O melhor meio para convencer as massas à servidão coletiva: hipocrisia ideológica
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | Um dos textos que escrevi para o Pagina Revista no ano passado foi sobre a hipocrisia que assolava (e ainda assola) aqueles que diziam ser os arautos de determinadas causas, militâncias e ativismos dos mais variados tipos. Nota-se isso desde o ambientalista, que para ir à padaria da esquina precisa estar no seu automóvel emitindo gases poluentes, até os próprios críticos do capitalismo, que utilizam produtos oriundos de empresas situadas em países com esse sistema para tentar convencer as massas ignorantes de que um sistema central é melhor para todos.
Da mesma forma que quando você retira água de uma fonte e ela repõe simultaneamente o que foi retirado, assim o é com a propagação dessas hipocrisias quando elas são expostas e denunciadas. Por mais que apresentemos os equívocos nos pensamentos de tais hipócritas, eles insistem em permanecer com seus ideais, apenas mudando palavras ou invertendo o sentido do que querem dizer quando falam imperativamente para que as pessoas façam o que eles mesmos não fazem.
Nos últimos meses uma dessas figuras hipócritas foi o ex-deputado (e ex-BBB) Jean Wyllys. O ex-parlamentar, que é radicalmente atuante pelas causas homoafetivas, também é um saudoso admirador do regime cubano, e de seus revolucionários, que – tragicamente – não toleram homossexuais. Ele também sempre demonstrou apreço e consideração pelas repúblicas islâmicas, conquanto as leis de tais países sejam tão severas contra homossexuais.
Mais recentemente, outra façanha do ex-parlamentar veio à tona. Ele fazia parte do PSOL, partido que leva em seu nome os termos socialismo e “liberdade”, conquanto historicamente, economicamente e politicamente os dois nunca se coadunaram. As próprias pautas que o partido, e seus correligionários, defendem tem muito mais a ver com socialismo do que com liberdade, desde a insistência em políticas assistencialistas de combate à pobreza (algo que as escolas liberais de pensamento econômico já demonstraram por A mais B que só ameniza a situação das pessoas, mas não as torna de fato prósperas, autônomas ou provê crescimento econômico ao país) até a defesa por mais atuação estatal no mercado e de políticas compulsórias na educação – defesas que mais têm a ver com coerção do que voluntariedade.
O histórico do partido é de ode a ditaduras e ditadores, conquanto os integrantes do partido sempre se refiram a tais tiranias como “democracias”. No rol desses países estão Cuba e, mais recentemente, a Venezuela. O caos venezuelano atingiu índices tão alarmantes de desumanidade que chegou ao ponto de o próprio Wyllys “criticar” o regime, quase criando um racha no partido.
Pois bem, o ex-parlamentar acabou abrindo mão de seu cargo de deputado federal, deflagrou uma campanha de que estava sofrendo perseguição política e que, por isso, achava melhor abdicar do mandato e buscar “asilo político” em outro país. O ferrenho defensor da ditadura e do socialismo cubano, por incrível que pareça, não quis se asilar no “paraíso castrista” (nem tampouco fazer seu doutorado por lá), mas sim em algum país europeu. O escolhido da vez foi a Alemanha.
A título de conhecimento, a Alemanha, segundo dados do Índice de Liberdade Econômica 2019, que mede os níveis de liberdade econômica envolvendo segurança jurídica, tamanho do governo, eficiência regulatória e abertura de mercado, figura entre as nações mais livres do globo. Cuba, por outro lado, figura como uma das mais reprimidas, junto com Coreia do Norte, Venezuela e Congo. O mais interessante nesse índice é ver tantos países prósperos no topo do ranking com vieses político e econômico totalmente diferentes daqueles que o partido anterior do ex-parlamentar defende.
As últimas notícias sobre o nobre asilado diziam que ele agora irá lecionar numa universidade americana. Ou seja, o que podemos constatar novamente é que líderes do referido partido defendem o socialismo da sua sigla para os reles mortais, enquanto eles mesmos se esbaldam em outros países com a liberdade que só o capitalismo pode ofertar. É o pináculo da hipocrisia ideológica e política.
É justamente esse tipo de hipocrisia que faz tantas pessoas serem facilmente enganadas, roubadas e subvertidas pelos piores ideais políticos, e, com isso, se rebaixarem aos ditames que certas personalidades públicas defendem como se fosse uma busca consensual e majoritária.
Os casos de políticos que defendem mais e mais regulação, bem como subsídios a empresas nacionais ineficientes, propagando reservas de mercados aos mais diversos setores econômicos do país, se amontoam dia após dia. Qual não é a surpresa quando sabemos que muitos deles passam suas férias em algum país com livre mercado e liberdade econômica melhor do que o país em que exercem seus mandatos. Essa hipocrisia política parece nunca ter fim. Mudam-se as peças e os atores, mas a mentalidade, em sua maioria, permanece.
Não só políticos, mas até mesmo membros do judiciário e de cortes superiores vivem de amores por uma Constituição que mais prega direitos do que deveres, mas não deixam de visitar e passar férias em países que não possuem ativismo jurídico e dispõe de constituições mais enxutas do que a nossa. Para esses nobres magistrados, a Constituição austera do país visitado é uma utopia para o país em que eles interpretam as leis com malabarismos e (muitas vezes) até legislam por conta própria. Com esse tipo de hipocrisia, seguem sendo os senhores da lei, confabulando para que as leis se sobreponham a qualquer senso de moralidade oriundo do Direito Natural, conquanto eles mesmos não respeitem tais leis quando se voltam contra eles.
Quando deputados de partidos como o PSOL vão à tribuna defender taxação de grandes fortunas ou redistribuição de renda de ricos para pobres – conquanto eles mesmos já façam parte também da pequena parcela dos considerados ricos por conta dos altos salários do cargo, enquanto mantém inúmeros assessores em seu círculo partidário e possuam aposentadorias especiais –, o que eles estão dizendo é que os reles mortais não podem trabalhar com afinco e chegar um dia a se tornar um grande empresário – já que essa condição para eles (os deputados) é ultrajante face à grande fatia de pobres que há no país –, mas que devem confiar suas vidas (e votos) aos parlamentares para que eles, ganhando gordos salários para atravancar o crescimento econômico do país e dificultar a vida de quem quer de fato trabalhar e subir na vida, sigam perpetuando sua hipocrisia ideológica.
O hipócrita ideológico tenta sempre convencer as massas com malabarismos retóricos e expressões aparentemente verdadeiras, apelando muitas vezes para estatísticas fraudulentas, sentimentalismos tóxicos e dados históricos falaciosos – tudo feito com o único objetivo de manter o velho ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. A intenção sempre é conservar no cabresto da ignorância e do “contentamento” medíocre aqueles que os mantêm no poder ou são subservientes à sua autoridade, nem que para isso assumam um caráter populista, demagógico e, acima de tudo, coletivista – ingredientes tão bem utilizados para se tomar decisões simplistas, mas redondamente erradas e que causam problemas ainda maiores para aqueles que possuem bom senso.
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