Informações e notícias falsas têm solo fértil no coração dos incautos
Imagem Ilustrativa
INALDO BRITO | Nos últimos anos o termo fake news dominou os noticiários, ao ponto de ter sido alçado, em 2017 no Reino Unido, como “palavra do ano” e recebido uma menção no Dicionário Collins. A disseminação de fake news tem ganhado proporções tentaculares a cada ano, principalmente em tempos de eleição. O que poucos se atentam em notar é que já praticávamos e éramos atingidos pela estratégia desse termo antes mesmo dele ganhar notoriedade. Boato, rumor, invenção e zunzunzum eram os nomes mais comuns para o que é tachado hoje como fake news. Em nossa sociedade brasileira, há vários exemplos de que já nascemos na sua sombra.
Um exemplo simples vem da área econômica, especificamente o que diz respeito ao mercado financeiro. Por décadas, figuras mais ligadas ao espectro da esquerda demonizaram a bolsa de valores e a compra e venda de ações ventilando ao público leigo que isso era uma forma dos ricos tirarem dinheiro dos mais pobres sem, desse modo, haver nenhum retorno para estes. Congressos eram realizados para divulgar essas ideias, partidos e políticos eram eleitos com essas ideias e até mesmo famosos perpetravam essa ficção.
Esse é um tipo de assunto em que ignorância e má-fé convivem pacificamente. Poucos sabem a importância da bolsa de valores para um país e seu povo. Poucos se atentam de que o mercado de capitais é engrenagem fundamental para o crescimento econômico de uma nação. Empresas se lançam na bolsa na esperança de levantar dinheiro para a sua expansão e manutenção, criando com isso mais emprego para a população, além de mais oferta de produtos ou serviços para os consumidores.
Diferentemente do que os inventores de boatos dizem, a bolsa de valores não tira dinheiro dos pobres, pelo contrário, qualquer pessoa voluntariamente pode investir em alguma ação de empresa listada na bolsa. Não há coerção, não há roubo, não há jogo de soma zero. O problema é que como a bolsa de valores é o exemplo mais notório do que é o capitalismo, e como de certa forma fomos induzidos a desenvolver uma mentalidade anticapitalista (seja por conta da educação escolar, familiar ou religiosa que tivemos), a menor menção a investimento de risco já é motivo suficiente para desconfiança, por parte do leigo, e execração, por parte do indivíduo de má-fé.
O maior mercado de fake news é o que envolve o sentimentalismo dos indivíduos. Pessoas que se arvoram no Estado como uma ama-de-leite para si, ao verem alguma ameaça ao “equilíbrio” do seu bem-estar, automaticamente procurarão qualquer argumento (correto ou não) que valide a sua crítica àquela mudança. Quando, por exemplo, um sujeito que cresceu e foi formado por essa mentalidade anticapitalista se torna funcionário público, enquanto ele detiver esse tipo de mentalidade, mostrar-se-á contrário a qualquer notícia de privatização ou parcerias com a iniciativa privada (mesmo que tal notícia não seja relacionada à empresa ou órgão público em que ele trabalha). Aqui sobrarão inúmeras justificativas implausíveis: desde elencar que a iniciativa privada paga mal (sem pensar que o fato dele ser um “consumidor de impostos”, por ser um funcionário estatal, é um dos motivos) até propagar que todos serão demitidos caso a privatização aconteça.
Talvez seja propício apontarmos aqui o problema em que estamos envolvidos, seja diretamente ou indiretamente. O que possuímos, especificamente, é uma mentalidade antiverdade, que pode ser enunciada como uma “postura voluntária ou impensada de propagar, assimilar ou se apropriar de informações distorcidas, principalmente falsas, e que se mostra irredutível ou indiferente a qualquer busca por melhor elucidação ou esclarecimento do assunto”.
Muitos políticos propagam boatos, mentiras e fake news com uma naturalidade gélida que ficamos na dúvida se ele não está perturbado do juízo. Os melhores exemplos atuais são: Ciro Gomes (no quesito previdência, especificamente), Jair Bolsonaro (no quesito pandemia, especificamente) e Luiz Inácio Lula da Silva (no quesito corrupção, especificamente). Na verdade, mentir como estilo de vida é visto como patologia – mitomania é o nome científico dessa doença. Entretanto, o que vemos no cenário político está muito mais ligado a uma postura inescrupulosa, em que a teoria da conspiração, o boato e a informação inventada são utilizados de caso pensado e em benefício próprio a fim de se obter mais poder.
Boatos e mentiras são utilizados a torto e a direito quando o objetivo é manter o status quo de uma situação improdutiva, causar medo nas pessoas, autopromoção ou difamar algo/alguém. Hoje em dia, não importa mais se o fato é verossímil, se os dados que você possui são válidos, se as intenções para falar ou agir são genuínas. O que importa é a forma como se conta uma história, como se defende uma ideia ou como se acusa algo/alguma coisa. É nisso que as fake news se tornam úteis. Mentir com firmeza e autoridade tem se tornado mais aplaudido do que saber ou propagar uma verdade, ainda que se duvide dela.
Para sermos pessoas fora da curva, é preciso que abandonemos essa mentalidade antiverdade que tem pairado sobre e em nós. Não compartilhar notícias falsas ou boatos passa, antes de tudo, por desenvolvermos uma autoeducação que nos ajude a filtrar o que tem aparência de verdade, mas que no fundo é mentira. Não acreditar cegamente no que vemos e ouvimos também é essencial para a formação de um indivíduo que se preocupa com a verdade. Meios de comunicação são úteis para nos informar, mas precisamos separar na notícia o que é dado verossímil, e fatos reais (ainda que indesejáveis), do que é mera opinião jornalística melindrosa.
Em terra de tantas fake news, boatos e teorias da conspiração, nunca foi tão necessário se apegar à Verdade no momento atual!
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