Amnésia política só beneficia políticos inescrupulosos

Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | Como seres humanos, temos inúmeras falhas, uma das mais comuns é justamente o esquecimento do que não se deve (datas de aniversário do cônjuge, do filho ou do próprio casamento, por exemplo). Mas nada se compara ao que acontece quando nos deparamos com o que ocorre no cenário político.
Muitos de nós não acompanham religiosamente o que se passa nos noticiários sobre o que acontece diariamente nos bastidores do poder - suas tramóias, ideias burocráticas tresloucadas e demais intenções dos nossos representantes.
E mesmo para os que acompanham, a parcela maior acaba contraindo um tipo de amnésia, que beneficia e muito os paladinos do poder. Uma das consequências dessa amnésia coletiva é a volta ao cenário político de indivíduos corruptos, mentirosos, falsos, populistas, sanguessugas, parasitas e demagógicos,
O que podemos depreender também é que essa amnésia é alimentada por narrativas falaciosas que, quando não são criadas pelos próprios políticos, os asseclas criam para dar uma aparência de bom mocismo e virtuosismo ao homem público que se postula novamente a algum cargo de poder.
É por isso que os contratos de marketing, que envolvem os figurões dos maiores partidos políticos, são de valores absurdos (eis um dos principais destinos do fundo partidário bilionário que a classe política aprova em cada disputa eleitoral).
A depender do marketeiro, o político sujo é transformado num herói, numa vítima, num messias ou em um salvador da pátria. Nas mãos do marketeiro, o dinheiro roubado dos cofres públicos é transformado numa fábula ao melhor estilo Robin Hood, onde a motivação egocêntrica para o roubo se transforma em altruísmo e amor pelos mais pobres.
E assim, a verdadeira narrativa que veio a público no passado mostrando que o político era corrupto, e que pairava nas mentes dos eleitores, é tratada como algo do imaginário coletivo que nunca aconteceu de fato, era tudo mera invenção.
Bate-se tanto nessa tecla que o eleitor-telespectador começa a duvidar se realmente aquele político é corrupto como foi noticiado, podendo chegar ao ponto de o eleitor duvidar da sua própria inteligência, na maneira como ele interpretou o que havia sido noticiado.
Quando uma mesma mentira é contada muitas vezes num curto intervalo de tempo é quase natural ela se transformar numa "verdade", e a lembrança dos fatos como eles são é modificada para uma mera suposição. Algumas lacunas são preenchidas com outras falsas informações e não demora muito para que o indivíduo se esqueça por completo do que aconteceu (que o político praticou corrupção despudoradamente).
Na próxima eleição, lá estará o político corrupto se passando por bonzinho, e o eleitor, outrora conhecedor da corrupção daquele corrupto, agora com amnésia, após o marketing político ter surtido efeito, e quiçá apoiando o cleptopolítico.
Eis uma das razões pela qual os cidadãos não deveriam transformar a política e seus atores (os políticos), consequentemente, numa forma de redenção da sociedade: quando a sujeira vem à tona, é mais fácil os corruptos tentarem nos convencer que tudo não passou de uma ilusão de óptica, nós é que não vimos direito.
O melhor remédio para a amnésia política está em não depositar as esperanças em Seu-ninguém; tratar cada postulante como um possível batedor de sua carteira ou dos cofres públicos; saber que as promessas dele, de ajudar os pobres, esconde a real fonte dessa ajuda, que é taxar ainda mais o contribuinte, enquanto ele mesmo e sua classe jamais decidem reduzir seus gastos públicos.
O desafio que a maioria de nossos representantes, principalmente os que são corruptos ou estão envolvidos em esquemas ilícitos, procura tenazmente superar é o de enganar as pessoas o máximo de tempo possível. A nossa amnésia quanto aos seus crimes, mentiras e bazófias demonstra que eles têm tido êxito. Mas há de assim ser pra sempre?
2 Comentários
Ibn
09 de Outubro de 2021 às 20:36Como diria Mark Twain: \"É mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas.\"
jeff
08 de Outubro de 2021 às 18:11Como bem disse Mário Quintana: \"Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!\"