que ele iria ganhar aquela bicicleta tão sonhada, mas chegasse no final do ano e, então, os pais dão a ele uma mera caixa de chocolate como lembrança. E, então, o novo ano começa e novamente os pais fazem promessas semelhantes às do ano anterior, mas que no final possuem o mesmo objetivo: criar expectativa no filho por algo que dificilmente acontecerá.
O impressionante é que o eleitor parece gostar de ser enganado, de ser ludibriado, de ser tratado como um mero alienado, pois mesmo com tantos exemplos de frustração, na próxima eleição lá está ele novamente fazendo campanha para o candidato que o frustrou e, ainda por cima, garantindo aos demais que dessa vez será diferente, mas é curioso que esse “diferente” só altera os meios e as peças estratégicas, embora acabe chegando ao mesmo fim: fingir que está trabalhando em prol da população.
Quando falamos sobre promessas de campanha, há espaço para tudo, quem sabe trazer a própria Disneylândia para a cidade ou transformar da noite para o dia o sistema de saúde precário num polo de referência nacional, quiçá mundial. Bom, como já foi falado, na hora de fazer campanha tudo é possível, desde que o eleitor saia convencido de que aquilo pode ser feito. E aqui podemos fazer um paralelo com o personagem do livro A coisa, de Stephen King – Pennywise, o palhaço dançarino.
Pennywise se fortalecia do medo das crianças. Saber o que elas temiam dava a ele uma vantagem na forma de criar sustos a fim de aterrorizá-las e, por fim, devorá-las. Muitas promessas de campanha possuem uma tática parecida. Afinal de contas, políticos só podem prometer aquilo que sabem que os eleitores desejam. Quanto mais o impossível é prometido, mais eleitores acreditam cegamente naquele candidato ou naquela chapa de governo. E, no fim, tal como as crianças da história de Pennywise, a ambição desmedida dos eleitores continuará alimentando e fortalecendo a sede dos seus governantes por mais poder.
E aqui não podemos deixar de falar sobre vereadores que, conquanto não elaborem planos de governo, ainda assim nas suas campanhas prometem lutar por determinadas pautas. Entretanto, não sem nenhuma surpresa, tais promessas esbarram na mera comodidade do cargo. Isso por que a simples ideia de ter que convencer parlamentares colegas sobre a necessidade de criar projetos para beneficiar a população acaba morrendo antes mesmo de ser iniciada, principalmente a partir do momento em que recebem seu primeiro salário. Talvez por isso, muitas Câmaras de Vereadores parecem mais um salão de homenagens, onde o que mais se vê são entregas de títulos honoríficos, moção de aplausos ou, no máximo, estabelecimento de datas comemorativas.
O cargo de vereador recebe o terceiro maior salário no cenário político municipal, ficando atrás apenas dos cargos de prefeito e vice-prefeito. Basta uma breve olhada num site do Tribunal de Contas do Município de qualquer estado da Federação que poderemos saber quanto cada um recebe. No caso de Xique-Xique, por exemplo, os vereadores recebem salários em torno de R$ 7,5 mil para trabalharem 30 horas semanais. Prefeito e vice-prefeito recebem R$ 18 mil e R$ 9 mil, respectivamente, para trabalharem 40 horas. Os secretários recebem R$ 5 mil por uma jornada também de 40 horas.
Perceba que tais valores variam conforme o município. A depender do local, um vereador pode chegar a ganhar até R$ 21 mil. Isso não tem nada a ver com ser de um partido ou de outro, mas sim à arrecadação do município, repasses estaduais e importância geoeconômica na região. Ou seja, quer se queira concordar quer não, o fato é que dificilmente alguém que pleiteia um cargo à Câmara de Vereadores está fazendo isso apenas por mera “consciência social”. Pelo contrário, muitos querem mesmo são as regalias e privilégios que obterão no cargo.
Manter-se no cargo permanentemente é o objetivo da maioria daqueles que se candidatam. Alguém certa vez disse que a política é como o esgoto. Dificilmente alguém entrará nela sem sujar suas roupas com a imundície que há, mas o pior talvez seja estar tão acostumado com tais sujidades que, assim como depois de um tempo perde-se o olfato naquele meio fétido, não sintam mais nenhuma indignação pelos erros e equívocos vistos, principalmente corrupção, e ainda por cima neguem que haja qualquer falha ou sujeira no ambiente ou cheguem ao ponto de querer convencer aos demais indivíduos de que aquele sistema é mais limpo, asseado e probo do que qualquer outro.
Enquanto houver eleitores que desejam o impossível oriundo da política, haverá planos de governos para enganá-los, subvertê-los e aliená-los.
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