O Papa é pop

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Francisco é diferente, a começar pela sua origem latina, alegre, sendo considerado um progressista, quase um revolucionário...

GUILHERME LAPA | Bastou o Papa Francisco anunciar que não via problema em casais do mesmo sexo receberem a benção, que a iniciativa vem sendo contestada por diversos setores conservadores da igreja católica. Não podia ser diferente para uma instituição calcada na tradição secular e nos dogmas intangíveis que ultrapassam gerações sem qualquer perspectiva de mudança ao longo do tempo.

Mas o papa está certo. Na verdade, desde que assumiu o papado, não vi uma só posição de Francisco que pudesse abalar o conceito que tenho dele. A primeira impressão é a que fica, costumamos dizer assim, e desde a vinda dele ao Brasil percebi que é muito diferente dos demais. A começar por sua simplicidade, ao negar uma vida luxuosa, formada, dentre outros costumes, pelo uso de sapatos de fino acabamento, preferindo continuar usando os sapatos pretos feitos pelo mesmo sapateiro argentino há mais de 40 anos.

Esse é apenas uma das diferenças de Francisco para Bento XVI, reconhecidamente um papa retrógrado, avesso à renovação, sempre hostil a qualquer mudança. Francisco é diferente, a começar pela sua origem latina, alegre, sendo considerado um progressista, quase um revolucionário, em nítido contraste com o seu antecessor. Bom para o mundo ter um papa assim.

Apesar da limitação do seu poder desde que se dissociou da realeza, a igreja católica mantém o seu status de mais poderosa religião em todo o mundo, com cerca de um bilhão e quatrocentos mil católicos, capaz de induzir o seu pensamento não somente a esses, mas a quase todos os habitantes do planeta, devido a sua tradição secular, o que torna ainda mais relevante decisões como a recente permissão da benção a casais homoafetivos.

Verdade que isso não resolve inteiramente o problema da aceitação e do respeito que toda e qualquer pessoa deve receber, mas é um grande passo para isso ocorrer, sabendo que muito ainda tem que ser feito. Apesar da mudança louvável, é preciso reconhecer que o ranço conservadorista ainda persiste, e na mesma resolução que permitiu a benção, ainda consta a proibição para qualquer ritualização que possa imitar o matrimônio.

Ou seja, o padre poderá dar a benção a um casal homoafetivo, mas não poderia consagrar a união entre eles, porque ainda é considerada algo irregular. Parece contraditório, e é mesmo. Seria como se você convidasse alguém para sua casa, mas a proibisse de sentar-se no sofá da sala ou bebesse água da sua geladeira.

Apesar disso, já podemos considerar como um grande passo. Essa nova orientação chamou a atenção do mundo porque vai de encontro à doutrina da igreja católica de condenar a união homossexual, sendo um dos maiores avanços na aproximação de fiéis homossexuais, que há décadas exigem mudanças e modernização na religião, afinal, homossexuais, heterossexuais, ou não, são apenas designações de uma espécie infinitamente maior, a de ser humano, e como tal, merecedora do respeito de todos.