Não existe tempo ruim para o trabalho, só pessoas ruins que impedem o bom trabalho
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | Ensinar os filhos a tornarem-se adultos responsáveis tem se tornado cada vez mais difícil, ainda mais quando se restringe que crianças exerçam certas atividades que configuram trabalho. Para o Estado, é normal a criança passar o horário depois da escola só brincando, estudando, assistindo TV ou dormindo, enquanto é crime fazê-la passar esse mesmo horário ajudando o pai nos negócios da família. Para o Estado, é normal um adolescente de 16 anos ter consciência para decidir em quem votar, enquanto é um atentado ao menor responsabilizá-lo por crimes hediondos em que de fato ele confirma que cometeu.
A criança que passa boa parte da infância apenas achando que tal etapa de sua vida se reserva ao escopo de brincar, estudar e dormir, atingirá uma adolescência e juventude com resquícios de imaturidade. Em contrapartida, crianças que começam o seu próprio negócio ou que auxiliam os pais em determinados trabalhos largam na frente no mercado de trabalho futuro. O problema é que para o Estado o indivíduo deve viver em um tipo de casta etária, em que criança deve ser criança, ou seja, não deve se preocupar em trabalhar - só em aproveitar a vida. Com isso, joga-se num mesmo balaio todos os infantes, como se todos se desenvolvessem do mesmo jeito, e assim, alguém que possui essa peculiaridade para os negócios deixa de colocar em prática suas ideias só por que – segundo o Estado – se assim ele o fizer, deixará de ser criança.
É de conhecimento de muitos que em alguns países os pais ajudam seus filhos a organizar barracas para venda de limonadas, cujas ideias acabam partindo das próprias crianças. Com isso, os pais passam a ensinar seus filhos conceitos básicos de empreendedorismo, técnica de vendas, organização financeira, atendimento e relacionamento e administração como um todo. Achar que a educação escolar, seja ela privada ou pública, dará esses insights para as crianças é como confiar de que o seu carro irá ligar só por que o mecânico disse pra você falar abracadabra.
No Brasil, uma criança de 8 anos que estuda pela manhã e que ajuda o pai durante três horas à tarde vendendo água no sinal é crime, sendo passível até de o pai perder a guarda da criança. Para o Estado, é melhor que o pai a deixe em alguma creche à tarde, “brincando” e de preferência sem dar trabalho para as monitoras da instituição, do que esse pai a levar para o sinal e ajudá-lo a vender aquilo que sustenta a família e, de quebra, ensinando ao filho que o trabalho enobrece o homem.
Da mesma forma, um pai que pede ao seu filho adolescente para digitar relatórios e outros documentos nas férias, comprometendo-se a pagá-lo por cada dia trabalhado, também pode ser mal visto pelo Estado, talvez até como explorador, já que o adolescente deixaria de aproveitar o seu período mais esperado para ser “escravizado” pelo genitor, conquanto ele seja remunerado pelo dia trabalhado. Para o Estado, adolescente só trabalha se for como “jovem aprendiz”, com direitos muito bem garantidos - já vai se acostumando com as leis trabalhistas para sempre exigir direitos e garantias antes de começar no emprego -, mas nunca como colaborador do próprio pai ou como alguém que inicia o próprio negócio.
Enquanto políticos demonizam pais e outros empregadores que dão oportunidades para jovens e adolescentes num primeiro ofício, mesmo que tal trabalho não comprometa seus horários de estudos, estes mesmos políticos julgam fazer um bem a esses jovens quando dão a eles uma carta branca – que se chama voto – para decidir quem conduzirá o seu país, estado ou município. Para esses políticos, o jovem não tem condição de decidir se as condições do trabalho oferecido são boas ou não, embora tenha condições de decidir no voto os rumos de uma localidade. É a canalhice em pessoa.
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