Cerimônias de inauguração de obras públicas exemplificam a gastança de políticos

A inauguração de uma obra pública sempre é uma oportunidade de autopromoção. Tomemos, por exemplo, o caso da construção de uma ponte. Desde os estudos preliminares do projeto até o início da obra, não apenas detalhes técnicos são discutidos, pelo menos não pelo gestor público da pasta, que geralmente foi comissionado por um político. O que mais importa de fato é entregar a obra antes do próximo pleito eleitoral. Isso pode não ser um consenso, mas é o que permeia a política nacional em sua maior parte.

A obra se inicia e, dependendo de cada caso, contratos são aditivados a cada nova “surpresa” que a equipe operacional se defronta, seja porque o material que foi proposto não se enquadra no tipo de terreno submerso, seja porque mais vigas de sustentação devem ser acrescentadas, por exemplo. Alguns aditivos são até compreensíveis, afinal de contas, nem sempre se pode conhecer o real desafio de uma obra (por conta das intempéries, por exemplo) até o momento em que a inicia. Mas outros, e talvez esses sejam os mais comuns, são só uma forma de se obter mais dinheiro público, e não é à toa que volta e meia sabemos de casos de superfaturamento de obras públicas onde tanto os contratados como os gestores do contrato se locupletam à custa do contribuinte.

Passado tudo isso, com ou sem superfaturamento, a obra, enfim, é concluída e outro desafio se insurge: a inauguração. Não sei se você percebe, mas a inauguração de um empreendimento privado é bem diferente do público. Enquanto naquele, o alarde dos donos é feito antes da inauguração, por meio de anúncios e divulgação, para que no dia exato possam abrir as portas ao público, neste (o empreendimento público) a comoção maior dos gestores é direcionada para o próprio evento, decorrendo disso todo aquele ajuntamento de políticos, correligionários, apoiadores e lambe-botas prestigiando discursos vazios e narcisistas.

As festas de inauguração de uma obra pública ocultam outra faceta bem comum na política nacional: os gastos de locomoção. Se uma obra pública, como a ponte que estamos tomando como exemplo, for inaugurada no interior de um determinado estado do país, há uma grande possibilidade de tanto o governo estadual ou federal estar presente, a depender se o financiamento da obra foi oriundo do cofre estadual, federal ou ambos. Mas tratemos como sendo uma obra pública financiada exclusivamente pelo governo do estado.

Neste caso, independentemente se o gestor público da cidade onde a ponte foi construída é ou não apoiador do governo estadual, este ainda assim buscará alguma forma de se fazer presente e mostrar aos habitantes daquela cidade que ele foi o responsável pela concretização daquela obra. Se o gestor público local for aliado do governo estadual, a festa será grande, dependendo de cada situação, com direito a passeata ou motociata pelas ruas, visitas a determinados centros e comunidades ou até mesmo almoço e jantares com correligionários. Caso não seja aliado, será uma visita relâmpago mesmo: o helicóptero pousa; ele tece cinco minutos de comentário ao microfone; corta a faixa simbólica; tira uma ou duas fotos e vai embora.

Em ambos os cenários os gastos de locomoção acontecem. O helicóptero, as passeatas, as visitas, a confecção de palco e estrutura de inauguração etc., todos esses itens entram como gastos de locomoção – gastos públicos que vem justamente do dinheiro do pagador de impostos. São gastos desnecessários, mas que dificilmente serão evitados, ainda mais quando se destinam a fins puramente eleitoreiros e de autopromoção. A melhor forma de evitar esses gastos públicos seria simplesmente não realizar as cerimônias, ou, se for pra realizá-las, então que fosse por meio de um decreto ou anúncio virtual mesmo. Mas quando o assunto é reconhecimento público, vale tudo para se tornar visível, mesmo que o princípio da impessoalidade na Administração Pública oriente o contrário.

Na política nacional, quanto mais se gasta, mais a taxação ao contribuinte é ampliada. Gastos fúteis e inúteis, como inaugurar uma obra pública, só servem para autopromoção dos nossos governantes. Alguns gestores insistem até mesmo em duas cerimônias quando, por exemplo, é uma ponte que liga duas cidades. Ao fazer isso, estará gerando duas vezes mais gastos, indo na contramão da austeridade que se espera de um governante.

É possível ser nababesco e brega ao mesmo tempo, basta apenas insistir que toda obra pública deva possuir uma cerimônia de inauguração, ainda mais quando o dinheiro gasto para se locomover até essas cerimônias ou produzi-las é só mais uma forma de mostrar ao contribuinte como o dinheiro arrecadado dele pode ser esbanjado vaidosamente por quem o arrecada.