As “vacas sagradas” da economia brasileira, os políticos que as defendem e os seus eleitores
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | Fabio Giambiagi, em seu livro Brasil: raízes do atraso – paternalismo versus produtividade, demonstra eximiamente como o Brasil, em vez de voar como águia, assumindo seu protagonismo proporcional ao tamanho de seu território e detentor de recursos para uma maior projeção econômica, prefere dar voos de galinha, acomodando-se com migalhas de desenvolvimento econômico, legando ao seu povo vidas medíocres enquanto seus governantes se esbaldam nos seios do Estado.
Giambiagi elenca pelo menos dez empecilhos, que ele chama de “vacas sagradas”, que colaboram para o nosso atraso político, econômico e social enquanto nação:
1) o salário mínimo que não é mínimo; 2) a Previdência Social imprevidente; 3) o assistencialismo exarcebado; 4) os direitos dos incluídos; 5) a vinculação preguiçosa; 6) a TJLP esquizofrênica; 7) as transferências temporárias infinitas; 8) a taxação do capital; 9) o protecionismo; e 10) o viés anticapitalista. Alguns desses termos são bem conhecidos do leitor, outros nem tanto.
No decorrer do livro, Giambiagi, utilizando-se de dados estatísticos, gráficos e um pouco de comparação histórica, demonstra o porquê dessas “vacas sagradas” serem tão danosas para o desenvolvimento do país, ao mesmo tempo em que conclama aos dirigentes e gestores públicos certa mudança de mentalidade política e econômica, a fim de programarem metas de crescimento econômico viáveis e efetivas, em vez de meros devaneios paternalistas.
Creio que qualquer aspirante a algum cargo político, ou na área pública como um todo, deveria ler o livro de Giambiagi e dar mais atenção aos argumentos desenvolvidos se quiser, de fato, realizar impactos benéficos de longo prazo no país, em vez de efeitos breves e passageiros só por interesse na eleição seguinte.
Mas creio também que todo cidadão deveria lê-lo se quiser compreender o porquê somos um país que enaltece o seu próprio subdesenvolvimento, ao mesmo tempo em que se vê orgulhosamente como um país do “quase”: quase rico, quase desenvolvido, quase seguro financeiramente, quase livre economicamente, quase justo juridicamente etc.
Pensamos às vezes que as soluções para os nossos problemas econômicos é colocar os políticos “certos” no controle do estado ou do país. Coloco entre aspas a palavra certos, pois isso depende dos nossos interesses e compreensões políticas. Se achamos, por exemplo, que nosso salário é baixo, muitos de nós creem que o político “certo” para mudar essa situação é aquele que promete dar mais auxílios ou benefícios, nem que tenha, se possível, que imprimir dinheiro para isso. Poucos são aqueles de nós que sabem que tal medida, além de populista, aumenta os níveis de inflação.
Nossa mentalidade econômica é compatível com nossa mentalidade política: quanto mais ignorantes somos sobre como funciona a economia, mais tendentes seremos a eleger populistas ou vendedores de sonhos, cujos muitos deles se enquadram nos espectros de “salvador da pátria” ou “pai dos pobres”. Esses políticos geralmente fazem malabarismos conceituais e deturpam até mesmo o básico de economia, a fim de vender utopias aos eleitores.
Políticos como Ciro Gomes, por exemplo, candidato a presidência, que utiliza como um dos seus argumentos sobre taxar heranças o fato de que os Estados Unidos cobram um imposto de 40%, enquanto o Brasil 4%, dando a entender que isso é uma das causas da prosperidade daquele país, são mestres em desenvolver falácias econômicas, muitas delas descontextualizadas, ainda que os dados sejam verídicos, para tentar convencer a população de que são a pessoa “certa” ou mais capacitada para cargos tão importantes.
Políticos como Lula e Bolsonaro, por exemplo, que insistem em revogação de Teto de Gastos e tabelamento de preços de combustíveis, como meios de ajudar os mais pobres, são imediatistas de carteirinha. São homens públicos que almejam as palmas e os louvores daqueles que são alvos das suas medidas de curto prazo. São políticos que não se preocupam com responsabilidade fiscal, desde que o intuito seja “nobre”, ou que acham que oferta e demanda é pura fantasia de economista. Políticos assim se veem como a pessoa “certa” para colocar o país nos trilhos, todavia esqueceram de avisá-los que ideias similares às deles são justamente o que ancora nosso país em déficit, subprodutividade e subdesenvolvimento, além de uma pitadinha de ingerência política e corrupção.
Concluo novamente com a frase do economista e filósofo político Thomas Sowell: “O fato de que muitos políticos de sucesso são mentirosos não é exclusivamente reflexo da classe política, é também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível somente os mentirosos podem satisfazê-las.”
Extirpar as “vacas sagradas” expostas por Giambiagi é uma tarefa hercúlea em nosso país, ainda mais quando os nossos governantes utilizam-nas como moeda de troca entre seus pares, material de campanha entre seus eleitores e recurso estratégico entre os seus opositores. É provável que uma ou outra seja atenuada, mas extingui-las está longe de se concretizar, ainda mais quando nós, eleitores, não apenas as defendemos, mas exigimo-las como se quem estivesse com a caneta na mão tivesse obrigação de concedê-las a qualquer custo.
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