Mãe apontou esconderijo de aluno que matou professor em Valparaíso

Rafaela Felicciano/Metrópoles.

Rapaz foi achado em cima de uma árvore no Pedregal, no Novo Gama. Ele desceu, abraçou a mãe e seguiu para a delegacia

Menos de 24 horas depois de entrar na Escola Estadual Céu Azul, em Valparaíso (GO), no Entorno do Distrito Federal, e disparar dois tiros contra o coordenador do colégio Júlio Cesar Barroso de Sousa, 41, o adolescente de 17 anos foi apreendido. Segundo a Polícia Civil de Goiás, a própria mãe indicou onde ele estava.

Mesmo abalada, ela levou os policiais até o esconderijo do rapaz, que é aluno do segundo ano do ensino médio da escola. Por volta das 12h30 desta quarta-feira (01/05/2019), ele foi achado em cima de uma árvore, na casa de uma conhecida da família dele, no Pedregal, Novo Gama (GO). A mulher pediu e o estudante se entregou.

Ao assumir o plantão às 9h desta quarta-feira (01/05/2019), o delegado Rafael Pareja decidiu buscar a ajuda da mãe do adolescente. “Fui até a casa dela. Ela estava com muito medo e chorava muito. Dei minha palavra de que ele seria apreendido sem constrangimentos e com a integridade física preservada”, contou o responsável pela investigação.

Confiando no delegado, a mulher contou que o filho estava escondido em uma casa no Pedregal. “Ela foi até ele, que desceu. Os dois trocaram um abraço e o rapaz se entregou”, relatou Pareja. O menino passará a noite desta quarta na delegacia do Valparaíso. Na quinta-feira (02/05/2019), será apresentado ao juiz e promotor da Vara da Infância e da Juventude. Na sequência, será encaminhado para um centro de internação de menores.

De acordo com o delegado, o jovem disse que tudo começou a partir de um desentendimento com o professor. “Ele contou que os dois teriam batido boca. O adolescente teria tido uma discussão com outra professora e a xingou. Segundo o garoto, o professor teria sido rude e o ‘enxotado’ da escola”, relatou Pareja.

A polícia não encontrou a arma do crime e quer saber se o acusado teve ajuda para cometer o assassinato. O rapaz estudava no segundo ano do ensino médio. Ele entrou na escola, uniformizado e com um revólver na cintura, por volta das 15h de terça-feira (30/04/2019) e executou a vítima, a sangue frio.

No momento do crime, os estudantes saíam das salas para o intervalo. Houve pânico, corre-corre e gritaria. Muitos se esconderam dentro das salas de aula e chegaram a pensar que se tratava de um ataque como o de Suzano, em São Paulo. Outros deixaram o colégio pela porta principal, que fica ao lado de uma feira popular do município goiano, localizado a 35 km de Brasília.

Júlio Cesar, a vítima, era casado e deixa dois filhos, de 6 e 7 anos.

Testemunhas confirmaram que o estudante teve uma discussão com uma professora na manhã de terça-feira (30/04/2019). Após saber que o garoto xingou a docente, o coordenador Júlio chamou a atenção do garoto – disse que ele seria transferido. O adolescente retrucou: “Isso não vai ficar assim. Você não sabe com quem está mexendo”.

Em seguida, deixou a escola. Voltou à tarde. Como estava uniformizado, conseguiu entrar na instituição de ensino. Logo após, invadiu a sala dos professores e teve uma breve discussão com a vítima. Minutos depois, o estudante disparou contra o coordenador.

Segundo o delegado Rafael Abrão, titular do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) de Valparaíso, primeiro o atirador acertou a cintura de Júlio Cesar, pelas costas. A vítima correu e caiu. Em seguida, levou um tiro na cabeça quando já estava no chão. À curta distância. Outros dois disparos foram feitos, mas não teriam atingido o educador.

A comunidade escolar se comoveu com a tragédia

“Desespero”
Um aluno do sétimo ano do ensino médio disse que estava no galpão ao lado da sala dos docentes na hora. “Bateu o sinal para a troca de professores. Eu estava na aula de educação física e ouvi os tiros.” Ainda de acordo com o rapaz, foram momentos de desespero. “A princípio, achei que era brincadeira, mas, quando todos os professores correram para o galpão, vi que era sério”, relatou.

Outro estudante, do oitavo ano, diz ter visto o coordenador minutos antes do assassinato. “A gente estava na aula de matemática e ele passou para recolher nossos trabalhos. Gente boa, falava com todo mundo. Uma pena”, lamentou.

No momento do crime, ele estava no portão da escola. “Ninguém sabia direito o que aconteceu. Foi só uma correria. Os alunos não têm acesso ao portão de trás, então era muita gente para uma saída.”

Ao ouvir os disparos, uma estudante disse ter alertado a uma professora que ainda estava em sala de aula. A docente teria achado que se tratava de bombinha. Quando saiu, deu de cara com uma cena chocante. O professor estava caído no chão, ensanguentado. Socorristas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ainda tentaram reanimá-lo, em vão.

Manifestação
Um dia depois do assassinato, professores do centro de ensino se reuniram em frente ao colégio para prestar homenagens à vítima e pedir mais segurança nas instituições escolares da região. Muito emocionados e vestidos de preto, em sinal de luto, lembraram os últimos momentos do colega e o terror que passaram na tarde de terça-feira (30/04/2019).

Professores pedem mais segurança.

A professora de artes visuais Maria Florência Benitez, 57, disse que foi uma das primeiras a ver o coordenador caído no chão. “Estava entrando em sala quando ouvi quatro disparos. Vi de longe o pé dele e achei que ele ainda estava vivo. Saí correndo e, ao entrar na sala dos professores, o Júlio estava agonizando”, contou.

A educadora disse que ficou ao lado do colega, segurou a mão dele e pediu para que não se mexesse. “A cena ficará marcada para sempre na minha cabeça. O Júlio Cesar era um professor íntegro, sereno. Muito querido e reservado. Perdemos um grande companheiro”, destacou.

A coordenadora pedagógica Aline Arantes, 37, trabalhava lado a lado com a vítima. “Um cara tranquilo que jamais levantou a voz para alguém. Uma excelente pessoa. Ficamos muito surpresos. O aluno tinha um perfil intimidador, mas nunca pensamos que isso poderia acontecer aqui. Estamos muito abalados”, pontuou.

Aline clama por segurança. “Se tivéssemos, isso não teria ocorrido. Um aluno jamais pode entrar em uma escola armado. Queremos respeito. Temos medo. Nos sentimos ameaçados a todo momento. Até mesmo por isso não levamos em consideração o fato de o aluno ter sido ríspido com o Júlio. Isso nunca tinha ocorrido aqui. Temos uma clientela difícil, mas não imaginaríamos que chegaria a esse ponto”, salientou.

A professora Simonilva Alves Soares, 46, dá aula em outro município goiano, mas já ocupou o cargo de tutora, em 2018, no Colégio Estadual Céu Azul. “Ficava responsável por fazer os relatórios com as demandas, além de mediar os conflitos e solucionar os problemas na escola. O Júlio assumiu o meu lugar em agosto do ano passado, quando não aguentei e pedi para sair”, disse.

Conforme relato da docente, a outra diretora costumava dizer que a escola era uma “bomba-relógio”. “O Júlio veio de Águas Lindas de Goiás para dar continuidade ao meu trabalho e, infelizmente, não teve a mesma sorte que eu, acabou falecendo aqui. A segurança sempre foi frágil”, contou.