Ilusões políticas: quando meras opiniões tornam-se cosmovisões deturpadas
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | É comum gostarmos de emitir nossas opiniões acerca de quase tudo. Aquilo que antes era reservado a determinados veículos de informação, fosse no jornal impresso ou no rádio, agora chega mais rápido, de forma instantânea, por meio das redes sociais. Opiniões são importantes para se conhecer as ideias de alguém. Mas, mais importante do que opiniões, as cosmovisões é que deveriam mover e conduzir os pensamentos e raciocínios de uma sociedade.
Isso não quer dizer que toda cosmovisão é passível de ser defendida. Mesmo um nazista ou alguém que defende o aborto possui os argumentos aparentemente mais críveis para sustentar sua posição favorável àqueles atos. Porém, isso não quer dizer que sejam éticos e possuam um nível satisfatório de moralidade. Apenas reflete um mau uso das ferramentas filosóficas numa empreitada equivocada.
E já que estamos falando de cosmovisões, com a política não é diferente. O cenário brasileiro demonstra como o uso massivo de falácias, malabarismos filosóficos e jurídicos, e a mera emissão de opiniões faz com que a maioria dos representantes políticos na Câmara e Senado esconda suas reais intenções com os projetos que submetem aos seus colegas, assim como aqueles que votam no Plenário.
O pior sem dúvida é a aprovação de um fundo eleitoral de campanha que gira na casa dos bilhões. Os parlamentares favoráveis ao fundo utilizam todo tipo de artifício para defender que é lícito e correto utilizar dinheiro público dos pagadores de impostos para financiar seus partidos políticos, suas campanhas eleitorais e, quiçá, seus possíveis advogados caso sejam investigados (ou presos) por alguma operação policial.
De tanto falar e emitir suas opiniões favoráveis à aprovação do fundo eleitoral, tais alegações se transformam numa cosmovisão para o nobre parlamentar. As frases saem do campo especulativo e entram na seara do factível. Sem nenhum pudor ético-moral, tais representantes chegam ao ponto até mesmo de dizer que “sem financiamento público de campanha, nenhum partido sobrevive”, algo que parece ser colocado em pé de igualdade com a expressão “sem ter o que comer, ninguém pode viver”.
Na verdade, o que podemos constatar é que tais cosmovisões nada mais são do que ilusões político-partidárias que os parlamentares insistem em expor à população. Sem se preocupar se as pessoas aceitam ou não essas ilusões, os representantes prosseguem suas vidas políticas com o único objetivo de continuar saciando seu próprio umbigo, satisfazendo seu próprio partido (e correligionários), e acumulando mais e mais do erário público.
Um dos grandes desafios de quem se lança a cargos políticos, caso possua algum senso sobre o que é ético e moral, é manter a sua integridade e idoneidade no ambiente em que circula. Infelizmente, mesmo exigir isso chega a ser difícil, já que a maioria da classe política corrompera termos como honestidade e probidade. Com isso, partidos podem exigir de seus postulantes lealdade e honra, só que não a princípios éticos e morais de uma sociedade civilizada, mas sim ao regimento do próprio partido.
Exemplo disso foi o que aconteceu com a deputada Tabata Amaral, do PDT, quando não seguiu a “orientação” de seu partido e votou a favor da Reforma da Previdência. A parlamentar sofreu ameaça de expulsão (bem como outros mais de partidos diversos), por parte das lideranças do partido, mas ainda permanece associada.
Poucos são aqueles que conseguem transitar no meio político sem corromper seus bons costumes. Lamentavelmente, muitos dos que se lançam em eleições já adentram desvirtuados, outros são conduzidos como meras peças por seus padrinhos políticos que insistem em manter o poder de seus partidos ou suas famílias políticas. Não é à toa que as cosmovisões (ou ilusões político-partidárias) se mantêm inalteradas, e, consequentemente, continuam ainda mais parasitárias.
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