O que é mais importante: acabar com o vírus ou continuar politizando-o?
Imagem ilustrativa
INALDO BRITO | Recentemente o Congresso brasileiro aprovou um Projeto de Lei que autoriza a compra de vacinas contra a Covid-19 por empresas privadas com vistas a imunizar os seus empregados e familiares diretos, além de as empresas se comprometerem a fornecer ao Sistema Único de Saúde quantidade de vacinas proporcional ao número que for utilizado na vacinação de seus próprios empregados.
Dentre todas as críticas, muitas delas pertinentes, feitas às decisões que tanto o Congresso como o governo brasileiro têm tomado nesses últimos anos, a aprovação desse PL merece uma salva de palmas, pois a ampliação de duas frentes de combate à Covid-19 (uma pelo setor público, a outra pelo privado) é um assunto falado desde o começo do aumento das mortes no Brasil.
No entanto, como já ficou bem claro, o problema que enfrentamos não é apenas o vírus, mas também (e, talvez, principalmente) a politização do vírus (devo ao professor Adriano Gianturco essa constatação). Se, por um lado, quem se preocupa de fato em combater e acabar com a epidemia de casos no nosso país, ficou feliz por ouvir uma notícia como essa de as empresas terem liberdade para comprar vacinas e imunizar seus próprios empregados (implicitamente está aqui, meus caros, a preocupação com a retomada econômica), por outro lado, alguns políticos, médicos e juristas torceram o nariz para a decisão do Congresso.
Isso é bem revelador sobre a mentalidade estatista e centralizadora que paira, permeia e se apossou do nosso país. Se você fizer uma simples pesquisa na internet sobre as reações de pessoas após o PL ter sido aprovado, verá argumentos contrários à aprovação dos mais absurdos: desde parlamentar falando que os empresários não se preocupam com o bem comum ou o povo (lembrem-se: o PL se destina à compra de imunizantes por empresas para vacinar os seus próprios empregados e familiares diretos; se isso não é se preocupar com o povo, então estamos perdidos) até médica de instituto de pesquisa dizendo que o melhor mesmo para o país era seguir com o Plano Nacional de Imunização, exclusivamente pelo SUS, em vez de permitir a compra de vacinas por empresas privadas, já que tal permissão pode atrapalhar os rumos da vacinação.
Ora, desde o dia em que o Brasil teve o seu primeiro caso de contaminação, o que mais vimos nos jornais foram autoridades políticas travando guerrinhas internas sobre quem de fato conseguiria trazer uma “cura” para o povo. Governo federal e governos estaduais se digladiam até hoje, jogam a culpa um no outro sobre o aumento do número de casos e de mortes enquanto disputam os louros e aplausos quando há boas notícias sobre campanhas de prevenção e aumento do número de imunização. Isso é o que embasa a fala do Gianturco: a politização do vírus.
À medida que políticos e entidades sociais vinculadas ao poder público exigem exclusividade no método de vacinação (um tipo de monopólio), empresários e empregadores se mobilizam para criar alternativas na compra de vacinas. Enquanto de um lado vemos a pura retórica política e estatal do tipo “Defender o SUS é defender vacina para todos”, do outro vê-se uma preocupação altruísta e colaborativa para acelerar a imunização no país.
É curioso como certos políticos e figuras públicas não conseguem ver processos de parcerias, colaboração ou até mesmo divisão de cargas com o setor privado. Na concepção deles, parece que o povo (pois a maioria do povo trabalha em empresas privadas) está aí para atender aos mandos e desmandos, na base da canetada, ou pressão daqueles que foram colocados no poder por esse mesmo povo. É por isso que alguns deles não mediram esforços em apoiar a exigência de leitos em hospitais particulares (empresas privadas) nos casos de superlotação da rede pública de saúde. É como se esses indivíduos olhassem para o poder coercitivo do Estado como algo a ser usado sempre que se der na telha. O Estado é tudo; tudo para o Estado e tudo é do Estado.
Ou seja, na óptica estatista exigir insumos produzidos pelo setor privado é cabível, ainda mais em casos de calamidade. Não se pensa na colaboração; o foco é na coerção e pilhagem. Então quando o setor privado se oferece para dividir a carga que o próprio estado toma para si (e que se vangloria disso, por mais que o bom resultado nem sempre seja rápido e eficaz na sociedade, e isso quando acontece), aí não pode, é invasão de responsabilidade de esfera de poder e pode trazer maiores riscos para os rumos do nosso país. Percebe a esquizofrenia de raciocínio?
Os dados mais recentes de mortes diárias pela Covid-19 no Brasil já ultrapassaram o número espantoso de 4 mil pessoas. Novas variantes do vírus têm se desenvolvido mais rápido em intervalos de tempo curto. Apesar de sermos o terceiro país do mundo na quantidade de vacinações realizadas, ainda assim estamos aquém do esperado. Falhas ao não se assinar contratos com fornecedores o mais cedo possível, falhas no fornecimento de outros insumos, bem como no próprio gerenciamento dos materiais e verbas fornecidas, revelam que os governos (ou seja, os representantes do estado) têm deixado e muito a desejar. Uma nova frente, enfim, se abre para tentar acelerar a imunização daqueles que seguram o país nas costas, da mesma forma que Atlas fazia com o mundo, conforme a mitologia grega.
Aquele trabalhador que sai de casa antes do sol raiar e que só volta depois que ele já se pôs será beneficiado. O empresário que fornece inúmeros produtos e serviços para que a economia local possa andar será beneficiado. O SUS, que já se encontra sobrecarregado e ainda padece de inovação, será beneficiado. Os governos locais e federal terão sua imagem pública no exterior melhorada e serão beneficiados. Todos serão beneficiados, mais cedo ou mais tarde, apesar de nem todos serem vacinados ao mesmo tempo, como já acontece atualmente em qualquer lugar. Mas o que importa é que haja boas alternativas para se dividir a tarefa e multiplicar mais rápido o número de imunizados.
Não caia no discurso falacioso e sofista daqueles que olham com desprezo a compra de vacinas por empresas privadas. Eles não querem se livrar do vírus, antes, apenas politizá-lo. E quanto mais se politiza o vírus, mais pessoas continuarão morrendo. Pense nisso!
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