Chapada: Ifba de Jacobina desenvolve parceria com empresa ceramista para aproveitamento de resíduos minerais
Jander reduzindo o resíduo mineral; processo de cominuição usando almofariz e pistilo sendo realizado por Joanderson e Pedro em laboratório | FOTO: Divulgação/Ifba.
As atividades do projeto começaram em novembro de 2019, sendo finalizadas em março deste ano
“Unir experiências e informações técnicas que favoreçam o desenvolvimento sustentável, por meio de pesquisas e aplicações na área de materiais e ecomateriais”. Esse é o principal objetivo do projeto ‘Incorporação de Resíduo Mineral em Massa Cerâmica para Produção de Blocos Cerâmicos’, desenvolvido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba), campus de Jacobina, na Chapada Norte, em parceria com a empresa Cerâmica Canabrava. Coordenado pela professora Talita Gentil (geóloga), em conjunto com os professores Tércio Graciano e Patrícia Neves, doutores em engenharia de materiais, a iniciativa contou com a participação de três bolsistas dos cursos técnicos integrados ao ensino médio: Jander Lopes e Joanderson Amaral, egresso e aluno de eletromecânica, respectivamente, e Pedro Henrique Silva (3º ano de mineração).
Para o jovem Joanderson Amaral, participar do projeto “foi uma experiência muito importante”: Agradeço à Canabrava e ao Ifba por me ter proporcionado a realização deste projeto como um dos alunos bolsistas. Além de ter me ajudado a compreender o papel de um pesquisador, absorvi conhecimentos de diversas áreas, principalmente quanto à engenharia de materiais, geologia e aos processos para a obtenção da cerâmica, entrelaçando-os com os conteúdos que estudei no primeiro ano do curso [eletromecânica]. Estou fascinado com tudo o que aprendi e não vejo a hora de ter uma nova experiência como essa”, disse. Ao lado dos colegas, Joanderson realizou diferentes procedimentos, como tratamento térmico, secagem, queima, peneiramento e prensagem.
Pedro Henrique Silva declara que “ganhou uma nova visão sobre o mundo de trabalho no ramo da mineração”. “Desenvolvemos uma série de atividades para avaliar se os resultados eram promissores quanto à inclusão do resíduo mineral de ouro juntamente à massa dos blocos cerâmicos da Canabrava. Muitos testes foram realizados para se ter certeza de tal fato. Entre eles, a fabricação de corpos de prova para análise das propriedades físicas, como resistência, absorção de água e porosidade. Todas as atividades foram realizadas em laboratório, no próprio Ifba, e no turno oposto ao das aulas, com acompanhamento dos orientadores. A partir desse projeto, ampliei a forma de ver o mundo, em que sempre precisamos estudar e desenvolver coisas novas para a melhoria, não só do bem estar humano, mas também do nosso planeta”.
“Ideias surgem do primeiro contato com determinada experiência, por isso acredito que possa contribuir ainda mais na área de ciências, progredindo novos projetos para uso em sociedade com foco na preservação ambiental”, afirma Silva. Na opinião do prof. Tércio Graciano, líder do grupo de pesquisa Automação, Eficiência Energética e Produção do Ifba, do qual a equipe docente do projeto faz parte, participar de ações como essa é uma maneira de o estudante associar a teoria ministrada em sala de aula com a prática profissional, além de vislumbrar o ambiente de trabalho in loco, devido à oportunidade de visitar uma empresa, entender o seu funcionamento e a importância de diversificar a linha de produtos com um material ecologicamente correto. “Essa aprendizagem fortalece a formação dos nossos discentes, acompanhando-os por toda a sua vida profissional”, destaca.
Pedro conferindo as medidas da amostra com paquímetro digital antes da queima | FOTO: Divulgação/Ifba.
A Parceria
As atividades do projeto começaram em novembro de 2019, sendo finalizadas em março deste ano. A proposta surgiu por parte da empresa, que, através da imprensa, soube das ações realizadas pelo Instituto no campo da utilização de resíduos minerais em massa cerâmica. “Após a nossa participação no 63º Congresso Brasileiro de Cerâmica (CBC), tivemos contato com o proprietário da Canabrava, que nos propôs uma parceria inicial para desenvolver massa cerâmica, incorporando, ao resíduo mineral já utilizado pela empresa, o decorrente da exploração de ouro”, explica a coordenadora, Talita Gentil, atual responsável pela área da extensão do Campus Jacobina.
A sócia-administradora da empresa, Úrsula Menchen, avalia como “extremamente positiva” a parceria: “Acredito que as empresas sempre estarão abertas para contribuir com pesquisas que sejam relevantes para a melhoria de processos. As ações da Canabrava nesta pesquisa consistiram no fornecimento de amostras das argilas utilizadas no nosso processo de fabricação e informação dos percentuais delas na mistura, além do pagamento de três bolsas de estudos durante quatro meses. Ainda faz parte da parceria o fornecimento de 5.000 blocos para ampliação de dependências do Ifba”.
“Ao mesmo tempo que incorporamos algo novo ao processo de fabricação, atendemos à exigência da licença ambiental, que é o apoio a ações educacionais relacionadas ao meio ambiente. De acordo com o relatório enviado pela equipe, o resultado é promissor e o próximo passo é organizarmos um teste na nossa fábrica utilizando as misturas testadas pelos alunos para fabricar um lote experimental. É algo realmente aplicável à prática industrial, sendo extremamente benéfico para o município de Jacobina”, explica Úrsula.
Para a professora Patrícia Neves, que também coordena a área de pesquisa do campus, o projeto demonstrou a importância do estudo de novas alternativas para o aproveitamento de resíduos minerais. “Por meio das diversas metodologias utilizadas, foi possível constatar que os resíduos podem ser incorporados à massa cerâmica para produção de blocos, trazendo benefícios não só ao meio ambiente, como também à produção da indústria cerâmica”, pontua.
Processamento térmico das amostras, sendo realizada a queima de 800 ºC; coloração dos corpos de prova após a queima em 800, 850 e 900°C | FOTO: Divulgação |
“Uma das nossas metas é estudar a influência da adição de resíduos nas propriedades tecnológicas de produtos cerâmicos, desenvolvendo novos materiais e rotas de produção. Para tanto, neste estudo, elaboramos formulações ideais (com porcentagens de resíduo mineral variando de 5% a 30%) para cada componente da massa cerâmica, a fim de analisar a viabilidade técnica da produção desses produtos em escala industrial. Assim, os melhores resultados foram alcançados com, no máximo, 20% de resíduo mineral. Nesse caso, foi possível indicar a utilização do resíduo na massa cerâmica da empresa para a produção de bloco cerâmico”, diz
“Buscamos, ainda, ampliar e fomentar o desenvolvimento tecnológico do Ifba em parceria com outras empresas, além de fortalecer a parceria com a Canabrava, disseminando o saber científico na produção de produtos ecologicamente eficientes e inovadores, além de reduzir o impacto ambiental, tanto na quantidade de matéria-prima utilizada nesse processo (argila) quanto no passivo mineral, provocado pelo descarte desses materiais”, acrescenta a coordenadora do projeto.
Saiba mais
Em 2019, a professora Talita Gentil esteve na Espanha, representando, pela 2ª vez e em caráter exclusivo, a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no Qualicer 2020, evento internacional de referência no âmbito da qualidade de produtos cerâmicos. Na ocasião, foram compartilhados os frutos dos trabalhos desenvolvidos pelo Ifba de Jacobina no âmbito do aproveitamento de resíduos da indústria mineradora na produção de massa cerâmica para a fabricação de blocos, placas de revestimento e telhas.
Neste ano, os dados obtidos pelo projeto em questão foram organizados no formato de artigo científico, com aceite para publicação e apresentação na 72ª Reunião Anual da SBPC, que será realizada virtualmente entre os meses de setembro e dezembro de 2020.
Jornal da Chapada
Seja o primeiro a comentar!
Seja o primeiro a comentar!