Conheça a rica cultura da comunidade quilombola de Alagoinhas: história, tradições e resistência
Imagens: reprodução.
No município de Gentio do Ouro, existem diversas comunidades quilombolas que preservam suas tradições
A cultura quilombola é uma rica manifestação cultural brasileira que representa a luta e a resistência de comunidades negras que se estabeleceram em territórios remotos, isolados e muitas vezes inacessíveis, durante o período colonial.
No município de Gentio do Ouro, existem diversas comunidades quilombolas que preservam suas tradições e sua identidade cultural, e que contribuem para a riqueza cultural da região.
Uma delas é a comunidade quilombola de Alagoinhas, que está diretamente relacionada à escravidão e ao tráfico negreiro que ocorreu no Brasil durante o período colonial.
COMUNIDADE QUILOMBOLA DE ALAGOINHAS
Tudo surgiu quando dona Romana e mané Brasileiro, seu companheiro na época chegaram a um lugar cheio de mata, no qual batizaram por nome de Alagoinhas.
Eles eram de Minas Gerais e ambos vieram fugidos da escravidão, e se refugiaram nas matas, pois era um lugar próximo as fontes de água, e de difícil acesso para serem descobertos, com isso começaram construir sua casa de enchimento e foi onde descobriram a Mina de Cristal, a famosa Mina Preta.
Com um tempo Romana teve sua primeira filha, Antônia e da família de Romana surgiu todas as famílias da comunidade de Alagoinhas.
Romana era bastante conhecida e experiente, com o passar dos anos se tornou parteira, conhecida por salvar a mãe quando ocorria a morte do bebê na barriga, ela, mutilava o bebê na barriga e retira em pedaços, não cortava a mãe e ainda a salvava.
Com isso Romana deixou o seu legado e seus ensinamentos, para sua filha Antônia onde deu continuidade. Antônia se casou com Basílio, onde tiveram quatro filhas (Deraldina, Hosana, Severiana, Almira) que se casaram com refugiados que chegaram no quilombo.
Dona Antônia era parteira e realizou o parto de todos da comunidade na época, com o passar dos anos ela perdeu a visão e mesmo assim continuou fazendo partos, ela morreu com aproximadamente 110 anos, onde passou seus ensinamentos para suas filhas, e que deixou seu legado e seus ensinamentos que seguimos até os anos de hoje.
Na época, viveram momentos difíceis apesar da existência da Mina Preta, essas famílias sofreram bastante, pois o alimento pode se dizer que não tinha. Se alimentavam da batata de umbu para matar a fome, e para saciar a sede era retirada a água das palmeiras de palmito, que também servia para se alimentar.
Com um tempo começaram a plantar mandioca para produzir a farinha, o trabalho era bem difícil pois a mandioca era ralada à mão, e mexida em torradeiras. Depois de pronta era misturada com água, para se alimentar da tal “farinha molhada”.
A forma de trabalho que existia na época era para os coronéis brancos na qual trabalhava era em troca de comida, ou seja, por ¼ de rapadura ou um litro de farinha, para poder sustentar suas famílias, esse trabalho iniciava na madrugada e ia até o anoitecer.
Com um tempo já existia na comunidade o senhor Zé de Rosa que era filho de Deraldina, que era filha de dona Antônia, ele se casou com dona Arlinda, não tiveram filhos, mas, adotaram, seu Zé de Rosa, na época começou a comprar cristal e foi o primeiro a ter um comércio onde vendia para a comunidade, era na casa de seu Zé que acontecia os encontros de chulas, onde ele tocava sanfona e pandeiro.
Outra parte sofrida era a falta d’água, a comunidade enfrentava uma grande escassez. A água que existia ficava a quilômetros de distância numa fonte chamada Jatobá, e na comunidade próxima chamada Retiro.
A fonte do jatobá abasteceu toda a comunidade por muitos anos, as pessoas iam à noite, ou até mesmo na madrugada com uma botija na cabeça, essas vasilhas de barro eram feita por Antônia de Loura, a água era minada e não era suficiente para abastecer toda a comunidade, mas a única existente para beber.
Com todo o sofrimento o que mantia a comunidade firme era a religiosidade pois tinham muita fé, e era na casa de Dona Hosana que acontecia as orações e foi ela quem ensinou e rezava nas pessoas que ficavam doentes na época, a mesma era conhecida como a médica da comunidade, com as ervas retirada da comunidade ela fazia remédios e chás medicinais para curas de doenças, deixou seu legado e até hoje suas aprendiz rezam na comunidade seguindo seus ensinamentos, e hoje temos na comunidade dezoito raizeiros empoderados.
As roupas que as pessoas usavam eram feitas de algodão, fiadas em uma roda de pau. Cada pessoa possuía apenas uma peça, quando lavavam tinha que ficar despido até a roupa secar, muitas crianças andavam peladas pelas ruas, pois não tinham o que vestir, com um tempo dona Arlinda esposa de Zé de Rosa, chamada por Dindinha e muito querida por todos costurava roupas e dava para quem não tinha.
Sandálias? Ninguém tinha! e os que tiveram eram feitas de couro de boi ou pneu, mas a maioria andava descalço.
Com o passar dos anos novos habitantes foram surgindo e a Mina Preta se tornou uma fonte de renda para toda a comunidade, pois já se comercializava por tostões as pedras de cristais encontradas. Com isso foi melhorando as condições de vida, acesso à educação ofertada na época onde Ivonete conhecida na comunidade como Netinha, esposa de Nailor, que omeçou a da aula e ensinar as pessoas a ler e incentivava a seguir valorizando nossa cultura, ela faleceu e deixou cinco filhos e hoje é lembrada pelo trabalho prestado e comprometimento com o quilombo.
Novas pessoas foram surgindo, famílias se formando e deixando o seu legado, as culturas, os movimentos religiosos, onde Dona Idália se tornou uma pessoa importante e respeitada, a principal puxadora do reisado de São José, aprendiz de sua tia Hosana, ela era muito religiosa, ela ensinou muitas orações, faleceu em 2018 e deixou o seu legado e valores no quilombo.
Com toda a luta da comunidade e resistência, ela sempre se manteve unida, onde tivemos a oportunidade de conviver com pessoas que deixaram seu legado, onde podemos ouvi-los, toca-los e conviver, nos ensinaram que precisamos conhecer a nossa origem, a nossa história, e a valorizar e honrar tudo que aprendemos desde a existência de Romana, eles foram os centenários da comunidade onde merece todo o nosso respeito, e gratidão e os mesmos nos ensinaram a refletir com a história do nosso quilombo e nos orgulhar em fazer parte dele, então valorize a comida que tem na mesa, valorize a sandália que você usa, valorize a roupa que você veste, valorize a vida que Deus lhe deu e jamais se esqueça de onde você veio. Grata a Deus pelas palavras seu Zé de chico, Guilhermina, Liberina e Bió...
Escrito por: Rosileia Maria de Souza com a colaboração de Seu Atenor, Deraldina, Rosalvo, Maria, Genelisia, Siderlinda, Zé de Chico, Liberina e Girleno.
CORDEL DO QUILOMBO DE ALAGOINHAS
Boa Noite, pessoal! Prestem bastante atenção, Vamos falar do Quilombo Com orgulho e satisfação...
Quando se fala em quilombo Muitos não sabem explicar Pensam que é um local Sofrido para danar Muitos aqui desconhecem Mas somos a resistência Desse querido lugar.
Por isso aqui estou, Para nossa importância mostrar De onde nós viemos, Onde queremos chegar Na luta pelos direitos para o quilombo prosperar.
No quilombo de Alagoinhas A luta não terminou Mesmo após a certificação A resistência continuou Os quilombolas seguiram Por seus direitos batalhando. Conquistando suas vitórias E em outras trabalhando.
De 2018 para cá Muitos avanços surgiram, Foi criada a associação Onde as pessoas se uniram, Em prol de um bem comum: Trazer ao Quilombo o brilho!
A fundação Cultura Palmares chegou Certificando a comunidade Que há muito esperou, Dando voz para aquele Que por tanto se calou!
Pois o seu objetivo para isso é voltado, Garantir que os direitos não sejam violados, Assegurando assim a liberdade de expressão, Tornando igualitária, paritária a inclusão.
Chegou então na comunidade Um inesperado empreendimento Onde o quilombo, por sua vez, Teve muito contentamento Através da Alupar, Ganhou uma Sede com todo equipamento.
Na luta pelos direitos Fomos privilegiados Sendo sinceros, com efeito Nos sentimos afortunados Com todos os avanços O progresso começou Hoje, a comunidade Sabe qual o seu valor Deixando aquele legado De um povo sofredor.
Teve na comunidade Cursos e oficinas Para todos da localidade Homem, mulher, menina... Gerações de emprego e renda Aquilo que era só lenda, Hoje está na nossa sina.
A luta pelos direitos O seu efeito teve então Oportunizando ao povo preto Como qualquer outro cidadão.
O SENAI era um sonho, Visto pela televisão. Nunca se foi pensado Vir para associação. Não só veio, como trouxe Cursos para população Ofertando para os jovens Conhecimento e profissão.
Jovens de fora vieram Para a comunidade estudar Buscando aprendizado Aqui no nosso lugar. Isso tudo é quilombo Ocasionando oportunidade Para jovens se formar.
Para a gente comunicar Tudo era mais difícil Não tinha Internet E nem telefone fixo. Foi então que chegou a Alupar Com mais uma compensação Instalou foi uma torre Para o povo se alegrar Trazendo Internet Para dentro do seu lar O povo ficou todo contente E sem nenhum real pagar!
Quando lembro do passado, As lágrimas começam a cair Nunca pensei nessa vida Em meu quilombo progredir Trazendo para o meu povo Esperanças pra seguir...
Graças a AGROCOOP, Essa instituição singular, Chegou na comunidade Para a agricultura familiar Ser melhor capacitada, E seu produto valorizar.
Para o quilombo, mais uma solução Promovendo para o povo Conhecimento e profissionalização Tudo isso como um gosto novo, Usando as próprias mãos
Ofertados pela Cesol Cursos para a população Possibilitando geração de renda Através de luta e dedicação, Levando ao comércio Nossa microprodução Valorizando os produtos Da nossa associação!
Na luta pelos direitos Iremos continuar A melhoria das famílias Também iremos buscar, Até me faltam palavras Para poder expressar A quantidade de objetivos Que ainda iremos alcançar, Tudo aquilo que é preciso Para o quilombo prosperar!
Finalizo esse cordel Saudando a todos presentes Agradeço a oportunidade, De falar da minha gente Exaltando nossa trajetória Aos que aqui estão presentes E grito neste ambiente, Sem me estender demais, Viva os afrodescendentes E as comunidades tradicionais!
*Fonte: Escrito por: Rosileia Maria de Souza com a colaboração de Seu Atenor, Deraldina, Rosalvo, Maria, Genelisia, Siderlinda, Zé de Chico, Liberina e Girleno.
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