O prazer de ser ignorante à realidade e aos fatos
Imagem ilustrativa.
INALDO BRITO | “[...] quanto mais o homem se aproxima da ruína, mais estúpida se torna sua compreensão das coisas. A destruição do ser espiritual precede a destruição das muralhas do templo.” Richard M. Weaver
Nós temos a vaga noção de que, quanto mais tecnológicos formos, mais informados e desenvolvidos seremos. Todavia, o que vimos nessas últimas duas décadas foi um recrudescimento do pensamento humano, bem como do seu conhecimento sobre os fundamentos mais básicos da civilização. Em muitos países, sobretudo nos de Terceiro Mundo, por exemplo, crianças e jovens se formam sem sequer saberem ler direito, que dirá interpretar e analisar fatos!
Conhecer o nosso passado é importante para não cometermos erros no presente e evitarmos equívocos futuros. No entanto, é preocupante como conseguimos replicar esses erros pretéritos utilizando-se de relativizações, eufemismos, deboche e até mesmo por puro antagonismo. Se no passado, por exemplo, a segregação racial era defendida em muitos círculos, inclusive com o respaldo da lei, impossibilitando pessoas de se sentarem ao lado de outras num banco de ônibus ou de não trabalharem num mesmo escritório, hoje, essa segregação racial transformou-se, inclusive com o respaldo da lei, em cotas raciais e comissões de heteroidentificação, cujo objetivo destas é “analisar”, por meio de um grupo de pessoas, se você pertence ou não à etnia referente à cor que você diz possuir para, aí sim, permitir a sua entrada num curso ou emprego. Errare humanum est, persevare diabolicum.
Curiosamente, durante muito tempo ouvimos dizer que o preconceito racial só poderia acabar se parássemos de julgar as pessoas pela cor de sua pele, todavia, no Brasil, para você ser aceito por faculdades ou ser aprovado num concurso público, é preciso que uma comissão heterogênea de pessoas julgue se a sua cor é, de fato, compatível com os parâmetros e tonalidades estabelecidos para aquela vaga.
Ademais, alguns de nós simpatizamos com ideologias totalitárias sem nunca termos vivido ou convivido com alguém que sofreu debaixo de regimes que utilizavam essas mesmas ideologias como controle social. Alguns partidos brasileiros ainda levam no nome termos como “socialista”, “socialismo”, “comunismo” ou “comunista”, além de possuir símbolos que se refiram a tais dogmas, e até mesmo saúdam e defendem líderes ou figuras de destaque desses regimes, sem levar em conta o rastro de destruição humana, econômica e geográfica resultantes dessas doutrinas totalitárias.
Mesmo com toda a gama de informação que temos hoje, mais rápida e praticamente instantânea, ainda há pessoas, por exemplo, que acham que a existência de partidos de cunho nazista deveria ser tolerada. Recentemente, no Brasil, um apresentador de podcast foi despedido por sugerir isso e outro colunista de uma rede de TV foi demitido por supostamente fazer uma saudação nazista em pleno jornal.
Ainda pior é o negacionismo de algumas pessoas sobre o que foi o Holocausto. Recentemente a atriz Whoopi Goldberg, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante pelo filme Ghost – do outro lado da vida, disse, em um programa de TV, que o Holocausto não aconteceu devido a um problema de raça, e sim apenas por pura desumanidade. A justificativa dessa afirmação, segundo a própria atriz, é que os judeus eram brancos, assim como os alemães, então, por isso, não envolveria um preconceito racial, o que é um absurdo total, ainda mais quando você tem conhecimento dos planos de Hitler no decorrer da Segunda Guerra em, de fato, aniquilar qualquer pessoa que não correspondesse ao padrão ariano europeu.
No que diz respeito aos judeus, Hitler demonstrou claramente seu ódio a eles, começando primeiro por ameaçá-los de expulsão da política e cultura da Alemanha, bem como da própria vida intelectual. Essas palavras se transformaram em decretos de morte posteriormente durante a guerra. Hitler, antes de se tornar o líder nazista, já culpava os judeus pela situação que não só a Alemanha atravessava, mas também pelas dificuldades financeiras que ele mesmo sofria.
Esse negacionismo de Whoopi Goldberg é muito mais reflexo de sua visão de militância radical pelos negros do que da análise histórica e antropológica da humanidade. Goldberg interpreta conflito racial olhando apenas para a cor dos algozes e vítimas. Se for uma briga entre um branco sulista do Texas e um branco sul-africano, pode haver tudo, menos conflito racial, já que os dois são brancos; agora se em vez de um branco sul-africano, for um negro do mesmo país, então essa briga não pode ser por outra coisa senão por causa da raça. Para Goldberg, o Holocausto só teria sido um crime racial se todos os judeus fossem pretos. A militância de Goldberg a deixa míope para achar que conflitos raciais só existem se for entre um branco e um negro, pouco importando as etnias de cada um.
A frase de Richard Weaver, na abertura do texto, resume bem todos esses exemplos citados anteriormente. São pessoas que se orgulham de possuir uma compreensão pobre de muitos assuntos, opinam sobre tudo, mesmo desconhecendo o que se fala, insistem em velhas receitas achando com isso que irão produzir resultados diferentes, e que ainda assim não percebem a iminência de sua própria queda moral.
Numa sociedade onde a compreensão adequada das coisas não é tratada com a importância que se deve, ainda continuará a ter os seus negacionistas, sejam eles dos gulags soviéticos, do Holocausto, da Terra redonda ou até mesmo da eficácia de vacinas; os seus pretensos combatentes do preconceito racial que utilizam a segregação e a cota como armas de confrontação; e os seus simpatizantes de ditaduras e ditadores, sejam eles presidentes ou candidatos à presidência, artistas, juristas ou até mesmo jornalistas.
Como diria Thomas Sowell: “Quando você quer ajudar as pessoas, você conta a elas a verdade. Quando você quer ajudar a si mesmo, você conta a elas o que elas querem ouvir.” O que acontece em nosso tempo parece ser um retrato vívido da postura de pessoas desse segundo grupo.
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