De bobo e louco, muitos querem nos convencer que temos um pouco
Imagem Ilustrativa.
INALDO BRITO | Não, você não leu o título errado, caro leitor. A impressão que dá é que vivemos num ambiente esquizofrênico e que, aos poucos, é como se nós também estivéssemos nos tornando paranoicos. Hoje, devido à velocidade da informação instantânea, ficamos sabendo de bizarrices praticamente a cada hora. O compartilhamento de notícias se tornou tão intenso que o desafio hoje é filtrar o que é verdade do que é mentira. De toda forma, essa década que se encerra mostrou ter aumentado o número de descalabros cometidos em nome da sensatez e sã consciência. Nesse artigo, vamos passear por alguns dos mais recentes, envolvendo (sempre ele!) o racismo
O Brasil adota desde o ano 2010 a “Black Friday” – a última sexta-feira do mês de novembro em que lojistas possibilitam preços promocionais em todos os produtos a fim de atrair mais consumidores. Diferentemente da nação americana, onde realmente você pode adquirir um produto pela metade do preço, no Brasil já virou rotina a maquiagem dos preços, onde se compra “pela metade do dobro”. Mas, ainda assim, alguns produtos não acabam entrando nesse ilusionismo, como livros e eletroeletrônicos, por exemplo, e o consumidor acaba se beneficiando.
Pois bem, com toda essa expectativa em torno da data, infelizmente alguns não veem o termo “Black Friday” com bons olhos, procurando resquícios de suposto racismo no termo simplesmente por que, traduzindo ao pé da letra, significa “Sexta-feira negra (sombria, sinistra, hostil)”. Mais uma vez, nota-se que o preconceito está muito mais em quem observa o termo cruamente do que em quem o criou. Através de uma busca simples na internet é possível constatar que a origem da expressão “Black Friday” nada tem a ver com racismo, mas sim ao que acontecia nesse dia nas cidades americanas. A data, no calendário americano, é comemorada após o Dia de Ações de Graças e abria a temporada de compras para o Natal. Era um caos instalado, onde todos procuravam se antecipar para garantir seus presentes.
O vínculo de dia caótico com a expressão “Black Friday” é parecido com o que acontece quando olhamos para o céu e o vemos se escurecer prenunciando um temporal. É natural dizermos que vai ser um “Deus nos acuda” quando as águas jorrarem. A expressão também pode ser explicada pelo fato de atrelarmos a cor preta (que é diferente de etnia ou fenótipo) como sinônimo de intranquilidade, desarmonia e preocupação, tendo em vista que o dia, na nação americana, era algo que inquietava os próprios policiais responsáveis pela organização do pós-feriado de Ações de Graças. (A título de curiosidade, o termo também é oriundo do fato de que muitos varejistas usavam a cor preta para representar valores positivos em seus gráficos de vendas, enquanto a cor vermelha era para valores negativos. Esse período no vermelho ia de janeiro até novembro, então, logo após o feriado de Ações de Graças, as vendas começavam a subir e ia até o final do ano.)
Quando estamos prestes a entrar numa situação de desconforto ou de temor, geralmente dizemos que “a coisa vai ficar preta”, uma expressão que possui o mesmo significado do que foi proposto quando o termo “Black Friday” foi cunhado pelas autoridades. Perceba, caro leitor, que quando citamos as palavras preta, preto, negra, negro, negridão, isso não quer dizer automaticamente que estamos sendo racistas, até porque as palavras em si não têm esse poder de tornar o seu usuário como racista, pelo contrário, há sempre que se procurar entender o contexto. O problema que está sendo polemizado hoje é que qualquer uso dessas palavras num contexto de apreensão ou temor já é prova incontestável de racismo, ou, como querem nos fazer engolir, o famigerado “racismo estrutural”.
Com isso, não surpreende que uma certa militância racial esteja cada vez mais tomando territórios em áreas que, segundo pensam, podem ser utilizadas para mudar esse cenário, tanto na base de uma reengenharia social como na própria coerção. É assim, por exemplo, que a Defensoria Pública do estado do Amazonas está agindo. A instituição proibiu que o termo “Black Friday” fosse utilizado por achar que constitui uma expressão racista, então orientou que o nome da data fosse alterado para “Semana promocional”. Só que “Black Friday” nada mais é do que uma metonímia para dia de promoções, ou seja, o que se quer dizer já está implícito no próprio termo. Não tem nada de negativo na expressão, pelo contrário, é extremamente positivo, tendo em vista que toda promoção é bem-vinda.
Raciocínio parecido com esse da Defensoria Pública do Amazonas teve também o grupo lojista O Boticário, no qual se comprometeu a não adotar a expressão “Black Friday” por ver nisso sinal de comportamento racista. Novamente, por meio do que já foi explicado mais acima, o mero uso de uma palavra só deve ser interpretado no seu contexto devido, o que na expressão nada tem a ver com racismo, mas sim analogia a uma situação pandemônica de alto consumo. No rumo em que estamos, chegará um tempo em que simplesmente dizer que alguém é negro já será motivo suficiente para lhe acusarem de racismo, sem atentar a forma, o motivo e o contexto da frase. A militância racial radical aos poucos está conseguindo a proeza de transformar a sociedade num bando de paranoicos.
Outra situação parecida com essas foi a que se deu com a rede varejista Magazine Luiza que anunciou um programa de trainee exclusivamente para negros como forma de “reparar dívidas históricas” à população negra e trazer mais diversidade ao seu séquito de diretores e cargos executivos. Curiosamente, o Ministério Público Federal não viu nada de racismo nessa ação da rede, pelo contrário, foi digna até mesmo de elogio e incentivo a outros players nacionais. A cereja do bolo dessa esquizofrenia foi colocada pela Prefeitura de São Paulo, no qual, como forma de homenagear o mês da Consciência Negra e “combater o racismo”, alterou alguns semáforos de pedestres, com os tradicionais bonecos de pare e siga, por punhos cerrados (verde e vermelho).
Não se combate racismo mudando semáforos. Não se combate racismo mudando o nome de datas. Não se combate racismo privilegiando o grupo que sofre preconceito. O primeiro se torna mero exibicionismo; o segundo demonstra mero coitadismo; e o terceiro só causa mais desunião. A tônica que temos hoje nessa sociedade desequilibrada é que uma palavra tirada fora do contexto da sua expressão é considerada racismo, enquanto uma iniciativa claramente segregacionista e que privilegia um certo grupo social é tachada como acertada e louvável.
E, lógico, que toda essa situação manicomial é usada por políticos como forma de autopromoção, denominando-se como defensores dos oprimidos, mas que no fundo só estão interessados em tornar tais grupos submissos e subordinados a si mesmos, replicando o comportamento que juram combater e, demonstrando com isso, a falácia que é sua própria luta. Um certo pregador disse algo que ficou marcado para sempre: “Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.” (cf. Rm 14.22) Não é nós que somos loucos, mas sim quem está dentro do hospício é que insiste em alargar os seus muros para conseguir nos alcançar e nos tornar como eles. O tempora! O mores!
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