Especialistas contrariam Witzel e afirmam que mais armas causam mais mortes

Foto: Guito Moreto / Agência O Globo.

Pesquisas e estatísticas contrariam tese do governador de que 'quanto mais cidadãos de bem estiverem com armas de fogo para proteger a sociedade, melhor será'

RIO — O governador Wilson Witzel deu um tiro que saiu pela culatra quando defendeu que “quanto mais homens de bem estiverem com armas de fogo para proteger a sociedade, melhor será” . A opinião é de especialistas em segurança e saúde pública. Para eles, o resultado de uma maior oferta de armas nas ruas é exatamente o contrário: mais mortes.

Eles se baseiam em pesquisas já disponíveis sobre o assunto, algumas produzidas por órgãos do próprio estado. Dados da Corregedoria de Polícia, por exemplo, contestam a lógica defendida por Witzel na segunda-feira, durante uma cerimônia em que autorizou PMs a levarem seus coletes e armas para casa como forma de melhorar sua autodefesa. Dos 92 policiais assassinados em 2018 no Rio, 55 estavam de folga no momento do crime e 24, em serviço. Treze eram reformados. Mais da metade dos agentes da ativa mortos fora de serviço (37) foi vítima de assalto ou reagiu a uma tentativa de roubo. Em São Paulo, um estudo do Instituto Sou da Paz, com base em estatísticas dos anos de 2013 e 2014, apontou que 70% dos assassinatos de policiais na capital tinham ocorrido no período de folga dos agentes. Nos dois anos analisados, 67 PMs foram mortos, sendo que, deste total, 47 não estavam em serviço. Mais da metade deles teve as armas levadas pelos criminosos.

— Essa não é a medida protetiva que irá salvar os policiais. É uma leitura equivocada sobre o que mata os policiais fora do horário de serviço. Aliás, muitos policiais preferem não levar a arma para casa justamente porque ajuda a criminalidade a identificá-los — afirmou Ivan Marques, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz.