Mais perigosa da Bahia, barragem em Jacobina agora tem sirenes
Local terá primeiro simulado de emergência de barragens do estado.
Apontada como mais perigosa da Bahia, a barragem de Jacobina agora tem sirenes, adquiridas após reunião com o Ministério Público no final de janeiro. No próximo dia 22, o local terá um simulado de emergência na barragem administrada pela Jacobina Mineração e Comércio/Yamana Golden. O Ministério Público da Bahia informou que irá acompanhar o treinamento, enviando o promotor de Justiça Pablo Almeida. Será o primeiro simulado de barragens no estado.
Na véspera, dia 21, o promotor vai participar de treinamento que a JMC fará com instituições e representantes da comunidade. "O MP irá avaliar, juntamente com a empresa e os demais órgãos públicos, as oportunidades de melhorias para atendimento de eventuais emergências”, diz Pablo, em nota divulgada pelo Ministério Público.
O simulado estava previsto para dezembro, mas as chuvas no município e posterior decreto de situação de emergência fizeram com que fosse suspenso. Segundo o MP, a nova data para a atividade foi definida com a empresa antes do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, que deixou 150 mortos - há ainda 184 desaparecidos. Em setembro, a Central de Apoio Técnico (Ceat), do MP, fez inspeção no local.
No dia 22 de janeiro, o promotor de Justiça esteve novamente no complexo para participar de reunião e inspecionou as duas barragens de rejeitos da empresa. Após os encontros, foram adquiridas sirenes de emergência para implantação no local, em continuidade ao trabalho de sinalização das áreas de risco e pontos de encontro. Não há informação se as sirenes já foram instaladas.
Segundo o promotor, agora deve-se também retomar negociações sobre a realocação de famílias que vivem em áreas de risco maior. Diz também que a empresa deve dar mais transparência ao plano de emergência, divulgando os dados de monitoramento das barragens para a população, explicando áreas mais críticas e rotas de fuga.
O promotor de Justiça solicitou ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) a adoção de algumas medidas, dentre elas que realize fiscalizações ambientais no interior e nos arredores da empresa para identificação de danos ambientais, bem como estabeleça cronograma de fiscalização, pelo menos mensal no local.
Perigo
Das 34 barragens de rejeitos de mineração na Bahia registradas junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), as de Jacobina, de minério de ouro, causariam mais estragos, em caso de rompimento.
Em cidades como Jacobina, as notícias sobre a tragédia em Brumadinho, em Minas Gerais, não provocam apenas consternação. A cada atualização sobre o rompimento da barragem, que deixou pelo menos 65 mortos e 279 desaparecidos, mais temor.
Jacobina tem duas barragens de rejeitos de mineração, assim como a que rompeu em Brumadinho. Em todo o estado, são pelo menos 34, de acordo com a última lista publicada pela Agência Nacional de Mineração (ANM), divulgada este mês. No levantamento, há 33 estruturas localizadas. Além delas, existe, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), uma barragem para rejeitos da extração de manganês.
Só que as de Jacobina seriam as mais preocupantes delas – justamente por serem parecidas com a de Brumadinho, localizadas em regiões mais altas, o que torna a queda do material mais violenta do que se fosse em um terreno plano.
Além disso, há outra semelhança. De acordo com o engenheiro de minas José Baptista de Oliveira Júnior, professor da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jacobina e Brumadinho têm em comum o fato de terem barragens construídas com os próprios rejeitos.
“Além disso, a jusante (o lado em direção à foz) da de Jacobina está em um vale muito grande e ainda há muitas pessoas que moram lá, apesar da empresa ter comprado terrenos e casas e indenizado esse pessoal para morar em outro lugar, exatamente com a preocupação com a possibilidade de romper. Mas nem todo mundo saiu”, explica o professor, em entrevista ao CORREIO.
Embora existam semelhanças, as barragens também apresentam diferenças significativas. A de Brumadinho é feita com alteamento a montante, enquanto as de Jacobina têm alteamento a jusante. O alteamento a montante é o método mais antigo e que ainda é o mais comum. Nesse sistema, a barragem vai crescendo - com os próprios rejeitos - aos poucos. É mais barata e mais rápida para ser construída, mas é bem mais instável. Há, ainda, a possibilidade de liquefação.
Já a de Jacobina exige mais material de construção para erguer uma parede de contenção. É um método mais seguro, mais resistente a atividades sísmicas, mas é mais caro, devido à quantidade de material necessário.
Mesmo assim, a maioria das barragens de rejeitos da Bahia é considerada mais segura do que as de Jacobina, segundo o professor José Baptista de Oliveira Júnior. Isso porque a maior parte delas foi erguida com outro método construtivo: são barragens de contenção de rejeitos. É o caso da de Itagibá, no Sul do estado. Os riscos, porém, sempre vão existir.
“Na Bahia, não temos motivo para pânico. Não posso botar a mão no fogo por ninguém. Agora, dentro do que nós conhecemos, dentro dos tipos de barragem, é mais difícil acontecer rompimento. Mas não quer dizer que não possa acontecer”, pondera.
O gerente geral da mineradora Yamana Golden em Jacobina, Sandro Magalhães, afastou o risco de um acidente. A empresa informou, por meio de nota, que a barragem B1 está inativa desde 2011 e a B2, ativa desde 2011, atualmente utiliza 24% de sua capacidade total.
O prefeito Luciano Pinheiro destacou que o município deve investir R$ 1,5 milhão para instalar sirenes para evacuação, em caso de risco.
Na Bahia, há precedentes de rompimento de barragens de água. Em maio de 1985, a Barragem Santa Helena, em Camaçari, rompeu após seguidos dias de chuva. O governo do estado vinha retirando os moradores do local, mas, ainda assim, pelo menos 100 famílias tiveram suas casas atingidas e cerca de cinco mil ficaram desabrigadas.
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