Políticos não precisam de troféus

Imagem ilustrativa.

INALDO BRITO | Agradecer a um político por uma obra pública, executada durante a gestão dele, utilizando os impostos que pagamos, é como aplaudir o micro-ondas todas as vezes que você esquenta sua refeição. Ambos não fazem mais do que suas obrigações. Na verdade, diria até que o micro-ondas se torna mais útil e crucial para o cidadão, haja vista que ele “trabalha” em qualquer época, diferentemente de políticos.

Quando o micro-ondas quebra, temos a opção de consertá-lo ou trocá-lo por outro rapidamente. Quando o político desempenha mal suas funções, temos que continuar pagando seu salário e ouvir ainda mais promessas ilusórias de gestão, tendo que aguardar até a próxima eleição pra ver quem será o candidato com jeito de menos corrupto ou ladrão no qual podemos votar para recomeçar o ciclo.

Independentemente do candidato, a disputa normalmente gira em torno de quem promete mais coisas impossíveis aos votantes, quem expõe e difama mais a vida particular do adversário e quem faz o maior retrospecto de obras executadas em sua gestão passada/atual. 

O narcisismo com que políticos querem ser tratados beira muitas vezes o ridículo. Podemos ver isso desde o momento em que eles tomam posse. Cerimônias suntuosas são preparadas para consolidar a entrada ou permanência de indivíduos que nada mais são (ou deveriam ser) empregados do povo. Muitos deles, diga-se de passagem, acabam estando ali apenas para arrumar uma forma de bater a carteira do cidadão (que leva o nome de "contribuição"), empurrar com a barriga para a próxima eleição os pedidos e solicitações do seu gado eleitoral e confabular com seus colegas parlamentares maneiras de atrapalhar ainda mais a vida do trabalhador (tipo, propor leis que confirmem vínculo empregatício do cidadão com empresas de aplicativos de transporte ou de entregas rápidas ou proibir a comercialização de canudos, pratos, copos e talheres de plástico).

Outro absurdo que já se tornou comum é nomear escolas, parques, hospitais, enfim, prédios públicos com o nome de políticos aposentados ou finados. O problema é que muitos desses que dão nome a tais prédios possuem parentesco com quem está no poder atualmente, seja prefeito, vereador, deputado etc. E aí, na hora da votação, o eleitor mediano inevitavelmente atrelará aquela obra pública recém inaugurada, e que leva o nome do político fulano de tal, ao candidato que é parente do homenageado. Essa tática funciona quase sempre. Finda a eleição, lá está o parente do homenageado eleito.

Infelizmente, muito do que acarreta essa condição de transformar políticos em superestrelas se deve a atitude dos próprios eleitores. O político sabe que o eleitor se anima muito mais por ouvir promessas de cargos, itens pessoais (pagamento de gás, combustível, contas de luz e água etc.) e obras faraônicas do que redução de gastos públicos, contenção de despesas discricionárias e manutenção de vias e prédios públicos.

Para cada cem eleitores sanguessugas existe um político sanguessuga. Essa é a tônica da política nacional. Embora leis tenham sido criadas para tentar intimidar a compra de votos ou o coronelismo, na prática o que aconteceu foi uma reformulação do método de suborno, chantagem e desfaçatez dos políticos, possibilitando que em muitas periferias e municípios o velho hábito do voto de cabresto continue reinando. Se já não é fácil acabar com o jeitinho brasileiro causado por políticos corruptores, torna-se ainda mais difícil quando é o próprio eleitor quem inicia a corrupção.

Eça de Queirós estava certíssimo ao dizer que “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo.” Infelizmente, nem sempre essa troca acaba sendo vantajosa. Em vez de esperar tanto tempo para se ver livre daquele político sugador de impostos, age bem o eleitor que o pressiona diariamente por resultados e atingimento de metas. Afinal de contas, eles é que são nossos empregados. 

Não se engane com os que estão fora do poder e prometem fazer a diferença ou o impossível caso vençam o pleito. Dependendo do histórico do próprio candidato e do partido o qual ele faz parte, todas as suas promessas são boias furadas, que irão fazer naufragar qualquer um que acreditou nele e nelas. No fim, os pagadores de impostos, é quem têm que fazer o trabalho que deveria ser da classe política: fiscalizar. A diferença é que não recebemos um tostão para isso, mas eles sim, e quem os paga somos nós.

Em suma, aplaudir políticos por realizarem obras ou inaugurarem prédios públicos não é sinônimo de gratidão, e sim de adulação. Ser um lambe-botas não é atestado de inteligência, mas sim de idiotice. Quando as pessoas pararem de parabenizar políticos, ou premiá-los, por realizações que nada mais são do que suas obrigações enquanto representantes do povo, quem sabe deixaremos de entregar a esses meros empregados a responsabilidade por continuarem nos dizendo o que devemos ou não comer, o que devemos ou não consumir, qual transporte devemos ou não utilizar e em qual empresa queremos ou não trabalhar.